28 março 2019

O MASSACRE DE SHELL HOUSE

28 de Março de 1994. A África do Sul de há precisamente 25 anos era uma incógnita quanto àquilo em que se viria a tornar. O regime da minoria branca encabeçado por F. W. de Klerk já acordara na cedência do poder para um outro regime, que fosse legitimado pelo voto popular de toda a população, mas aqueles que eram considerados os potenciais vencedores dessa disputa, que se travaria nas urnas dali por um mês, o ANC de Nelson Mandela, ainda não adquirira essa legitimidade. E, nas franjas da aproximação política em curso, as alas radicais que se lhe opunham, brandiam os seus argumentos. Entre os negros, a dissidência era composta pelo partido Inkhata, uma agremiação política dirigida por Mangosuthu Buthelezi, e que era composta fundamentalmente por zulus, um dos grandes grupos étnico-linguísticos. Previsivelmente, em vez de esperar pelo veredicto eleitoral, o Inkhata resolveu vir para a rua demonstrar a sua força diante do seu grande oponente ANC. A manifestação de há 25 anos, envolvendo umas 20.000 pessoas, algumas delas devidamente ataviadas com as tradicionais vestes guerreiras dos zulus, teve lugar em Joanesburgo e passaria diante da sede nacional do ANC, Shell House, um edifício de 22 andares na baixa da cidade. E foi dali que os serviços de segurança do ANC, acreditando num, ou invocando um plano dos manifestantes para assaltar as suas instalações, atiraram sobre a multidão. O número de mortos varia entre os 19 (oficiais) e os 53. O de feridos nem sequer é mencionado. Para o que verdadeiramente interessaria, três conclusões se extraíam do incidente:

a) Que o ANC aceitaria o desafio se o Inkhata quisesse assumir um crescendo de violência na disputa política.
b) Que o regime branco aproveitava de bom grado essa predisposição à violência, já que ela diluiria as responsabilidades pela repressão, durante a vigência do apartheid.
c) Que ao Inkhata restava aproveitar-se do capital de vitimização com o incidente, o seu massacre.


Quanto ao relatório do inquérito judicial, concluído três anos e meio depois, é extenso e maçudo e não conclui nada. Nem parece suposto que o fizesse.

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