Outrora, o dia 1 de Abril era o Dia das Mentiras e era uma ocasião assinalável. Era o dia em que se procurava destrinçar nos órgãos de comunicação social qual a patranha escolhida para impingir ao público naquele dia especial em que isso era admitido, tolerado, mesmo incentivado. Havia até quem fizesse notícia das mentiras alheias, como este exemplo acima de 1 de Abril de 1981, onde o Diário de Lisboa dá um destaque à mentira pregada pelo seu colega britânico The Guardian. Mas confesso que actualmente o dia já não tem significado: todos os dias são dias das mentiras. Não é só uma, são várias as notícias mentirosas. Mas tomemos apenas este exemplo, não muito sofisticado, da publicidade descarada a uma marca de camisolas a que uma apresentadora de televisão associou o seu nome. Em título a marca é dada por sustentável. Se continuarmos a ler o artigo para compreendermos em que é que a marca é sustentável, temos que comer uma data de palha até que no final do terceiro parágrafo nos esclarecem que as camisolas são feitas com algodão orgânico. Ou seja, razão para que o cliente, sensibilizado para as questões do ambiente, se disponha a sustentar o ambiente, pagando mais por estas camisolas. Quanto mais, a notícia não esclarece, mas certamente mais do que os 20 a 30% que os custos de produções do algodão orgânico têm sobre o algodão normal. E repare-se abaixo que a notícia data de 31 de Março... A grande mentira aqui é que os outros é que mostram a sensibilidade para com as causas - aqui é a do ambiente - mas depois vêm sempre ter connosco para que sejamos nós a pagar essa sensibilidade... A sério e de verdadeiramente sustentável, a única coisa que a fotografia exibe serão os cabines que sustentam os três modelos diferentes da colecção, com «frases inspiradoras alusivas a uma vida serena e feliz». E já agora, haverá que certificarmo-nos se a madeira de que os cabides são feitos também é orgânica... que o gancho não é!
Sem comentários:
Enviar um comentário