A Primeira Guerra Mundial teve uma espécie de intervalo político (mas não militar) durante os anos de 1916-17, que foi semelhante a uma espécie de retomar de fôlego depois de se terem esgotado todas as forças iniciais dos beligerantes, como se se avaliasse até onde poderia ir a sua determinação. A determinação da Rússia, por exemplo, com as duas Revoluções de Fevereiro e de Novembro de 1917, terminou ali. Entre os outros, houve várias sondagens para negociações em que se atingisse uma Paz negociada, como as iniciadas pela Áustria-Hungria, pelo Papa Bento XV e, a mais importante, por Woodrow Wilson (abaixo), que era o Presidente reeleito dos Estados Unidos em 1916.

O comportamento imperial arrogante do Reino Unido não recolhia grandes simpatias do outro lado do Atlântico, sustentado em atitudes como a maneira implacável como eles haviam reprimido a revolta irlandesa da Páscoa de 1916, a maneira como se permitiam violar os direitos da marinha mercante neutral (leia-se norte-americana) mesmo em mar alto, ou a maneira como se permitiam proscrever na Bolsa (mesmo a de Nova Iorque) quaisquer empresas que se soubesse negociarem, directa ou indirectamente, com qualquer das Potências Centrais. Apesar disso, a resposta dos anglo-franceses e russos à iniciativa do presidente norte-americano foi objectiva, sóbria e detalhada.

Animada pelo recente colapso da Roménia e pela captura de Bucareste (6 de Dezembro de 1916), a Alemanha anunciou que não faria antecipadamente quaisquer concessões dos territórios entretanto conquistados por si, adicionando ao documento uma proclamação enfatizando a crença numa vitória próxima. Diplomaticamente, o episódio foi um verdadeiro balde de água fria para o Departamento de Estado norte-americano. Havia evidentemente uma facção moderada na Alemanha, disposta a negociar: ainda em Julho de 1917, um deputado do Partido Centrista no Reichstag faria ali aprovar uma moção em prol da Paz baseada na manutenção da integralidade do Império alemão de 1914.

Obviamente que durante aquele conflito verificar-se-ia uma ascensão da importância estratégica relativa dos Estados Unidos. Encerrada a hipótese da Terceira Via mediadora, na Administração aperceberam-se que essa ascensão só viria a produzir efeito com a participação norte-americana directa na Guerra e, nesse caso, nem se colocavam dúvidas sobre o lado que os Estados Unidos iriam escolher. Faltava tratar das antipatias da opinião pública norte-americana e das promessas eleitorais de Woodrow Wilson. Uma enorme publicidade dada a um telegrama diplomático secreto (o telegrama Zimmermann, abaixo), em que se soube que a Alemanha prometia apoiar o México numa guerra contra os Estados Unidos, resolveu a questão.

Desde há muito que a Alemanha Imperial era conhecida por glorificar o poder do aço mas o que notoriamente lhe faltou em todo este episódio que acabou por vir a precipitar a sua derrota foi mesmo a falta da subtileza do veludo…
* OHL: em alemão, Oberste Heeresleitung, Comando Supremo do Exército.
Subtileza de veludo terá tido a alemã Angela Merkel ao conseguir transformar uma eventual derrota de Berlim na derrota de Lisboa.
ResponderEliminarCaro Professor,
ResponderEliminarO texto de hoje, mostra como é possível aliar conhecimento, poder de sintese e qb de objectividade.
Excelente.
Um abraço e bom fim de semana.
PS Dragão : pelo menos, podemos sonhar até Agosto...
Mesquita Alves
Perdoar-me-ão a liberdade de ter transferido para aqui uma mensagem recebida na outra caixa do correio.
ResponderEliminarPrefiro agradecê-la, assim como ao comentário do JRD, mais em público.