23 de Abril de 1981. Assassinato em Palermo de Stefano Bontate, o capo local da Mafia, no dia em que fazia 42 anos. Filho de um outro capo mafioso, Francesco Paolo Bontate, dito «Don Paolino Bontà», o assassinado representava uma segunda geração de mafiosos que, como a personagem de Michael Corleone em «O Padrinho», recebera uma educação de qualidade e se esmerava em adquirir respeitabilidade social. Casara-se na alta burguesia siciliana. Falava inglês e francês. Filiara-se numa loja maçónica. Jogava ténis e criava cavalos. Mas a esmagadora maioria dos seus rendimentos provinham de actividades clandestinas, como o contrabando de cigarros e de armas, actividades cada vez mais marginalizadas pelo contrabando de opiáceos e processamento de heroína. Esta era revendida para os mercados francês e norte-americano e dessa operação resultavam lucros tão elevados que a cobiça associada irá provocar a sua morte. O mandante do assassinato é Salvatore «Totò» Riina, tem 50 anos, pertence ao clã dos Corleone (o legítimo, não o do filme...) e, não tem nada da sofisticação de Bontate, mas mostrar-se-á muito mais implacável do que ele. Este assassinato é apenas o primeiro de uma longa série deles, estimados na ordem das quatro centenas ao longo dos anos seguintes, aquilo que virá a ser conhecida como a Segunda Guerra da Mafia. Para além do ajuste de contas interno entre clãs, aqueles a que estamos habituados a ver nos filmes, esta guerra da Mafia a sério irá envolver também o assassinato de muitas figuras representando a autoridade do estado: deputados, generais das forças policiais, magistrados e juízes. Durante a primeira metade da década de 1980 a autoridade do estado italiano por aquelas paragens esteve muito por baixo. A RAI, por sua vez, resolveu rentabilizar esse sentimento de impotência da Itália perante o crime organizado, produzindo uma série televisiva de sucesso intitulada La Piovra. Abaixo, uma reconstituição do assassinato.
Sem comentários:
Enviar um comentário