15 abril 2021

ASTÉRIX E A SOPA DE CEBOLA

A questão da sopa de cebola que estivera no caldeirão antes de ser substituída por sestércios é um tema recorrente da aventura «Astérix e o Caldeirão». Obélix chega ao fim da aventura sem perceber qual a importância relativa de um e de outro conteúdo. Pode haver várias maneiras de viver uma aventura, e a de Obélix não implicava necessariamente a compreensão completa do que estava a acontecer à sua volta. Como se lê na antecâmara de todos os álbuns de aventuras de Astérix, na apresentação de Obélix: (Para ele) «Contanto que haja javalis e grandes cenas de pancadaria...» Todos nos rimos da simplicidade de Obélix, mas o seu exemplo está mais difundido do que aquilo que se possa pensar...
Por exemplo, neste assunto do julgamento de José Sócrates parece-me haver também duas maneiras de olhar para o «conteúdo do caldeirão». A «sopa de cebola» é o próprio José Sócrates, um escroque, uma criatura detestável que conspurca tudo o que o rodeia. Mas o «cheiro da sopa» não nos pode nem deve fazer esquecer aquilo que me parece mais importante extrair do processo, «os sestércios»: a constatação da colossal mediocridade do nosso aparelho judicial, nomeadamente a magistratura do ministério público que demorou quase sete anos numa investigação que se concretizou em milhares de páginas... e num mero punhado de acusações sustentáveis, de acordo com o entendimento do juiz encarregado de avaliar o processo. Isto quando o que estava em causa era a conduta de um ex-primeiro-ministro, o que me leva a pressupor que a acusação se tenha esmerado e «vestido o seu fatinho domingueiro». (6.728 páginas? Aqueles gajos vivem em que planeta?)
Para rematar, acrescente-se a receita da sopa de cebola (à francesa), que, ao contrário de José Sócrates, é uma boa sopa...

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