IGNORÂNCIA ASTRONÓMICA

Esclareça-se de antemão que a astronomia da ignorância reporta-se não apenas ao tema, mas sobretudo à dimensão dela. Temos então um concorrente ao concurso Quem Quer Ser Milionário? disputado numa qualquer televisão francesa, um concorrente de aspecto banal mas para o respeitável, com a respeitabilidade a ser-nos induzida pelos seus cabelos brancos, que se enerva ou se atrapalha e encalha na pergunta: O que é que gravita à volta da Terra?. A) a Lua B) o Sol C) Marte D) Vénus. Nesta altura, admitamos benignamente que o nosso concorrente saberia a resposta certa, só que não se estava a lembrar… O concurso foi concebido com alternativas para quando os concorrentes têm bloqueios desses e é de uma delas que o nosso concorrente se socorre: consulta a opinião do público, que nos aparece sintetizada no gráfico de barras à direita do concorrente: 42% acham que é a Lua que gravita à volta da Terra, 56% acham que é o Sol e 2% - provavelmente o cómico do auditório – aposta em Marte. O aparecimento do gráfico é um momento embaraçoso para os telespectadores que não intervieram na votação… O apresentador ainda vai tentar salvar a situação, fazendo notar ao concorrente que a distribuição das respostas está muito dividida, no limiar de lhe dizer expressamente qual a resposta certa, mas este último, talvez confortado pela maioria expressiva de 14% das respostas da sondagem, recuperando o geocentrismo ptolemaico, acaba por escolher a opção B) embora já sem a nossa benignidade. É um grande momento de televisão e, mais do que de astronomia, pode ser uma grande lição de ciência política…