24 outubro 2016

OS «CASUS BELLI» DE OUTUBRO DE 1941

Casus Belli é uma locução latina, que se traduz pela expressão caso de guerra e que se aplica a propósito de algum facto que, pela gravidade que é atribuída por uma delas, possa vir a provocar uma confrontação declarada, e mesmo violenta, entre duas partes - pessoas, organizações ou países. E embora a locução pudesse ser tratada de forma um pouco equívoca no Oeste protagonizado por Lucky Luke (acima), a verdade é que a diplomacia norte-americana de há 75 anos conhecia-a perfeitamente para os evitar, aos casus belli. No Outono de 1941, a Segunda Guerra Mundial já completara dois anos, alargara-se até, nesse Verão, à União Soviética e à Europa Oriental, mas os Estados Unidos, manifestando as suas simpatias, mantinham a sua neutralidade porque consideravam não se ter deparado ainda com aquilo que considerariam um casus belli capaz de os levar a envolverem-se directamente no conflito com a Alemanha. Em Outubro de 1941 essa atitude foi posta à prova com os incidentes encadeados de dois navios de guerra que realizavam escoltas no Atlântico, o USS Kearny (dia 17) e USS Reuben James (dia 31). Nos dois casos os navios acabaram torpedeados por submarinos alemães depois de preâmbulos em que as versões dos dois lados divergem, no episódio do Kearny (fotografia de cima) com o resultado de 11 mortos e 22 feridos e no episódio do Reuben James, bastante mais grave, com o afundamento do navio e a morte de 115 dos 159 homens da tripulação. As reacções domésticas nos Estados Unidos foram de ultraje, mas as consequências mínimas: de concreto, apenas a militarização da Guarda Costeira. O ritmo da transição para a guerra desejado pela administração Roosevelt seria o mais gradual possível. Vale a pena evocar estes tempos longínquos de há 75 anos atrás, em que os Estados Unidos evitavam a todo o transe mostrar-se diplomaticamente agressivos. Só que, já então, a História não era escrita por eles: os japoneses, ao atacar Pearl Harbor em Dezembro de 1941, terão estragado os desejos e o calendário de Roosevelt, e os Estados Unidos tiveram mesmo que entrar na Guerra. Mesmo assim convém recordar que foi a Alemanha e a Itália que tomaram a iniciativa de declarar a guerra aos Estados Unidos quatro dias depois...

2 comentários:

  1. Arrisco um comentario em assunto onde, apesar de grande interesse pessoal, nao tenho nem a formacao academica, nem o tempo para pesquisar e ler tudo o que gostaria, portanto estou provavelmente a "ficar sem pe" por assim dizer.
    O meu entendimento e que a atitude dos EUA em relacao a Alemanha Nazi foi sempre muito ambigua desde a sua subida ao poder. Havia uma forte faccao de simpatizantes Nazis nos EUA, como de resto, no Reino Unido, mas esses pormenores historicos sao... esquecidos, como por exemplo o rei abdicante que o tera feito por causa do grande amor que tinha pela divorciada mas se calhar foi forcado a abdicar devido as suas simpatias politicas e que depois de ser forcado ao exilio no Estoril com os Espirito-Santo por uns tempos depois de uns "mal-entendidos", decide depois, "voluntariamente" mudar-se para as Bahamas, onde talvez faca mais sol e calor mas acima de tudo era territorio britanico.
    However I digress...
    Por isso os esforcos para manter neutralidade no inicio da Guerra. Creio que Roosevelt teria preferido um envolvimento na Guerra mais cedo do que foi mas vivia no ambiente politico em que vivia e teve de trabalhar em circulos.
    No caso do ataque do Japao, a minha ideia e que o ataque e o resultado do embargo Americano de petroleo ao Japao, a data, e preciso lembrar que os EUA eram o maior produtor de petroleo do mundo, e sem diesel, a marinha japonesa nao podia projectar o seu poder nas areas em que os Japoneses pretendiam controlar. O embargo Americano tinha como objectivo nao declarado provocar uma resposta aos Japoneses.
    E o grande impulsionador destas manobras subtis de provocacao em crescendo tanto no pacifico como no atlantico onde os Americanos gradualmente foram aumentando o seu apoio ao esforco de Guerra britanico tera sido Roosevelt.
    Estou enganado na minha interpretacao das intencoes e accoes de Roosevelt?

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  2. Neste mundo cibernético onde se usa e abusa da argumentação de autoridade, respondo-lhe só porque perguntou e não, não está nada enganado.
    You got the big picture...

    Há porém aspectos no que escreveu em que eu terei uma opinião diferente. Como o caso da resposta que eu acredito que os norte-americanos pretenderiam dos japoneses: submeterem-se e não atacarem Pearl Harbor. A atacarem (mais) alguma coisa, depois dos impérios coloniais europeus em dificuldades (britânico, francês e holandês), os norte-americanos deduziriam que os japoneses atacariam a Sibéria e a União Soviética, entretanto atacada do outro lado pela Alemanha.

    E muito do que é descrito como habilidade de Roosevelt em liderar com a opinião pública isolacionista interna é distorcido para justificar as suas cautelas. Pare perceber a dissimulação como os Estados Unidos pretendiam operar, veja este episódio pouco conhecido dele: porque não tinham confiança em Salazar, os norte-americanos pretendiam, a certa altura da guerra, ocupar os Açores mas, como não queriam ficar com o odioso do gesto, estiveram a encorajar o Brasil de Getúlio Vargas a fornecer as tropas de ocupação "porque falavam a mesma língua" (!) Claro que Vargas os mandou dar uma volta mas, dá para deduzir como eles queriam travar a Segunda Guerra Mundial, até ao última alemão, mas também até ao último russo e até ao último britânico...

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