31 outubro 2016

«HALLOWEEN 2016»

Entendam-me: eu até gosto de ver estes fenómenos culturais da globalização, mas aprecio-os mais quando eles se exprimem em toda a pujança da sua reciprocidade. Acho ridículo, mas esforço-me por compreender, a desdita daquelas dançarinas brasileiras, tão cheias de ritmo quanto transidas de frio, que enfeitam os nossos corsos de carnaval e que bem se esforçam por se sacudir ao som de uma celebração - agora diz-se um evento - que foi evidentemente concebida para outras temperaturas. Mas enfim, como é com o povo irmão, aplica-se ao disparate a benevolência dos casos de família. Agora, que eu saiba, aos norte-americanos não os costumo encontrar na noite da consoada, e por isso não são cá da família. Não estou para ser tão disponível com os costumes norte-americanos.
A pretexto de uma coisa chamada Halloween, aparecem-me uns putos a bater à porta aos dizeres de doçura ou travessura. É como li no comentário de alguém, ontem: o Halloween tem tanto a ver connosco como os Santos Populares têm a ver com os americanos. Se querem que adoptemos os deles, porque não experimentam eles também os nossos costumes e quando se chegar a Junho, por exemplo, fecham Times Square (abaixo) e organizam ali um arraial enfeitados de manjericos e com sardinha assada. Depois digam-me se continuam na disposição de manter - ou se preferem reconverter - o McDonalds ali da esquerda... Experimentem isso, que eu aí de bom grado e reciprocamente passo a arrecadar algumas guloseimas nestas alturas para os putos chatos do Halloween...

5 comentários:

  1. E porquê pretender, parece, culpá-los (aos americanos) pela nossa de facto bem pouco natural adesão ao Halloween? É que isso parece decorrer do seu texto: "Se querem que adoptemos os deles, porque não experimentam eles também os nossos costumes (...)".

    Culpar os americanos de todos os males do mundo, ou apenas daquilo de que cada um de nós não gosta, é como se sabe prática consagrada e louvada entre a inteligência europeia. Mas talvez um pouco gasta.

    Costa

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  2. A palavra mais interessante, que aliás repete, no seu primeiro parágrafo, é a palavra "parece". Se não "parecesse" lá se vão as razões para as suas implicações.

    E é por isso que me apetece responder com o remate de um famoso (mas inesquecível) anúncio ao Restaurador Olex: «- Pois olhe, não parece. E já estamos servidos.»

    Vai uma enorme distância entre escrever uma opinião e esmerar-se para arranjar um pomo que, mais de discórdia, é de implicância, oh Anónimo, e quando digo que "estamos servidos"... estamos mesmo.

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    1. Eu utilizei a palavra "parece" por - conceda-me isso - uma questão de prudência, de educação. Não quis, partindo apenas do seu texto acima, chegar a conclusões, produzir afirmações categóricas, taxativas e susceptíveis, numa questão sempre sensível (terá sido o caso), de ferir.

      Permitirá que sustente que desse seu texto - particularmente do trecho que cito e sinceramente não creio que descontextualizando - é legítimo apontar o que apontei e que V. entendeu desnecessário rebater minimamente e de forma substantiva, antes desqualificando liminarmente o que eu apontei - e a mim próprio - e remetendo para o campo da arqueologia (enfim, talvez não tanto ainda) publicitária portuguesa, ironizando, atendendo ao anúncio de televisão que invoca, de forma um tudo nada deselegante.

      Eu não busquei "implicância" (a menos que V. tome como tal a presença por aqui com outra coisa que não o panegírico estremecido do seu labor na blogosfera), limitei-me a apontar algo que me pareceu uma estranha cedência simplista, um argumento "fácil", num blogue que de há muito me habituei a acompanhar e a admirar pela solidez argumentativa, o labor de investigação, a cultura demonstrada e até algum elegante humor, mesmo quando discordando - e discordando profundamente - do teor dos seus textos.

      Assim não foi entendido o que escrevi, mas antes como impertinente implicação. É, ainda que profundamente errado, absolutamente legítimo.

      Quanto ao mais, o "anónimo" só o é por falta de familiaridade com estas coisas da internet e por reconhecer e perfeitamente se conformar com a sua simples condição de ocasional e fundamentalmente inócuo comentador num ou noutro blogue. Costuma bastar-lhe, ao anónimo em causa, assinar os seus textos com o seu apelido, do qual em nada se envergonha e que consta aliás do comentário acima. Mas sim, tenho conta no google. Suponho que isso resolve a questão do anonimato.

      Estamos então servidos.

      Rui Costa

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  3. Sendo assim como me diz, só me resta pedir-lhe desculpa.

    Mas confesso-lhe que me continua a intrigar como, de um texto que nem é muito extenso e tem apenas dois parágrafos, consegue descartar inteiramente um deles, o que se refere aos brasileiros, para se concentrar apenas no outro, aquele que continha a referência aos norte-americanos para avançar com a sua tese que faz de mim um dos membros da “inteligência europeia” que culpa “os americanos de todos os males do Mundo”.

    Confessando-se leitor regular do blogue já teria tido várias ocasiões para perceber pelo que aqui vou escrevendo que não é bem essa a minha atitude. E por outro lado um costume alheio é apenas ridículo, não vem dali nenhum mal ao Mundo. Se o seu comentário não é – como teve ocasião de explicar, e eu acredito em si – uma implicância maliciosa, então, parece-me, será um exagero descabido que, a uma primeira vista, nem merecia resposta séria.

    Quando às identificações dos comentadores, este blogue vai fazer dentro de dias 11 anos e já aqui assisti a muita coisa. Até já deu para estabelecer uma regra: se nem todos os “anónimos” são autores de comentários agressivos, a verdade é que todos os comentários agressivos são sempre “assinados” por anónimos ou nicknames. E é com base nisso que assentei a minha política de comentários: assiste ao comentador a liberdade de assumir a identidade que quiser quando comenta; em contrapartida assiste-me a mim a liberdade de decidir se torno esse comentário público ou não na respectiva caixa. É por isso que lhe digo que a reputação dos comentários que faça não saem beneficiados por serem da autoria de um anónimo ou de um “sobrevive-se”. Ao fim de quatro anos já devia ter dado por isso. Porque quanto aos nomes que se assinam, e depois de uma troca bastante azeda de comentários com comunistas que usavam vários porque andavam a brincar à clandestinidade, fiquei vacinado.

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    1. Agradeço-lhe pela sua resposta. Nada há verdadeiramente por que apresentar desculpas, mas muito obrigado.

      Quanto ao mais, haveria talvez por onde alongar esta nossa troca de impressões. Desde logo os brasileiros, sem dúvida; isso do povo ou país irmão (e sim, não ignoro o seu uso do itálico). Até a questão do "sobrevive-se". Ou a do anonimato e da veracidade do que quer que se use, nestes locais, como identificação. Mas acabaria por ser muito provavelmente apenas ocioso. Noutra altura, quem sabe.

      Continuarei, creia, a segui-lo por aqui.

      Costa

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