14 julho 2023

AQUILO QUE SE PODIA LER NA PRIMEIRA PÁGINA DO EXPRESSO DE HÁ CINQUENTA ANOS

14 de Julho de 1973. A edição daquele Sábado do jornal Expresso, mostrava como o novo semanário, em apenas seis meses, parecia estar a mudar a imprensa portuguesa. Na sua primeira página destacavam-se pelo menos quatro assuntos delicados, três deles em que se adivinhava que seriam temas em que a censura gostaria de intervir. O primeiro e principal era o caso do massacre de Wiriyamu, publicitado pela imprensa britânica em vésperas da visita de Marcello Caetano àquele país (partiria no dia 16). Outro tópico que também não se costumava ver acompanhado com tal destaque de primeira página era o da acção da polícia política, a D.G.S. Neste caso a notícia fora a libertação, «sob uma caução de dez contos», de dois estudantes que haviam sido presos por causa dos acontecimentos estudantis do princípio de Maio. Um terceiro assunto delicado era o dos conflitos laborais. Dois dias antes ocorrera um desses «incidentes» nas instalações da TAP no aeroporto de Lisboa (foto abaixo). A notícia pouco esclarecia sobre o que acontecera (notava-se que fora cortada pela censura), mas aparecia em primeira página, conferindo importância ao assunto apesar da truncagem. Por fim, ainda em primeira página, mas não preocupando tanto os censores como qualquer das notícias anteriores, o jornalista José Manuel Teixeira perguntava-se se a Oposição se tornaria a cindir para as eleições marcadas para finais de 1973, como já acontecera nas eleições de 1969 (entre a CDE e a CEUD). A pergunta subentendia algo de retórico, já que, por esta altura, se percebera quanto a via eleitoral seria irrelevante para a reforma do regime. Mas a verdade é que o Expresso de 1973 abordava em lugar de destaque uma data de assuntos incómodos.

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