02 julho 2023

QUANDO OS COMUNISTAS «DERAM UMA (ESPÉCIE DE) OPORTUNIDADE À PAZ»

2 de Julho de 1983. Para o final daquele mês estava marcado um festival em Tróia com o mote «Dêem uma oportunidade à Paz». O mote fora inspirar-se evidentemente à canção do já então falecido John Lennon, «Give peace a chance». Mas a associação com o movimento hippie e flower power dos anos 60/70 ficava-se só por essa fachada. A quase um mês da sua realização a dita «oportunidade para a Paz» já se embrulhara numa enorme controvérsia. O artigo que acima vemos, do Diário de Lisboa, dá conta dessa controvérsia, apreciada do lado dos comunistas (como seria de esperar naquele jornal), comunistas cuja organização internacional de juventude (FMJD), aparecia por detrás da organização do evento. Antecipadamente, a Juventude Socialista (o PS acabara de chegar ao poder com o governo do Bloco Central - PS/PSD) demarcava-se de uma iniciativa cuja agenda e narrativa a respeito da Paz estava completamente enfeudada aos objectivos da propaganda de Moscovo naquela época: contrariar «a instalação dos mísseis nucleares dos EUA em território europeu». Constate-se como, em contraste, os mísseis nucleares da URSS (já instalados) não eram por sua vez outro obstáculo para a Paz... O festival veio a revelar-se um semi-fracasso. Os Xutos & Pontapés, que lá foram tocar, queixaram-se daquelas precauções de segurança tipicamente comunistas, que colocaram «o público muito longe do palco». O governo também resolveu complicar a vida às delegações de jovens soviéticos e búlgaros que vinham a este lado da Cortina de Ferro manifestarem-se de uma forma que era interdita do outro lado dessa Cortina - não lhes autorizou os vistos. A verdade é que os comunistas, mesmo sem reconhecer a derrota, perderam a vontade de organizar mais festivais do género. (Também é verdade que os americanos instalaram os mísseis, e os russos teriam que inventar outros pretexto para a Paz....) Mas o que de mais interessante contém a notícia acima, é assistirmos a uma daquelas habilidades do nosso actual primeiro-ministro António Costa, já então dirigente da JS e, ao mesmo tempo, a presidir à associação de estudantes de Direito da Faculdade de Lisboa. Questionado sobre a posição de demarcação adoptada pela JS, ele considerava que a mesma «não necessita(va) de nenhum comentário», questionado sobre a adesão da associação de estudantes, respondeu que essa «era a posição correcta e que continua(va)mos a manter». Há pessoas que nascem com a vocação para dizerem nim (António Costa ia então fazer 22 anos...) sem que ninguém as censure por isso.

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