Depois de se ter acalmado a controvérsia à volta do Acordo Ortográfico, e não me sentindo habilitado a pronunciar sobre a questão dos benefícios ou malefícios da sua aprovação, só quero deixar registada a minha perplexidade por alguns blogues que nela participaram, onde, ao mesmo tempo que contém postes em que praticamente se argumenta (?) com a essência do portuguesismo, e como ela poderá depender da retenção desta ou daquela consoante muda numa determinada palavra, esses postes nacionalistas, repletos de amor pela língua pátria, conseguem depois coexistir alegremente no mesmo blogue com outros, escritos total ou quase totalmente num idioma estrangeiro… Um exemplo: aqui e aqui.
Aliás, não resisto a contar uma das melhores exibições dessa erudição linguística, que tive oportunidade de ler aqui pela blogosfera: está associada à descrição de uma visita de André Malraux, Ministro da Cultura francês nos anos 60 à China e a uma conversa com o Primeiro-Ministro chinês de então, Zhou Enlai. Quando questionado sobre o que pensava ter sido o impacto da Revolução Francesa, o blogue citava Zhou Enlai como tendo respondido (sic): too early to tell (é demasiado cedo para dizer). O que hoje ainda me intriga, a fazer fé naquele relato, terá sido a razão porque aquele comentário histórico, duma conversa travada entre um francês e um chinês, com os tradicionais tradutores a acompanhá-los, terá sido proferido assim, em inglês…
Continuando nas erudições linguísticas excessivas suponho que nenhum idioma ultrapassará o grego clássico na combinação entre a sua inutilidade prática e a sua reputação de erudição. Mesmo a sua versão moderna (démotiki), hoje falada por gregos e cipriotas, utiliza um alfabeto distinto, o que torna a sua leitura privilégio de iniciados. E é por isso o meu idioma favorito para, usando precisamente da mesma liberdade linguística dos autores de certos postes que considero mais despropositadamente estrangeirados, a aproveitar eu para comentar esses mesmos postes com o comentário do título, demonstrando quanto, usando o grego, os comentadores também podem ser de uma sofisticação ridiculamente equivalente…
* Πολύ ενδιαφέρουσα ler-se-á qualquer coisa parecida com Polu Endiaferoussa e traduz-se por Muito Interessante…
Aliás, não resisto a contar uma das melhores exibições dessa erudição linguística, que tive oportunidade de ler aqui pela blogosfera: está associada à descrição de uma visita de André Malraux, Ministro da Cultura francês nos anos 60 à China e a uma conversa com o Primeiro-Ministro chinês de então, Zhou Enlai. Quando questionado sobre o que pensava ter sido o impacto da Revolução Francesa, o blogue citava Zhou Enlai como tendo respondido (sic): too early to tell (é demasiado cedo para dizer). O que hoje ainda me intriga, a fazer fé naquele relato, terá sido a razão porque aquele comentário histórico, duma conversa travada entre um francês e um chinês, com os tradicionais tradutores a acompanhá-los, terá sido proferido assim, em inglês…
Continuando nas erudições linguísticas excessivas suponho que nenhum idioma ultrapassará o grego clássico na combinação entre a sua inutilidade prática e a sua reputação de erudição. Mesmo a sua versão moderna (démotiki), hoje falada por gregos e cipriotas, utiliza um alfabeto distinto, o que torna a sua leitura privilégio de iniciados. E é por isso o meu idioma favorito para, usando precisamente da mesma liberdade linguística dos autores de certos postes que considero mais despropositadamente estrangeirados, a aproveitar eu para comentar esses mesmos postes com o comentário do título, demonstrando quanto, usando o grego, os comentadores também podem ser de uma sofisticação ridiculamente equivalente…
* Πολύ ενδιαφέρουσα ler-se-á qualquer coisa parecida com Polu Endiaferoussa e traduz-se por Muito Interessante…
ok! e não me vi grega para entender!!
ResponderEliminar:)
Agora também falas grego!!!
ResponderEliminarSó uma curiosidade.
ResponderEliminarConhecendo a equivalência das letras consegue decifrar-se, nas ementas, muito do conteúdo dos pratos, talvez pelos numerosos vocábulos que "importámos" para o português.
Aqui entre nós, Donagata, é tudo a fingir... Como muito bem diz o Impaciente, nestes alfabetos aparentados (como é o caso deste e do cirílico) basta conhecer a equivalência das letras que fazemos um "brilharete" como "leitores". A Maria do Sol entendeu-o natural ou nacionalmente.
ResponderEliminar"só o espírito me deslumbra o espírito!"....(cito de memória) quem disse quem disse?
ResponderEliminarA mim "apeteceu-me" dizer-lho a si!
:))