Joan Tardà é um deputado catalão às Cortes espanholas, eleito desde 2004 nas listas da ERC (Esquerda Republicana da Catalunha). E a notícia é que ele não tenciona voltar a apresentar-se às próximas eleições legislativas de 28 de Abril. O que é uma pena. Tardà é alguém que, como dizia o slogan de Fernando Pessoa, «primeiro estranha-se e depois se entranha». E que, como o chato que é, só pode ser devidamente apreciado no estrangeiro, a uma certa distância. Como professor de língua e literatura catalãs (profissão mais teórica que prática, já que tem dedicado a sua carreira à política), a atitude de Tardà, de defesa intransigente do seu idioma face à hegemonia do castelhano que o Estado espanhol impõe em todos os seus procedimentos, tem-no feito protagonista de inúmeros momentos mediáticos, começando quase sempre por se expressar em catalão e forçando as autoridades a chamar-lhe a atenção para o fazer mudar de idioma. Uma das ocasiões mais recentes em que isso aconteceu foi quando compareceu como testemunha no julgamento dos membros da Generalitat catalã que estão a ser julgados pela realização do referendo independentista de 1 de Outubro de 2017.
Os comentários recriminatórios que lhe são dirigidos (e que recuperei para título), tornaram-se assim uma imagem de marca de muitas aparições televisivas de Joan Tardà. Como diz o juiz presidente no vídeo acima (ao seu pedido para que responda às perguntas do Vox em catalão), «...não começámos bem...». Na verdade, com Tardà e a sua insistência em falar catalão e perante uma superestrutura organizada desde sempre para impor o idioma castelhano (a que se chama impropriamente espanhol), é garantido que, com ele, raramente se começa bem. Continua melhor mas, reconheça-se que, de uma certa forma, Joan Tardà continua a sua saga numa espécie de atitude de guerrilha, empregando um castelhano arrevesadíssimo, num país, aliás, onde a prática de assassinar um idioma à custa de um sotaque que o torne ininteligível é prática social aceite... com o inglês. Mais a sério, e ainda a pretexto da questão linguística, outros comentários de Tardà merecem verdadeira reflexão. Exemplo, um de 2009, em que comentava que o rei (na época, João Carlos) não sabia falar nem basco, nem catalão, nem galego, mesmo depois de mais de 30 anos de reinado. Para bom entendedor e descontados aquelas coreografias em que o monarca lê um discurso preparado de antemão num idioma alheio, a ausência de qualquer desmentido veemente da parte do palácio real tem um significado ribombante. Ou, como se perguntava o nacionalista Daniel Castelão (1886-1950), embora o fizesse a respeito do galego, «Com que direito é que se nos obriga a aprender a língua de Castela, sem que se obrigue os castelhanos a aprender também a nossa?...»
A atitude de Joan Tardà é mais inconveniente do que radical, como se percebe aliás, pelo atitude a respeito dos mais recentes desenvolvimentos políticos na Catalunha (acima). Por tudo isso, porque é um chato, mas também porque incomoda, porque é pertinente e ao mesmo tempo ponderado, a sua saída é uma perda para todos.
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