22 fevereiro 2010

DA ASSUNÇÃO DE NOSSA SENHORA À «REFORMA AGRÁRIA» DOS COMUNISTAS EM PORTUGAL

Não há nenhuma fonte evangélica que nos relate o que terá acontecido a Maria, mãe de Jesus Cristo, depois dos acontecimentos que levaram à crucificação do filho. Em 1950, depois de já terem decorrido cerca de 1900 anos sobre eles, o Papa Pio XII resolveu o problema sem grandes receios de vir a ser desmentido: A imaculada Mãe de Deus, a sempre virgem Maria, terminado o curso da vida terrestre, foi assunta em corpo e alma à glória celestial.
Foi assim que o proclamou Pio XII na sua Constituição Apostólica Munificentissimus Deus. E quem ousaria desmentir o velho Eugénio que as coisas não se haviam passado precisamente assim, que a velhota não se esfumara por aí acima, qual fumo de lareira numa chaminé, quando quem pensasse em temerariamente opor-se-lhe e contrariá-la, à versão, incorria na indignação de Deus omnipotente e dos bem-aventurados apóstolos Pedro e Paulo?
Retocar a História sempre foi uma tarefa fascinante. Tomemos o exemplo da Reforma Agrária, que é um assunto que vai perdendo relevância¹ entre nós enquanto envelhece – já se passaram 35 anos! Mesmo assim foi um problema que se pôs com 50 anos de atraso em relação à Europa, confira-se com o mapa acima do período entre guerras (1919 a 1939), onde se marcaram as Reformas Agrárias então implementadas e fracassadas nos países da Europa de Leste.
Fruto do nosso atraso social, os comunistas apropriaram-se da expressão em 1974 e tornaram-na sinónima da colectivização da terra, o que é completamente diferente da redistribuição das terras pelos camponeses que as não têm. Nos dois casos, trata-se da expropriação de terras de latifundiários mas, a partir daí, tornam-se duas coisas distintíssimas. Prova disso, depois de 1945, a Polónia e os países bálticos tiveram uma nova Reforma Agrária, desta vez à soviética.
Foi esse tipo de concentração em kolkhozes (em Portugal eles chamaram-se UCP – unidades colectivas de produção) que permitiu aos comunistas exercer o seu controle político nas áreas rurais do Sul do país a partir de 1975, num estilo idêntico ao caciquismo que eles criticavam aos seus adversários no resto do país. Não será por as figurantes aparecerem de punhos cerrados que a fotografia abaixo deixa de ser um retrato perfeito de um Portugal atrasado e manipulado...
A aprovação da Lei da Reforma Agrária, em Julho de 1977, foi a concretização de regras legais para um processo que fosse alternativo ao modelo soviético e que os comunistas não puderam aceitar pacificamente já que lhes iria atacar as bases do seu poder regional. Simbólico do jogo semântico acima mencionado, a Reforma Agrária que foi aprovada pelo Parlamento sempre foi designado pelos comunistas como Lei Barreto (abaixo), por contraponto à deles, a verdadeira.
Retocando a história, tem piada assistir agora a um Jerónimo de Sousa falando de cátedra, como o fazia Pio XII, nas comemorações dos 35 anos da Reforma Agrária e aproveitando para proclamar como dogma de fé que ela terá sido não só uma epopeia, como um caso de sucesso. E quem temerariamente opor-se a contrariá-lo, não incorrerá na indignação de Deus omnipotente, nem da de Pedro ou da de Paulo, mas poderá ser a dos tradicionais camaradas patrulheiros da blogosfera
¹ A agricultura já representa menos de 4% do PIB.

2 comentários:

  1. Agradecendo os cumprimentos creio que esta, pelo que já li seu, e no que diz respeito aos tempos da Reforma Agrária, parece-me ser apenas uma recapitulação...

    ResponderEliminar