31 julho 2023

O QUE É MUITO MAU NESTE GOVERNO DO COSTA É QUE OS GAJOS QUE O COMPÕEM PARECE QUE NÃO APRENDEM NADA

Manuel Pizarro não só se "notabiliza" por não ter feito nada até agora para resolver os problemas do SNS, problemas esses que haviam provocado a saída da sua antecessora, como, ainda por cima, no meio dessa inércia, se "destaca" por cometer precisamente o mesmo erro de misturar política e futebol, erro esse que aqui há três anos enredou tanto António Costa como Fernando Medina. Recorde-se que, para além da polémica e dando razão à polémica, dez meses depois dela, Luís Filipe Vieira foi detido por suspeitas de crimes de burla e de fraude fiscal. Pizarro faz o mesmo que Costa e Medina, só que o faz com o Futebol Clube do Porto. Para além da polémica, que deveria repetir-se caso estas coisas se guiassem pela lógica, haverá alguém capaz de jurar, rejurar e afiançar que algo de muito parecido não possa acontecer num futuro próximo com Pinto da Costa?... Claro que não! E nem se chega a perceber se o que está por detrás desta repetição de uma atitude que pode conduzir a uma complicação política desnecessária por parte de Manuel Pizarro, resultará da sua obtusidade ou de uma completa desfaçatez para com as consequências.

NÃO É UMA QUESTÃO DE DECIDIR QUAL O URSO COM PIADA, O PODER ESTÁ EM QUEM CONTROLA O EFEITO SONORO QUE ACRESCENTA AS GARGALHADAS

Por exemplo, nos dias que correm, querem convencer-nos que o futebol feminino é uma modalidade que concita a atenção de muita gente. Isso sim, é embarrassing, como se farta de repetir o urso feio.

O LANÇAMENTO À ÁGUA DO SS LESBIAN

31 de Julho de 1923. Lançamento à água, num estaleiro de Newcastle, no Norte de Inglaterra, do pequeno cargueiro SS Lesbian, de 2.350 toneladas de deslocamento (foto acima). Já era o terceiro navio mercante a receber esse nome que, naquela época, era apenas uma alusão aos nativos da ilha grega de Lesbos, e não a actual acepção, referente às orientações sexuais de uma minoria de mulheres.

30 julho 2023

UM DIA NEGRO PARA A «KRIEGSMARINE»

(Republicação)
30 de Julho de 1943 foi um dia negro para a Kriegsmarine, especialmente para os seus submarinistas, quando, no mesmo dia, se registou o afundamento de seis(!) submarinos da frota da Marinha de Guerra alemã: um no Atlântico Norte (U-43), outro no Mediterrâneo (U-375), um terceiro no Atlântico Sul (U-591) e, sobretudo, três no Golfo da Biscaia (U-461, U-462 e U-504), estes últimos interceptados pela aviação aliada quando percorriam as rotas de aproximação aos portos franceses onde estavam baseados. Assentara-se que a melhor táctica para conter a ameaça naval representada pelos U-Boot era a de patrulhar incessantemente as serpentes junto aos ninhos que as albergavam. A denominada Batalha do Atlântico avaliava-se em duas vertentes. Por um lado, e para que os homens e o material continuassem a chegar à Europa, havia a necessidade de que os estaleiros navais dos Aliados construíssem navios mercantes numa tonelagem que superasse as perdas que os submarinos do Eixo fossem infligindo; mas por outro e em complemento, havia a necessidade de afundar os submarinos inimigos num ritmo que superasse a capacidade alemã de os construir, assim como a capacidade de treinar as respectivas tripulações (note-se que apenas 32% das tripulações somadas dos seis submarinos afundados naquele dia sobreviveram aos afundamentos e a maioria desses sobreviventes foram capturados). Neste último aspecto, o dia 30 de Julho de 1943 revelou-se um excelente dia para os Aliados.

PELO 120º ANIVERSÁRIO DO APARECIMENTO DOS BOLCHEVIQUES E DOS MENCHEVIQUES

30 de Julho de 1903. Abertura em Bruxelas do 2º Congresso do Partido Operário Social Democrata Russo. A partir de 6 de Agosto, por pressão das autoridades russas sobre os belgas, os trabalhos do congresso foram transferidos para Londres, onde decorreram as sessões mais significativas. O número de presentes foi inicialmente de 52. Dez delegados podiam participar nos trabalhos mas não tinham direito de voto. Outros trinta e três tinham direito a um voto. E havia nove que tinham mesmo direito a dois votos, num total de 51 votos possíveis. Para além da mudança de local, o congresso prolongou-se até 23 de Agosto, ao longo 37 sessões. Mas aquela que perdurará para a história do comunismo será a 22ª sessão, quando Lenine e Martov, discordarão quanto às qualificações para se vir a ser membro do partido. Na proposta de Lenine, seria alguém "que reconhece o programa do partido e o apoia por meios materiais e pela participação pessoal numa das organizações do partido"; na redacção de Martov, seria alguém com uma "associação pessoal regular sob a direcção de uma das organizações do partido". Enfim, nada que não se pudesse sintetizar com um fraseado cuidadosamente negociado pelas partes. Mas não. Também os grandes cismas religiosos se justificaram por divergências (teológicas) similares. Vale a pena esclarecer que, na votação que se seguiu, foi a proposta de Martov que vingou: 28 votos contra 23 para Lenine. Mas Martov, o rival de Lenine, era mais intelectual marxista do que político: ao rejeitar, por uma questão de princípio, as pretensões de autonomia de um bloco de delegados de uma organização judaica que o haviam apoiado (para mais quando, ironicamente, o próprio Martov era também judeu...), fez com que esses 7 delegados abandonassem o congresso e que, com isso, Martov perdesse a maioria dos votos a partir da 27ª sessão dos trabalhos. A partir daí, e apesar da maioria bolchevique ser muito ténue (23-21), Lenine estava à vontade para conduzir o restos dos trabalhos com o seu bloco de votos. Quando da eleição do novo órgão central do partido, foram escolhidos três nomes: o veterano Plekhanov (46 anos), Lenine (33) e Martov (29). Este último declinou. Como se percebe pelo relatório que elaborou sobre o congresso, isso não incomodou minimamente Lenine. A montagem fotográfica (acima) elaborada na sequência do congresso não inclui a imagem de Martov, apesar da sua eleição, nem, de resto, a imagem de qualquer outro menchevique.

29 julho 2023

A ABERTURA DOS JOGOS OLÍMPICOS DE LONDRES 1948 E A NUTRIÇÃO DOS ATLETAS

O sol brilhava no Estádio de Wembley em Londres naquela Quinta-feira, 29 de Julho de 1948, quando os décimo quarto jogos da Olimpíada moderna foram formalmente abertos por George VI na presença de uma série de dignitários e uma multidão de mais de 80.000 pessoas. O Rei, em uniforme naval, fez-se acompanhar da Rainha e da Princesa Margarida. Lorde e Lady Mountbatten, acabados de regressar da Índia, estavam lá, assim como o xá do Irão e o secretário-geral das Nações Unidas, Trygve Lie. Os membros do Comité Olímpico Internacional desfilaram no relvado envergando todos uma anacrónica cartola. Os jogos atraíram cerca de 6.000 competidores de países que vão do Afeganistão à Jugoslávia. Os alemães e os japoneses não foram convidados e a União Soviética deixou-se ficar de fora. As anteriores Olimpíadas de 1944 tinham sido marcadas para se realizarem em Londres, mas haviam sido canceladas por causa da Segunda Guerra Mundial, e era uma compensação e também uma desforra que estes primeiros Jogos do após Guerra, necessariamente sóbrios, fossem os sucessores do evento de 1936 em Berlim, quando o regime nazi os havia empregado para sua descarada propaganda. Mas, tanto como estes aspectos mais intangíveis, outros despertavam a atenção num país onde passara a vigorar um racionamento alimentar ainda mais severo do que o imposto durante a guerra. Vindos de um país onde a escassez não existia, a dieta olímpica dos atletas da comitiva dos Estados Unidos era assunto de jornal, com a intenção inconfessa de deixar os seus leitores (britânicos) a salivar: «5.000 bifes com um peso total de 1.275 kg, milhares de costeletas, 15.000 barras de chocolate, 1.134 kg de presunto, 907 kg de Spam». Não é de estranhar que, no final dos Jogos, a equipa olímpica dos Estados Unidos tivesse sido a que mais medalhas olímpicas tivesse alcançado (84, das quais 38 de ouro), o que representava quase o dobro da equipa que se classificou em segundo lugar, a Suécia (44). Pode-se afirmar, com toda a propriedade, nuns jogos olímpicos em que as equipas olímpicas haviam tido de trazer o farnel de casa, que os atletas americanos haviam competido com 5.000 bifes de vantagem.

28 julho 2023

POR «CONSIDERAÇÃO» A QUEM A SEGUE, CATARINA FURTADO INSULTA A INTELIGÊNCIA DE TODOS OS OUTROS

Isto é Catarina Furtado há dez anos, a celebrar no facebook - e por arrasto, em todas as publicações de fofocas sociais - o oitavo aniversário do seu casamento. «Aqui fica uma fotografia do dia de hoje! Mais uma vez muito obrigada» Não percebo o que está a agradecer e a quem agradece...
Isto é a mesma Catarina Furtado, ontem, no Instagram - e, por arrasto, em todas publicações de fofocas sociais - a anunciar que se vai divorciar. De notar a passagem realçada, em que Catarina pretende «ter optado por manter a nossa (sua) intimidade longe dos holofotes»... Ah foi?! Não dei por nada.
E isto é Joana Marques a ridicularizar Catarina Furtado. Para além da intimidade, a inteligência é também um valor a preservar nas relações (e nas redes) sociais. Também é extremamente desagradável a Catarina agredir assim a inteligência dos outros com mentiras tão descabeladas.

A GUERRA RUSSO UCRANIANA CONTINUA...

...mas fingir que não em grandes eventos desportivos internacionais pode ter efeitos contraproducentes, quando os atletas não se conformam com as regras que lhe são impostas pelos dirigentes desportivos. Os atletas até podem perder formalmente por desqualificação aquilo que ganharam, como foi o caso desta atiradora ucraniana que participava nos Campeonatos Mundiais de Esgrima que se estão a disputar em Milão, mas quem costuma sair descredibilizado pela insensibilidade demonstrada quando destes episódios, acabam por ser os próprios dirigentes desportivos quando sancionam as atitudes (muitas vezes compreensíveis...) dos atletas. Isto de eles insistirem que a indústria dos espectáculos desportivos possa viver numa espécie de bolha amoral que não prejudique muito o negócio... acaba por se revelar não ser bem assim quando os protagonistas se recusam a colaborar.

«SUMMER JAM» EM WATKINS GLEN

Sábado, 28 de Julho de 1973. Tem lugar um enorme concerto no autódromo de Watkins Glen, no estado de Nova Iorque. A audiência foi então estimada em cerca de 600.000 pessoas, das quais apenas 150.000 haviam pago bilhete, e mesmo esse custava apenas 10 dólares. O cartaz era composto por três bandas: Allman Brothers, The Band e Grateful Dead (qualquer uma delas era muito pouco conhecida na Europa). Haviam sido montadas doze grandes torres de som, e a duração das apresentações foi incomum. Os Grateful Dead tocaram durante cinco horas, os Allman Brothers quatro horas e The Band três. Algumas das músicas foram tocadas por composições mistas das bandas, improvisadas, respeitando o verdadeiro espírito jam. Este «Summer Jam» em Watkins Glen é muito menos conhecido e divulgado do que o festival de Woodstock que se realizara quatro anos antes (não existe página a seu respeito na Wikipedia em português, por exemplo), mas superou-o nas estimativas quanto à assistência que concitou: 600 mil versus 400 mil pessoas.

27 julho 2023

O COMITÉ NACIONAL PARA A SALVAGUARDA DA PÁTRIA (CNSP)

Houve um golpe de Estado no Níger. Ao contrário dos da América Latina, protagonizados normalmente por generais e almirantes, singulares, em pares ou trios, os golpes de Estado em África costumam ser protagonizados por militares de patentes mais baixas, normalmente oficiais, que formam grupos mais abrangentes, como se pode verificar pela fotografia acima. Esses grupos alargados de oficiais adoptam uns nomes pomposos quando se apresentam na sequência do golpe: este agora é o Comité Nacional para a Salvaguarda da Pátria (CNSP), na presunção óbvia que o seu país - o Níger, neste caso - estava à beira do colapso por culpa do regime que tinham acabado de derrubar. O Níger é muito propenso a esses colapsos: desde que se tornou independente, em 3 de Agosto de 1960, o país já registou (com este) 6 golpes e tentativas de golpe de Estado e 7 constituições! Diz-nos a experiência de dezenas de golpes de Estado deste mesmo género, que o porta-voz - no caso acima, o coronel major Amadou Abdramane que até está vestido de maneira diferente dos outros - é o espertalhão do grupo, e os observadores mais bem informados tendem a classificá-lo(s) invariavelmente como o novo homem-forte do país. Porém, a coreografia que acabei de descrever já leva uns sessenta de idade e está bastante desacreditada pelo uso e abuso. Noutros tempos, tal qual a situação está a ser apresentada (anúncio formal, prisão do anterior presidente), era considerado assunto encerrado. Mas as notícias que chegam (abaixo), mostram-nos que isto de ser o que detém as armas não é garantia por si de sucesso de um golpe de Estado.

O ASSALTO À EMBAIXADA TURCA EM LISBOA

27 de Julho de 1983. A embaixada turca em Lisboa é assaltada por um comando terrorista arménio. Nunca se estabelecerá claramente o que terá acontecido para que os assaltantes tenham detonado prematuramente os explosivos que traziam consigo, matando-os, conjuntamente com a esposa de um dos membros da embaixada que havia sido tomada como refém e ainda um polícia português. Houve ainda mais dois feridos: um dos reféns e outro polícia português. Tudo se passou em menos de quatro horas. Quando se lê acima, que o comando fora dominado, faltava o esclarecimento que o comando se dominara a si próprio... Abaixo, um documentário evocativo transmitido há uma dúzia de anos pela SIC.

26 julho 2023

«DROGA LOUCURA MORTE»

Os oitenta anos completados hoje por Mike Jagger dos Rolling Stones são o desmentido definitivo e cabal de um cartaz que apareceu afixado pelas ruas de Lisboa na Primavera de 1972 com os dizeres Droga Loucura Morte, enfeitados com uma caveira com o símbolo da paz na testa. Explicitamente a droga conduzia à morte, implicitamente os pacifistas eram loucos. Para aqueles que ainda se lembram desses cartazes, a provecta idade alcançada por Jagger - um consumidor confesso das mais variadas drogas - comprova o quanto aqueles vaticínios de vidas breves para consumidores de drogas podiam estar errados.

O JANTAR DE LULAS – POSSIVELMENTE SEM ACOMPANHAMENTO ALGUM…

Há precisamente dez anos, David Cameron, o então primeiro ministro britânico estava de férias no Algarve e montaram-lhe uma operação mediática no mercado de Aljezur. Recorda-se aqui a dita operação e o protagonista, alguém que entretanto desapareceu por completo depois do desastre da realização do referendo do Brexit... Nem lulas, nem chocos, nem polvo, nem nada.
«O staff de imprensa de David Cameron parece ter resolvido montar uma operação no mercado de Aljezur, zona onde ele terá vindo passar este ano as suas férias. É simpático e convenientemente promocional que o primeiro-ministro britânico mostre vir passar férias entre nós mas a operação, forte na imagem mas fraca nas outras informações, tornou a reportagem literalmente concebida para inglês ver. As fotografias mostram em primeiro lugar o casal Cameron a dar as mãos diante duma banca, a ternura quiçá despertada pelos eflúvios do peixe fresco,…
…seguida de um grande momento de opções decisivas quando os dedos de ambos vagueiam pela oferta piscícola disponível, um terceiro momento em que uma peixeira, das nossas e devidamente certificada para não nos deixar ficar mal, de luvas apanha as lulas – devidamente identificadas logo no título da reportagem não vá o ignorante leitor não as saber reconhecer... – de uma caixa de esferovite e finalmente a imagem já à saída do mercado onde o actual locatário do nº10 de Downing Street empunha orgulhosamente o seu jantar…
…num prosaico saco de plástico branco enquanto Mrs. Cameron olha para ele com um sorriso a lembrar os das antigas fotonovelas a que se poderia acrescentar uma flactera pensadora: - O meu David é muito jeitoso… Registe-se por fim a coincidência das fotografias nunca terem apanhado nenhuma das caras joviais dos omnipresentes membros da segurança dos Cameron e a observação pertinente de como o jantar será necessariamente parco: afinal eles não compraram nem uma frutinha para a sobremesa, nem ingredientes para uma saladinha que cai sempre bem com as lulas…
Contudo, por muito que se promova internacionalmente a Nigella Lawson ou o Jamie Oliver, a verdade é que o inglês típico parece continuar a não perceber e a não se interessar nada por comida. Ao contrário das minhas, as críticas mais substanciais a esta visita ao mercado de David Cameron na imprensa britânica concentram-se… na sua indumentária

A BATALHA DO RIO SAMICHON

Republicação
26 de Julho de 1953. Fim da batalha do rio Samichon na Coreia. Esta batalha está longe de ter sido uma das batalhas mais importantes, simbólicas ou renhidas da hoje esquecidíssima Guerra da Coreia (1950-53). A situação táctica em que teve lugar é simples de descrever se nos socorrermos do mapa acima. O rio Samichon (assinalado a um azul muito claro) é um afluente da margem direita do muito mais importante rio Imjin (assinalado a um azul mais escuro). O vale do Samichon seria o corredor natural de progressão das tropas norte-coreanas e chinesas (setas vermelhas) no caso de elas conseguirem romper o dispositivo defensivo (a verde) que fora adoptado pelas tropas sul-coreanas e dos seus aliados ocidentais (na sua grande maioria tropas americanas). Na tentativa de obter essa ruptura, a batalha começara dois dias antes, a 24 de Julho, uma ofensiva desencadeada pela 137ª divisão chinesa, com a curiosidade de que uma parte da linha de defesa atacada era guarnecida por um batalhão australiano (as unidades restantes eram americanas) e de que uma unidade de artilharia que os apoiava ser neozelandesa. As características da ofensiva chinesa não se alteraram em relação à táctica que se viera a tornar tradicional naquele conflito: uma ofensiva nocturna (para neutralizar a superioridade aérea esmagadora do inimigo), uma preparação prévia de fogo de artilharia (sobretudo de morteiros) e vagas sucessivas de ataques de infantaria tentando submergir as posições inimigas pela superioridade maciça dos seus efectivos. A comparação das baixas sofridas pelas duas partes mostra o quanto, a esse respeito, aquela guerra era assimétrica.
Os americanos sofreram 43 mortos e 316 feridos; os australianos 5 mortos e 24 feridos; com as estimativas do número de mortos sofridos pelos chineses a cifrar-se entre os 2.000 a 3.000. Mesmo descontando o exagero destas estimativas, a desproporção entre os mortos do lado ocidental para os do inimigo, mesmo usando a estimativa mais cautelosa é de 1 para 40! Mas aquilo que é verdadeiramente impressionante nesta batalha é que ela foi a última da Guerra da Coreia. A batalha do rio Samichon cessou na véspera do dia da assinatura do Armistício - 27 de Julho de 1953 - que pôs fim às hostilidades. Era um acontecimento que estava previsto desde há dias (acima, a edição do Diário de Lisboa de há 70 anos) e que fora o culminar de um arrastadíssimo processo de negociações que durara mais de dois anos, onde houvera 575 reuniões em que - alguém estimou - se haviam trocado 18 milhões de palavras! Mas, para a parte chinesa não se punha o problema de correr o perigo de poder desfazer tudo o que se alcançara até aí e sacrificar mesmo 2.000 vidas para obter ainda, à última hora, uma pequena vantagem táctica adicional para a trazer para a mesa das negociações! Na verdade, no cômputo global e nos últimos meses, eles e os norte-coreanos haviam sofrido 72.000 baixas (dos quais 25.000 mortos) tentando fazer isso mesmo. As negociações na Coreia são tradicionalmente muito duras e inconclusivas e o problema da Coreia não se resolvem com coisas simples que se possam dizer em tweets, nem os tweets têm espaço para que se explique convenientemente porque é que essas simplicidades são um disparate... E disparate é sinónimo de Trump.

OS ÓCULOS TELEVISIVOS QUE NÃO FUNCIONAVAM LÁ MUITO BEM

A edição de 26 de Julho de 1963 da revista americana Life continha um artigo dedicado à vida e obra do editor de revistas de ficção científica (e também inventor) Hugo Gernsback, qu já ia então a caminho de completar 79 anos. Mas, para além do texto, o que mais de memorável continha o artigo era esta fotografia acima, onde aparecia o próprio Gernsback usando uns óculos televisivos de antecipação científica. Porém, a qualidade das emissões de televisão e o grau de miniaturização do equipamento que existia na época, fazia com que o resultado daquilo que se podia ver através do dispositivo fosse francamente mau - para não dizer nada quanto ao som, de que não se vê qualquer dispositivo aplicado ao utilizador. Mas, como em tantas outras coisas na vida, estes detalhes substantivos pareciam não incomodar quem ficava fascinado com a aparência do gadget...

25 julho 2023

«FILME FRANCÊS LEGENDADO»

Este sketch dos Monty Phyton intitula-se «French Subtitled Film» (filme francês legendado). É, como se percebe facilmente, uma paródia ao cinema nouvelle vague francês. Não é um sketch muito divulgado nem, por causa disso, conhecido e relembrado, porque também os gostos daqueles que se pretendem intelectuais são selectivos e corporativos e não gostam de ver uns dos seus a gozar com outros. É uma questão de evitar ter de optar entre John Cleese ou Michael Palin e François Truffaut ou Jean-Luc Godard e ter de dar razão a um dos lados.

A QUEDA DO VERDADEIRO FASCISMO

(Republicação)
O verdadeiro fascismo começou a cair ao fim de uma tarde quente de Verão (24 de Julho) de 1943, quando se reuniu num palácio de Roma o Grande Conselho da Revolução Nacional Fascista. E, para começar, aquela reunião era um acontecimento interessante na ordem dos acontecimentos de uma Itália que perfizera recentemente o seu terceiro ano de guerra, precisamente porque havia quatro anos que o Grande Conselho não se reunia.

Mesmo que o Grande Conselho não fosse uma espécie de micro-parlamento onde se aprovassem moções, como Mussolini expressamente precisara quando o criara vinte anos antes, naquele dia, ele e o seu regime caíram por causa da aprovação de uma moção ali votada e aprovada, onde se exigia a restauração imediata de todas as funções do Estado e convidando o chefe do governo – o Duce – a pedir ao rei que assumisse a iniciativa suprema tomando o comando de todas as Forças Armadas.

O documento é mais importante pelo que omite – o prosseguimento da guerra, o papel de Mussolini e do partido fascista na condução dos destinos de Itália ou a aliança com a Alemanha – do que por aquilo que contém. Mas é esta versão de condenação cuidadosa das decisões de Mussolini que serve de detonador às movimentações de um grupo de conspiradores situados à volta do rei. A versão era tão aguada que Mussolini nem se acautelou quanto às consequências...

No dia seguinte, Domingo 25 de Julho, Mussolini até foi trabalhar e chegou a receber o embaixador japonês para uma reunião de trabalho. Só veio a ser preso ao fim da tarde quando se apresentou para uma audiência – pedida por si! - com o rei Vítor Manuel III. Foi ali que ouviu do próprio rei que este já havia entretanto incumbido o general Badoglio de formar um novo governo. O objectivo evidente do novo governo seria o de extrair a Itália da guerra, assinando a paz com os Aliados.

A 8 de Setembro conseguira-o, depois de um mês de promessas solenes de Badoglio aos alemães sobre a solidez da aliança entre os dois países… Quatro dias depois, Mussolini era resgatado pelos mesmos alemães da estância de turismo onde estava detido. Viria a ser constituída, em 23 de Setembro, a República Social Italiana no Norte de Itália, uma versão ridícula de um Estado fascista, completamente na dependência da Alemanha, que pretendia que quase nada se passara naqueles dois meses.

Mas houve ainda tempo para que o fascismo renascido e amparado se desforrasse dalguns daqueles membros do Grande Conselho que, em 24 de Julho, haviam votado favoravelmente a famosa moção que conduzira à destituição do Duce. Julgados num processo relâmpago que durou 48 horas (8 e 9 de Janeiro), os antigos conselheiros Ciano, De Bono, Pareschi, Gottardi e Marinelli foram condenados à morte e fuzilados pelas costas a 11 de Janeiro de 1944, no polígono de tiro do Forte de San Zeno.

Emblemático da incompetência geral que as Forças Armadas italianas mostraram ao longo de toda a Segunda Guerra Mundial, o pelotão de fuzilamento constituído era tão desajeitado que teve de atirar por uma segunda vez sobre as vítimas enquanto estas agonizavam de dor…

24 julho 2023

A DESMONTAGEM DO ESTRIBILHO DAS «REFORMAS ESTRUTURAIS»

Em primeiro lugar, endereçar um comentário apreciador para este artigo de opinião, aparecido em pleno Verão, demonstrando que a «silly season» não tem de ser obrigatoriamente «silly», há muita gente de valor para a preencher com opiniões válidas e sustentadas. Em segundo lugar, complementar o artigo de Ricardo Paes Mamede, adicionando a minha opinião que o estribilho das «reformas estruturais», que foi outrora pujante, tem vindo a sair progressivamente de moda. Embora considerando prazos muito mais alargados, estas expressões de sonoridade forte mas conteúdo oco fazem-me lembrar os lacticínios, que têm de ser vendidos acompanhados dos obrigatórios prazos de validade de consumo. É assim que, quando lemos outros artigos de opinião com títulos como «Portugal precisa urgentemente de reformas estruturais» (2021) ou então «A urgência de fazer reformas» (2022), não me coíbo de pensar para comigo mesmo: ...(o pensamento d)estes tipos está talhado, como os yogurtes fora de prazo...

O APERTO DE MÃOS ENTRE DOIS PRESIDENTES AMERICANOS

24 de Julho de 1963. Terá querido o acaso que tivesse ficado registado para a posterioridade este aperto de mãos entre o presidente John F. Kennedy e o então adolescente (16 anos) Bill Clinton. Conhecer o futuro dá-nos uma presciência imbatível. Dali por apenas quatro meses John Kennedy deixará de ser presidente, assassinado no Texas. Dali por vinte e nove anos e meio, Bill Clinton tornar-se-á, por sua vez, presidente.

23 julho 2023

AS REDES SOCIAIS DE HÁ OITENTA ANOS

23 de Julho de 1943. Numa página interior do Diário de Lisboa e sob o título de Vida Mundana, anunciavam-se os aniversários para o dia seguinte, qual facebook primitivo, embora com as regras específicas desses tempos de antanho: a) só se anunciavam aniversários de senhoras; b) mas não se anunciavam quanto anos as senhoras faziam; c) os nomes próprios das aniversariantes eram todos de classe (embora, no caso acima, se descortine uma Adosinda de ascendência um pouco suspeita...); e d) aos apelidos das aniversariantes anunciadas exigia-se soturnidade e patine (e onde uma pitada de estrangeiro nem cairia mal). Mas, descontando isso, o efeito da notícia era precisamente o mesmo do que o daqueles incentivos que o facebook de agora nos manda por ocasião dos aniversários alheios. Neste aspecto em concreto, o de se enviar parabéns uns aos outros, nunca a sociedade em geral terá sido tão simpática quanto agora.

22 julho 2023

O APARECIMENTO DO POUJADISMO

22 de Julho de 1953. Tem lugar em Saint-Céré (uma pequena povoação do Sul de França), os primeiros acontecimentos que levarão à fundação da União de Defesa dos Comerciantes e Artesãos (UDCA), uma organização que virá a ultrapassar os propósitos corporativos que o seu nome anuncia. A causa próxima do que viria a ser esse movimento político foi o bloqueio a um controlo fiscal imposto pelas autoridades tributárias aos comerciantes daquela povoação remota para o dia seguinte. A atitude de resistência, que abrangia uma vintena de pequenos comerciante locais, foi encabeçada pelo dono da livraria/papelaria local, de seu nome Pierre Poujade (1920-2003). Os fiscais desistiram do controlo, e o movimento de protesto estende-se aos departamentos vizinhos. E foi desta forma prosaica que Pierre Poujade ganhou bruscamente uma notoriedade nacional. A nova estrela, apesar de ser uma espécie de intelectual de um ignorado rincão de França, revelou-se um excelente orador, com um discurso apelativo para diversos grupos que se sentiam marginalizados pela IV República Francesa, nomeadamente o pequeno comércio e os agricultores. Os inimigos definidos pelo movimento de Poujade eram Paris, os quadros superiores do Estado, as eminências (maçónicas), por fim a comunicação social. Daí a dois anos (1955), a UDCA agruparia 400 mil membros. Nas eleições de 2 de Janeiro de 1956, a nova formação (sigla UFF) receberia quase 2.745.000 votos (12,6%) e elegeria 52 dos 595 deputados da Assembleia Nacional. A extrema-direita francesa aproveitava para ressurgir, depois de quase uma década em que estivera naturalmente proscrita (1944-53), por causa daquilo que acontecera durante o regime de Vichy. Mas, como veremos mais adiante, em outras publicações posteriores deste blogue, este ciclo de ressurgimento da extrema-direita francesa, nesta encarnação com um forte conteúdo populista e agora denominada por poujadismo, também não irá durar um decénio.

21 julho 2023

«O GOVERNO ANDA DE MAL A PEOR E DEVIA CAIR IMEDIATAMENTE»

Com o título, podíamos estar a citar Luís Montenegro. Mas não. É Álvaro de Castro, deputado da oposição e líder dos Reconstituintes. E a data é 21 de Julho de 1923.

20 julho 2023

COMO OS MORTOS A TIRO PODEM MORRER DE MANEIRA DIFERENTE, NA REALIDADE E NA FICÇÃO

Neste episódio da inenarrável vida quotidiana brasileira, o futuro morto, em vez de cair redondo, imóvel no chão, logo depois de alvejado e muito mais do que uma breve agonia acompanhada de umas sábias últimas palavras, ainda tem o descaramento de fugir a correr do local, para se ir deixar morrer fora do alcance das câmaras... Ao contrário do que os filmes sempre sugerem, o impacto de uma bala, mesmo que venha a ser mortal, pode ser mínimo no imediato.

A MORTE DE BRUCE LEE

(Republicação)
20 de Julho de 1973. Morte precoce - aos 32 anos - daquele que viria a ser o actor de referência dos filmes de artes marciais, Bruce Lee. Como acontecera quase vinte anos antes com James Dean, a sua morte vai preceder a eclosão do seu sucesso, transformando o actor num mito, muito embora aqueles que virão a ser os seus admiradores (e do género) não sejam propriamente do mesmo tipo de sofisticação dos de Dean. Os filmes de karatê dos anos 70 têm um argumento linear, pouco trabalho de interpretação, mas uma coreografia muito própria. Sobretudo, a novidade para os espectadores do Ocidente em 1973 era que o herói era um chinês e a acção decorria num ambiente chinês, só com algumas (poucas) concessões à presença de ocidentais. No vídeo acima, o início do filme O Dragão Ataca, um filme póstumo de Lee, repare-se como a assistência ao combate se veste de cores distintas conforme o lado em que se senta, ou como Bruce vence o combate imaculado, sem que o seu adversário o atinja uma vez sequer*. Mas nota-se que as cenas do combate são depois aprimoradas na montagem, acelerando-lhe o ritmo e acrescentando-lhe efeitos sonoros, embora para alguns fãs do género tudo aquilo parecesse natural, aprecie-se este último vídeo do casting para um filme do género em que alguns candidatos fazem uma triste figura de si mesmos.

* Compare-se isso com a coreografia do combate no ringue de boxe em Rocky (1976). A partir daquela época evoluíram duas escolas de abordagem quanto ao que acontece com o herói quando anda à porrada: numa delas, descendente desta do karatê, com protagonistas como Steven Seagal ou Jean Claude Van Damme, o herói distribui sem nunca receber troco; na outra, a de Harrison Ford ou de Bruce Willis, o herói passa o filme a enfardar mas está sempre pronto para mais uma.

19 julho 2023

O DESERTOR

Um qualquer canal de televisão norte-americano (acima, escolhemos o exemplo da NBC) consegue dedicar alguns minutos (neste exemplo, quase 4 minutos e meio) a noticiar o caso de um soldado norte-americano que se encontra detido (note-se a subtileza da expressão...) na Coreia do Norte, sem que, em algum momento da minuciosa exposição do que aconteceu, se procure adiantar uma explicação para ao que aconteceu ou se coloque a hipótese de que o soldado em causa tenha desertado voluntariamente. Noutras estações o caso é ainda mais dissecado, como acontece na CNN, envolvendo quatro especialistas(!) que, ao longo de dez minutos e meio(!), onde conseguem ter ainda mais tempo para (não) fazer precisamente o mesmo - (não) adiantar alguma explicação para o gesto do soldado americano. Compreende-se: na narrativa mediática nos Estados Unidos ninguém foge para a Coreia do Norte; é sempre ao contrário. Em contraste, a cadeia Euronews europeia (abaixo) explica num singelo minuto o que aconteceu, embora se note o cuidado em evitar tratar o soldado por aquilo que ele é: um desertor.
Adenda: A ficção continua. A administração americana pretende agora que «é provável» que o desertor «não esteja a pensar claramente». É irónico que era isto mesmo que as autoridades soviéticas diziam, há 30 anos, quando isso acontecia com os desertores deles. Os americanos devem pensar que, como a Guerra Fria acabou há mais de 30 anos, já podem ser eles a recuperar uma explicação que era já então tão ridicularizada... Outra Adenda: e foi preciso mesmo procurar muito, até se conseguir encontrar na revista The Economist (que, por sinal, é britânica...), a expressão tabu que as autoridades e toda a comunicação social americana se recusam terminantemente a empregar para descrever o que aconteceu: deserção, desertor.

O PROGRAMA "REGRESSAR" APLICADO ÀQUELES QUE ESTÃO APENAS DE PASSAGEM

Há quatro anos (1 de Maio de 2019) quando apareceu o Programa Regressar, ele parecia ser originalmente dirigido aos emigrantes portugueses que quisessem regressar ao país. Só que agora (22 de Junho de 2023) descobrimo-lo a ser usado por futebolistas argentinos que para cá vêm terminar as suas carreiras futebolísticas com um desconto de 50% nos impostos. Este género de iniciativas de captação, quando se verifica que são usadas perversamente, devem ser revistas e corrigidas: foi o que aconteceu - e bem! - com o caso dos Vistos Gold, com a praxe que foi pregada a Paulo Portas e as rectificações que ele introduziu naquela outra lei. E aqui, penso também que a ideia original do Programa não seria subvencionar a passagem por cá de uns futebolistas trintões de uma terceira nacionalidade. Só que aparentemente, e como é carnaval futebol, ao contrário dos russos e chineses mafiosos do Portas, parece que ninguém se atreve a querer levar a mal.

O BOMBARDEAMENTO DE ROMA

(Republicação)
19 de Julho de 1943. Há 80 anos Roma era fortemente bombardeada pelos Aliados. Entre as várias razões pelas quais a cidade permanecera relativamente incólume durante os quase quatro primeiros anos que então já levava a Segunda Guerra Mundial - era apenas o segundo bombardeamento que sofria - destacar-se-ia, decerto, o seu simbolismo como capital da cristandade. A acrescer a esse aspecto mais espiritual, colocava-se o mais concreto de que uma pequena parcela de Roma (44 hectares) que até era um país neutral: o Vaticano. A decisão de bombardear Roma só fora tomada pelos altos comandos aliados depois de ponderadas hesitações. Mas a sua situação central na península italiana, como nódulo das ligações rodoviárias e ferroviárias entre o Norte e o Sul de Itália e ainda os seus aeroportos (Littorio, Ciampino) tornavam-na num objectivo táctico indispensável de atingir para prejudicar a logística inimiga (especialmente a alemã), ainda para mais quando se combatia no Sul, depois dos recentes desembarques aliados na Sicília. Dessa vez foram catorze as esquadrilhas de bombardeiros da USAAF a lançar cerca de mil toneladas de bombas sobre a cidade milenar. Como era constante durante a época, a precisão do bombardeamento... não teve nada de preciso. Ficaram destruídos incontáveis edifícios civis, incluindo a Basílica de São Lourenço Fora de Muros. O contagem dos mortos e feridos provocados pelas bombas varia desde um mínimo de 719 mortos e 1.659 feridos até um máximo de cerca de 3.000 mortos e 11.000 feridos. Aproveitando o hiato deixado por um regime fascista em vias de se desagregar (e Benito Mussolini estava, nesse dia, longe de Roma, num encontro com Adolf Hitler), o papa Pio XII preencheu o vácuo político assumindo as suas funções pastorais como bispo de Roma, visitando e confortando as populações mais atingidas. Na imagem acima vêmo-lo recitando o «De Profundis». Em contraste, a limousine de Vítor Emanuel III, o rei, foi vaiada e apedrejada quando da sua visita aos bairros afectados.

18 julho 2023

O COMPÊNDIO VERSUS O VÍDEO

Ainda a propósito do espessíssimo «Barbarossa 1941 A Guerra Absoluta», há um grupo de frequentadores das redes sociais que se ilude, considerando que as suas 1880 páginas(!) podem ser substituíveis, em informação, por um vídeo de dez minutos que explique em que consistiu essa mesma operação Barbarossa. Este vídeo abaixo comprova-o. Um outro apresentador de vídeos históricos, em defesa da tese da aprendizagem soft e sem esforço, vai ao ponto de manusear displicentemente um grosso calhamaço com as memórias do marechal Jukov. A verdade é que cada qual é livre de escolher a profundidade com que quer conhecer qualquer assunto: dez minutos podem chegar perfeitamente para se saberem umas generalidades. Contudo, a quantidade de informação é que não é minimamente comparável. E quem despendeu dez minutos a ouvir umas coisas, não pode depois ter pretensões a discutir o tema em pé de igualdade com quem sabe muito mais sobre o assunto - algo que é, infelizmente, muito frequente nas redes sociais, fenómeno conhecido pelo efeito de Dunning-Kruger.

A SAGA DA LEITURA DOS «ESCRITOS AUTOBIOGRÁFICOS» DE ELIAS CANETTI

A propósito do espessíssimo «Barbarossa 1941 A Guerra Absoluta», livro com 1880 páginas(!), que ontem aqui elogiei e que me tomou uns dois meses de leitura atenta, lembrei-me da saga por que passou um amigo meu, com a leitura de um outro livro em francês, também assim espesso, e que pude acompanhar porque ele, prolífico leitor, foi dando conta através das publicações que foi fazendo no seu facebook.
O livro em questão intitula-se «Escrito Autobiográficos», o autor é Elias Canetti, que foi premiado com o Prémio Nobel da Literatura em 1981. O autor nasceu na Bulgária, emigrou para Viena, escrevia em alemão, a obra é portanto uma tradução. O livro apresenta-se robusto, contendo 1492 páginas(!), e o meu amigo João Carvalho Fernandes esmera-se nos elogios prévios, como se pode ler acima, na sua entrada de 14 de Janeiro (deste ano).
Convém explicar também que o meu amigo confere um certo aspecto epicurista às suas sessões de leitura, acrescentando-lhe invariavelmente uma bebida e um charuto. Repare-se também que ele é o género de leitor que gosta de se dispersar por mais do que uma leitura em simultâneo. No caso, a atenção por Canetti é compartilhada por um livro em português com contos de Gogol.
Para não se estar a ser desnecessariamente exaustivo, salte-se uma semana e constate-se que o livro de Gogol foi substituído por um thriller.
E os comentários tanto podem incidir sobre as leituras como sobre aquilo que as acompanha. Neste caso é a descrição do cocktail.
Mas as fotografias podem ser tão ou mais informativas do que os textos. Neste caso, e comparando os dois livros, não deixa de ser curioso apreciar o aspecto estimado, quase por estrear, do livro de Canetti depois de semanas de leitura, e isso apesar de lá estar entalado um marcador... O outro livro de Tom Rachman (uma tradução do inglês), já está com a capa um pouco tombada.
O livro de Victor Hugo vai ser despachado numa semana.
E o seguinte em quatro dias.
E esta irá ser a única referência - quantitativa e não qualitativa - sobre a leitura dos «Escritos Autobiográficos» de Elias Canetti. O livro continua com um aspecto impecável. Eu só tenho inveja, porque não consigo manter os livros em tão bom estado, quando os leio.
Como se vê, até há espaço para a leitura de originais portugueses...

E subitamente, depois de 11 de Março, ou seja, sensivelmente dois meses depois do anunciado início da leitura (como aconteceu comigo), o livro desaparece da companhia dos charutos, do cortador, do isqueiro e das bebidas. Terá coexistido com nove outros livros, entretanto lidos, total ou parcialmente...
Os «Escritos Autobiográficos» desaparecem, sem deixar rasto, sem mesmo uma sintética opinião final (como acontece com os outros livros, veja-se o exemplo que se lê abaixo). Mas também suponho que não seria necessária dar essa opinião: «as memórias» já haviam sido consideradas «verdadeiramente excepcionais» e haviam sido recomendadas ainda antes de ser lidas... Por isso, desconfio que já não terá sido indispensável tê-las lido verdadeiramente...

A FALÊNCIA DE DETROIT

(Republicação)
18 de Julho de 2013. A cidade norte-americana de Detroit declara a sua falência. A cidade tornou-se uma referência da indústria automóvel americana, e a evolução da sua população (quadro abaixo) acompanha a prosperidade e declínio dessa actividade nos Estados Unidos. Há precisamente cinco anos, devido ao declínio acentuado da actividade económica na cidade, em vias de se transformar parcialmente numa cidade fantasma, a administração municipal colapsou. Foi interessante ver como este episódio (e outros episódios semelhantes) recebeu, apesar das circunstâncias, uma atenção muito mitigada por parte dos media norte-americanos (e dos outros que os copiam). As falências estão para o capitalismo assim como a morte está para os nossos costumes: sabe-se que existe, é digno assinalá-las, mas quanto menos depois se falar delas, tanto melhor.