21 de Abril de 1961. Dá-se em Argel um pronunciamento militar dirigido por quatro generais franceses contra a eventualidade da concessão da independência à Argélia, então colónia francesa (da esquerda para a direita: Edmond Jouhaud, Raoul Salan, Maurice Challe e André Zeller). Sendo uma contagem de espingardas, estes generais africanos não estavam dispostos a levar a sua insubordinação contra a legalidade democrática até ao ponto de desencadear uma guerra civil, como o haviam feito 25 anos antes os seus homólogos espanhóis. O confronto travar-se-á realmente nas ondas hertzianas: a ORTF em Paris, contra a Radio Argel. Na capital, e porque o assunto se apresentava como uma coisa entre generais, Charles de Gaulle fardar-se-á também de general para comparecer diante das câmaras de televisão e ali desancar de uma forma desabusada os generais insurrectos, tratando-os por um «quarteto de generais reformados»*.
Em privado, e depois de se assegurar da neutralização das cumplicidades que os insurrectos disporiam na metrópole (como as unidades sob as ordens dos generais Faure e Vanuxem), o presidente comentava: «o que é grave em tudo isto é que não é para ser levado a sério»**. Mas, para além dos comentários sempre inspirados que são atribuídos a de Gaulle, o episódio arrastou-se por cinco dias (21-26 Abril), até à rendição dos insurrectos. A maior parte do contingente militar francês na Argélia, formado por quem cumpria o serviço militar obrigatório, havia-se recusado a seguir os generais. A arma secreta de de Gaulle fora o transistor. No final, 220 oficiais foram demitidos dos seus comandos, 114 foram levados a tribunal militar, 3 unidades históricas do exército francês foram dissolvidas. E, como veremos dentro de dias, mesmo o armamento nuclear que os franceses desenvolvia então no Sahara foi detonado precipitada e preventivamente para o retirar do alcance dos insurrectos.
* «Un quarteron de généraux en retraite» no original. A palavra francesa «quarteron" é bastante mais depreciativa do que a tradução recomendada de quarteto.
** «Ce qui est grave en cette affaire, c'est qu'elle n'est pas sérieuse».
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