31 março 2019

UMA EVOCAÇÃO QUE É TAMBÉM UMA REFLEXÃO

Uma das notícias de há 75 anos era a realização de uma moção de confiança na Câmara dos Comuns que fora vencida convincentemente - 425 votos contra 23, uma maioria de 400 votos - pelo governo de guerra do primeiro-ministro Winston Churchill. Quem se quiser dar ao incómodo de ler abaixo os detalhes que haviam levado à apresentação da moção, aperceber-se-á que tinha havido uma proposta de emenda da Câmara a uma proposta governamental e que esta fora aprovada por uma maioria de um voto. Tal assomo de desrespeito fora suficiente para que Winston Churchill, com a exuberância e a teatralidade que se conhece ao actor político, promovesse esta moção. A atitude chega a ser de um despotismo antipático. Mas diga-se, em abono do primeiro ministro, que não era a primeira moção a que se submetia. Outras houvera, em circunstâncias muito mais difíceis e com um desfecho bem mais imprevisível e que ele vencera. Contudo, este episódio hoje completamente esquecido de há 75 anos, não pode ser lido nos dias que correm sem que façamos uma comparação com o que tem vindo a acontecer naquela mesma Câmara dos Comuns a propósito do Brexit. As circunstâncias serão, decerto, muito distintas, mas a verdade prosaica é que não imagino a primeira ministra Theresa May a avançar, ela, com uma moção de confiança. O seu último sucesso político registou-se numa moção que, parecendo ter o mesmo efeito, não representa politicamente a mesma coisa, quando ela sobreviveu a uma moção de não confiança apresentada pelo líder da oposição. Será por isso, talvez, que daqui por 75 anos, não se irá desculpar a May muitas das idiossincrasias que hoje se desculpam a Churchill.

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