25 de Abril de 1961. O primeiro ensaio nuclear francês realizara-se na Argélia meridional, em pleno deserto do Sahara, a 13 de Fevereiro de 1960. Outros ensaios se seguiram, a que se deram o nome de operações «Gerboise» (jerboa, em português), um pequeno roedor nocturno do deserto, de patas compridas e grandes orelhas, assaz comum na fauna do local dos testes. Cada ensaio recebia um nome de código ligeiramente diferente, a operação «Gerboise» Azul fora o ensaio original (acima), a que se seguiram a «Gerboise» Branca e a «Gerboise» Vermelha (as outras cores da bandeira francesa), todas elas antes desta operação «Gerboise» Verde de há precisamente 60 anos. Contudo, esta última diferenciou-se de todas as anteriores pela circunstância de ter sido executada à pressa. Poucos dias antes, alguns generais franceses haviam realizado um pronunciamento militar em Argel em rebelião contra as decisões de Paris e da metrópole (veja-se abaixo a notícia da época). O momento era tenso. Sem uma garantia de controle e considerada a localização do centro de ensaios na própria Argélia semi-insurrecta, as autoridades francesas legítimas decidiram detonar preventivamente a próxima arma nuclear a ensaiar, acautelando a remota hipótese (catastrófica!) de que ela pudesse vir a cair sob o controle dos generais revoltados.
E foi assim, que em português designaríamos por às três pancadas, que a operação «Gerboise» Verde arrancou. Sabe-se hoje, por exemplo, que a pilha de combustível (plutónio) que era destinada a formar a massa crítica do engenho foi transportada na noite anterior ao ensaio num prosaico Citroën 2 CV por 50 km de pistas no deserto... Não surpreenderá o leitor saber que, com tanta preparação, o ensaio se revelou tecnicamente um fiasco: a potência do engenho, que os cálculos teóricos prévios estimavam alcançar entre as 6 e as 18 mil toneladas de TNT equivalente, ficou-se por um décimo da potência esperada. Mas o mais importante fora feito: como nessa época as armas nucleares francesas se fabricavam a um ritmo artesanal, desaparecera a hipótese dos generais de Argel se apropriarem de um desses engenhos. A edição de há 60 anos do Diário de Lisboa transmitia devidamente o recado tranquilizador que o general de Gaulle pretendia dar aos seus homólogos (abaixo), comprovando, em paralelo, um dos mais sólidos princípios do jornalismo de massas: nenhum rumor é para ser levado a sério até ele ser devidamente desmentido, como acontecia com aquela sugestão (absurda!) que os acontecimentos de Argel haviam influenciado o calendário dos ensaios nucleares... Eu creio que há certas circunstâncias em que, quem produz originalmente a informação, se sente inferiorizado se não a produzir mentindo desnecessária e descaradamente, insultando no processo a inteligência daqueles a quem a informação é dirigida.
Sem comentários:
Enviar um comentário