29 julho 2023

A ABERTURA DOS JOGOS OLÍMPICOS DE LONDRES 1948 E A NUTRIÇÃO DOS ATLETAS

O sol brilhava no Estádio de Wembley em Londres naquela Quinta-feira, 29 de Julho de 1948, quando os décimo quarto jogos da Olimpíada moderna foram formalmente abertos por George VI na presença de uma série de dignitários e uma multidão de mais de 80.000 pessoas. O Rei, em uniforme naval, fez-se acompanhar da Rainha e da Princesa Margarida. Lorde e Lady Mountbatten, acabados de regressar da Índia, estavam lá, assim como o xá do Irão e o secretário-geral das Nações Unidas, Trygve Lie. Os membros do Comité Olímpico Internacional desfilaram no relvado envergando todos uma anacrónica cartola. Os jogos atraíram cerca de 6.000 competidores de países que vão do Afeganistão à Jugoslávia. Os alemães e os japoneses não foram convidados e a União Soviética deixou-se ficar de fora. As anteriores Olimpíadas de 1944 tinham sido marcadas para se realizarem em Londres, mas haviam sido canceladas por causa da Segunda Guerra Mundial, e era uma compensação e também uma desforra que estes primeiros Jogos do após Guerra, necessariamente sóbrios, fossem os sucessores do evento de 1936 em Berlim, quando o regime nazi os havia empregado para sua descarada propaganda. Mas, tanto como estes aspectos mais intangíveis, outros despertavam a atenção num país onde passara a vigorar um racionamento alimentar ainda mais severo do que o imposto durante a guerra. Vindos de um país onde a escassez não existia, a dieta olímpica dos atletas da comitiva dos Estados Unidos era assunto de jornal, com a intenção inconfessa de deixar os seus leitores (britânicos) a salivar: «5.000 bifes com um peso total de 1.275 kg, milhares de costeletas, 15.000 barras de chocolate, 1.134 kg de presunto, 907 kg de Spam». Não é de estranhar que, no final dos Jogos, a equipa olímpica dos Estados Unidos tivesse sido a que mais medalhas olímpicas tivesse alcançado (84, das quais 38 de ouro), o que representava quase o dobro da equipa que se classificou em segundo lugar, a Suécia (44). Pode-se afirmar, com toda a propriedade, nuns jogos olímpicos em que as equipas olímpicas haviam tido de trazer o farnel de casa, que os atletas americanos haviam competido com 5.000 bifes de vantagem.

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