Durante a Segunda Guerra Mundial, o General-Conde Hans Sponeck (ao centro na fotografia) tivera o seu momento de glória em Maio de 1940 quando, à frente da 22ª Divisão Aerotransportada, contribuíra para a capitulação da Holanda em apenas quatro dias. Ferido durante a campanha e condecorado na sequência dela, Sponeck tornou-se depois desses episódios, conjuntamente com Kurt Student, um dos dois generais mais conhecidos e respeitados do corpo de elite dos pára-quedistas alemães.
Em Junho de 1941, Sponeck foi destacado para a invasão da Rússia, integrando o XI Exército alemão, o mais meridional de todos, e é aí, na Península da Crimeia, que decorrerá o episódio da sua insubordinação. Os alemães haviam invadido a Península em Setembro, entrando pelo istmo de Perecope (a Norte) que a liga por terra à Ucrânia e os soviéticos haviam-se reagrupado na cidade de Sebastopol (a Sudoeste), iniciando-se uma batalha de cerco feroz que se iria prolongar por 250 dias (entre 30 de Outubro de 1941 e 4 de Julho de 1942).
No Leste da Península, em Kerch, a proteger o resto do Exército alemão de um eventual contra-ataque soviético vindo do continente (Kavkaz) ficara apenas uma divisão de 10.000 homens sob comando de Sponeck. Em Dezembro, com parte das águas do estreito de Kerch geladas, os soviéticos tentaram, de facto, contra-atacar, conseguindo-o a 29 de Dezembro, com um desembarque na retaguarda das defesas alemãs em Kerch. Sponeck, tentando evitar o cerco das suas tropas, pediu autorização para retirar para Feodosia*.
O General Erich von Manstein (acima), o superior hierárquico imediato de Sponeck, de acordo com a Ordem Fundamental emitida por Hitler nesse Inverno (interditando qualquer cedência de território russo), proibiu-o de o fazer. Apesar disso, sob 30º negativos, as tropas de Sponeck realizaram aquela que é considerada uma das manobras militares mais difíceis de executar: uma retirada mantendo o contacto (combatendo) com o inimigo. Depois de 120 km percorridos em 72 horas, as tropas reposicionaram-se no istmo de Parpatch, a leste de Feodosia(*).
Duas outras Divisões alemãs enviadas entretanto de Sebastopol por Manstein juntaram-se-lhe, bloqueando o avanço soviético. Objectivamente, a retirada ordenada pelo General-Conde veio em auxílio da contra-manobra do superior que o havia proibido de retirar. Mau grado isso, o General-Conde Sponeck foi julgado num Tribunal Marcial presidido por Hermann Göring em Janeiro de 1942 e condenado à morte por desobediência. Foi o próprio Adolf Hitler a comutar depois aquele exagero numa pena de 6 anos de prisão(**).
Apesar de aristocrática, a tradição da cultura militar prussiana (acima, a bandeira do Reino da Prússia) sempre confiou na autonomia de julgamento dos comandantes militares para avaliarem as situações tácticas e decidirem em conformidade com elas. Neste caso, o conde Sponeck preferiu essa tradição às realidades totalitárias do nazismo que exigiam uma obediência total ao princípio do comando único (Führerprinzip). Apesar de muito frequentemente confundidos, o militarismo prussiano e o nazismo foram sempre coisas distintas...
(*) É a cidade que no mapa aparece designada por Teodosia.
(**) Na sequência do atentado contra Hitler em Julho de 1944, Sponeck acabou por ser efectivamente executado, por instruções directas de Heinrich Himmler.
No Leste da Península, em Kerch, a proteger o resto do Exército alemão de um eventual contra-ataque soviético vindo do continente (Kavkaz) ficara apenas uma divisão de 10.000 homens sob comando de Sponeck. Em Dezembro, com parte das águas do estreito de Kerch geladas, os soviéticos tentaram, de facto, contra-atacar, conseguindo-o a 29 de Dezembro, com um desembarque na retaguarda das defesas alemãs em Kerch. Sponeck, tentando evitar o cerco das suas tropas, pediu autorização para retirar para Feodosia*.
O General Erich von Manstein (acima), o superior hierárquico imediato de Sponeck, de acordo com a Ordem Fundamental emitida por Hitler nesse Inverno (interditando qualquer cedência de território russo), proibiu-o de o fazer. Apesar disso, sob 30º negativos, as tropas de Sponeck realizaram aquela que é considerada uma das manobras militares mais difíceis de executar: uma retirada mantendo o contacto (combatendo) com o inimigo. Depois de 120 km percorridos em 72 horas, as tropas reposicionaram-se no istmo de Parpatch, a leste de Feodosia(*).
Duas outras Divisões alemãs enviadas entretanto de Sebastopol por Manstein juntaram-se-lhe, bloqueando o avanço soviético. Objectivamente, a retirada ordenada pelo General-Conde veio em auxílio da contra-manobra do superior que o havia proibido de retirar. Mau grado isso, o General-Conde Sponeck foi julgado num Tribunal Marcial presidido por Hermann Göring em Janeiro de 1942 e condenado à morte por desobediência. Foi o próprio Adolf Hitler a comutar depois aquele exagero numa pena de 6 anos de prisão(**).
Apesar de aristocrática, a tradição da cultura militar prussiana (acima, a bandeira do Reino da Prússia) sempre confiou na autonomia de julgamento dos comandantes militares para avaliarem as situações tácticas e decidirem em conformidade com elas. Neste caso, o conde Sponeck preferiu essa tradição às realidades totalitárias do nazismo que exigiam uma obediência total ao princípio do comando único (Führerprinzip). Apesar de muito frequentemente confundidos, o militarismo prussiano e o nazismo foram sempre coisas distintas...
(*) É a cidade que no mapa aparece designada por Teodosia.
(**) Na sequência do atentado contra Hitler em Julho de 1944, Sponeck acabou por ser efectivamente executado, por instruções directas de Heinrich Himmler.
Mal comparada, a temática deste post faz-me recordar a situação em Goa e a teimosia do ditador.
ResponderEliminarQuerendo usar um exemplo português, talvez a decisão do então Major Coutinho e Lima de evacuar o aquartelamento do Guileje (Guiné) em 1973 seja mais ajustado.
ResponderEliminarHá uma situação táctica, uma directiva superior (na Guiné, do Comandante-Chefe, António de Spínola), uma desobediência (do Major Coutinho e Lima), uma "porrada" ao desobediente, mas, com toda a hipocrisia, aceita-se como boa a decisão do oficial punido e nada se faz para depois alterar a situação...
... Com tudo isto, esqueci-me que seria natural recomendar algum local da Internet onde se contasse o episódio da evacuação do Guileje para aqueles que não o conhecem:
ResponderEliminarhttp://senegambia.blogspot.com/2004/09/batalha-de-guileje-e-gadamael-maio-de.html
Agradeço a informação. estamos sempre a aprender.
ResponderEliminarVê Não sou só eu que aprendo! E isso não significa que a leitura não seja agradável!
ResponderEliminar:))