7 de Abril de 1971. Aquilo que se pode ler na notícia do Diário de Lisboa sobre o que acontecera na embaixada da Jugoslávia em Estocolmo era pouco e era propositadamente vago. Por exemplo, já se sabia (embora a notícia não o mencione) que os «dois terroristas armados com revólveres» eram nacionalistas croatas porque os dois haviam-no proclamado audivelmente em frente às câmaras de televisão quando eram transportados algemados depois de presos (no vídeo abaixo), gritando vivas ao Estado Independente da Croácia e a Ante Pavelić. Pela concisão, notava-se que não houvera muito empenho em desenvolver a notícia. Especular sobre o que motivara a acção. E havia imensos aspectos de interesse. A escolha da embaixada entre as várias que a Jugoslávia possuía na Europa Ocidental não fora acidental: o embaixador, Vladimir Rodović, um montenegrino, era um coronel da polícia política jugoslava e dirigira um campo de concentração de presos políticos. E andava normalmente armado. Ele ainda tentou reagir aos dois assaltantes, mas estes dominaram-no e manietaram-no. Depois executaram-no, no quadro da guerra suja que se travava entre a organização terrorista croata e os serviços secretos jugoslavos. Morreria dali por uma semana. O terrorismo croata era, contudo, um assunto chato de abordar. Em primeiro lugar porque as suas acções visavam destruir a Jugoslávia e com ela, o equilíbrio europeu, e isso não interessava nada. Em segundo lugar porque a organização que promovia esse terrorismo estava historicamente conotada com o fascismo e também não convinha recordar isso. E em terceiro lugar porque o país que dava santuário a essa organização era a Espanha franquista. Além disso, o assunto ocorrera na Suécia, com quem Portugal não mantinha as melhores da relações - apoiavam as organizações nacionalistas africanas das colónias portuguesas - e onde se falava uma língua que ninguém percebia (ouça-se o vídeo abaixo...). Portanto, quanto menos se falasse do assunto, melhor: oito linhas tem a notícia. Os dois terroristas croatas vieram a ser condenados a prisão perpétua, mas depois libertados pouco mais de um ano depois do acontecimento, em Setembro de 1972, na sequência do sequestro de um avião da SAS, organizado mais uma vez pela sua organização.
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