28 de Outubro de 1918. Se o 25 de Abril de 1974 de Lisboa ficou recordado pelos seus cravos, vale a pena evocar como, há cem anos e nas ruas de Budapeste, se iniciou um outro pronunciamento militar que também se iria caracterizar pelas flores ostentadas pelos soldados que nele participaram. Só que, como se estava no Outono, as flores escolhidas foram os crisântemos. O pronunciamento militar ocorre no quadro de uma cada vez mais previsível derrota das Potências Centrais na Primeira Guerra Mundial. E nas várias capitais e entre as nacionalidades do Império Austro-Húngaro começa o posicionamento político antecipando a desagregação daquela entidade prevista pelos quatorze pontos do presidente Wilson (nesse mesmo dia, em Praga, os checos proclamam a independência de um novo país chamado Checoslováquia).
Os húngaros haviam sido uma das nacionalidades privilegiadas sob o Império mas agora procuravam dissociar-se dele aquando da derrota. Organizações com designações bastante abrangentes, mas com escassa representatividade popular (em Budapeste era o Conselho Nacional Húngaro, em Praga chamava-se Conselho Nacional Checoslovaco), emitiam proclamações assumindo as rédeas de uma situação política fluída. Mas, mais importante para a imposição dessas vontades ditas revolucionárias era a sensação de saturação que grassava nas fileiras depois de quatro anos de guerra. Em Budapeste e em Praga em 1918, em Lisboa em 1974 ou em Petrogrado em 1917, não havia praticamente ninguém que defendesse o status quo e é por isso que, em alguns desses sítios, os revoltosos puderam embelezar-se, tal como as suas armas, com flores.
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