19 julho 2023

O DESERTOR

Um qualquer canal de televisão norte-americano (acima, escolhemos o exemplo da NBC) consegue dedicar alguns minutos (neste exemplo, quase 4 minutos e meio) a noticiar o caso de um soldado norte-americano que se encontra detido (note-se a subtileza da expressão...) na Coreia do Norte, sem que, em algum momento da minuciosa exposição do que aconteceu, se procure adiantar uma explicação para ao que aconteceu ou se coloque a hipótese de que o soldado em causa tenha desertado voluntariamente. Noutras estações o caso é ainda mais dissecado, como acontece na CNN, envolvendo quatro especialistas(!) que, ao longo de dez minutos e meio(!), onde conseguem ter ainda mais tempo para (não) fazer precisamente o mesmo - (não) adiantar alguma explicação para o gesto do soldado americano. Compreende-se: na narrativa mediática nos Estados Unidos ninguém foge para a Coreia do Norte; é sempre ao contrário. Em contraste, a cadeia Euronews europeia (abaixo) explica num singelo minuto o que aconteceu, embora se note o cuidado em evitar tratar o soldado por aquilo que ele é: um desertor.
Adenda: A ficção continua. A administração americana pretende agora que «é provável» que o desertor «não esteja a pensar claramente». É irónico que era isto mesmo que as autoridades soviéticas diziam, há 30 anos, quando isso acontecia com os desertores deles. Os americanos devem pensar que, como a Guerra Fria acabou há mais de 30 anos, já podem ser eles a recuperar uma explicação que era já então tão ridicularizada... Outra Adenda: e foi preciso mesmo procurar muito, até se conseguir encontrar na revista The Economist (que, por sinal, é britânica...), a expressão tabu que as autoridades e toda a comunicação social americana se recusam terminantemente a empregar para descrever o que aconteceu: deserção, desertor.

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