14 outubro 2018

O ÚLTIMO COMBATE DO NRP AUGUSTO DE CASTILHO

14 de Outubro de 1918. A Grande Guerra está a menos de um mês do seu fim mas disso não sabia a tripulação do NRP Augusto de Castilho (acima) quando recebeu a missão de escoltar o navio San Miguel, que transportava 54 tripulantes, 206 passageiros, assim como várias toneladas de carga e que, tendo partido originalmente de Lisboa, acabara de escalar o Funchal (Madeira), prosseguindo agora a viagem até Ponta Delgada nos Açores. Como se percebe pela silhueta, o Augusto de Castilho não era um verdadeiro navio de guerra, concebido de origem para o efeito, apenas um arrastão armado (um naval trawler para empregar a terminologia de referência da Royal Navy),...
...uma antiga embarcação de pesca que fora reconvertida para uso militar através da colocação de peças de artilharia. Neste caso concreto do Augusto de Castilho, haviam sido duas: uma de 65 mm à proa e outra de 47 mm na ré. A comandá-lo encontrava-se o 1º Tenente Carvalho Araújo. Pelo raiar da aurora de há cem anos, os dois navios foram detectados pelo submarino alemão SM U-139, comandado por um veterano dos U-Boot, o capitão-tenente Lothar von Arnauld de la Perière. Dispondo de duas peças de 150 mm, o poder de fogo do submarino, mesmo à superfície e não fazendo uso dos torpedos, era incomensuravelmente superior ao da embarcação armada portuguesa.
Os alemães começaram a fazer fogo às 06H15. O que os navios portugueses podiam fazer eram apenas acções evasivas, nomeadamente criar uma cortina de fumo artificial que lhes permitisse a fuga enquanto o Augusto de Castilho atraía para si as atenções disparando a peça situada à ré. Em desespero de causa, o capitão Carvalho Araújo acabou por ordenar que o seu navio desse meia volta, aproando ao submarino, num sacrifício consciente, para que se aumentasse as possibilidades de fuga do San Miguel. A acção durou umas duas horas ao fim das quais o NRP Augusto de Castilho fora seriamente danificado, o seu capitão fora mortalmente atingido mas o San Miguel conseguira fugir.
Na perspectiva portuguesa tratou-se de um feito de armas que enobrece a sua Marinha de Guerra, o comandante Carvalho Araújo foi condecorado e promovido a título póstumo. Mas do ponto de vista da Kaiserliche Marine, há qualquer coisa de perturbador na banalidade como aquele assunto terá sido encarado pelos veteranos dos U-Boot, ao descobrir-se que uma parte da acção esteve a ser filmada(!). Ora, isto de transportar uma pesada máquina de filmar para o espaço confinado de um submarino e depois instalá-la na ponte, durante um combate, não deve ter sido tarefa simples. Mas, para o terem feito, é porque não devem ter considerado o combate muito renhido...

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