07 outubro 2016

OS RAROS POLIGLOTAS DA CASA BRANCA

Quando se está a um mês dos norte-americanos elegerem aquele que irá ser o seu 45º presidente, vale a pena rebuscar um daqueles pormenores da história de que raramente se fala a respeito dos titulares da Casa Branca, mesmo naqueles apontamentos acessórios e pretensamente íntimos - a mulher e os filhos, a altura e o peso, os animais de estimação, etc. - que normalmente costumam ser, para além da superficialidade, formas camufladas de promover tanto o país como a instituição. E a razão para esse desinteresse, acredito, é que a conclusão que se pode extrair dos conhecimentos linguísticos dos 44 presidentes dos Estados Unidos não é nada lisonjeira. Mais de metade deles (23 em 44) não falavam outra coisa senão inglês. Mas o mais embaraçoso é que o panorama é muito pior entre os que foram presidentes no Século XX e XXI do que o foi entre os presidentes que os precederam ao longo do Século XIX. Pelos vistos a globalização tem funcionado (paradoxalmente) em prol da ignorância linguística dos ocupantes do cargo. O último presidente norte-americano a saber falar fluentemente um idioma que não o inglês nativo foi Franklin Delano Roosevelt (acima, 1882-1945). Atente-se que foi eleito pela primeira vez para o cargo há 84 anos(!). O facto de ter nascido numa família abastada permitiu-lhe que tivesse aprendido alemão e francês na infância com governantas dessa origem. Mas as origens abastadas nada terão feito pela aprendizagem de John F. Kennedy, que ficou ironicamente conhecido pela sua proclamação Ich bin ein berliner (em alemão), nem pela de George W. Bush, que ficou ironicamente conhecido pela sua dificuldade em dominar um só idioma... Desde o final da Segunda Guerra, quando os Estados Unidos assumiram a sua hegemonia (partilhada durante a Guerra Fria, incontestada depois disso), Truman, Eisenhower, Kennedy, Johnson, Nixon, Ford, depois Reagan e Bush (pai), sucederam-se em presidências monoglotas. Quanto a Carter e Bush (filho) assumiram arranhar ambos um envergonhado espanhol. Clinton diz que consegue manter uma conversa casual em alemão. E Obama, que frequentou a escola na Indonésia, falará um bahasa indonesia com a pureza de sotaque que só as crianças conseguem apreender, mas com a falta de fluência de ter sido muito pouco praticado. É verdade que o rigor republicano e a insolência da informação tende a fazer desaparecer aquelas fábulas das cabeças coroadas (na Europa) que se exprimem fluentemente em cinco e seis idiomas, mas, para rematar, alguém se dispõe a investigar quais são as language skills dos candidatos Donald Trump e Hillary Clinton?...

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