28 outubro 2018

CHECOSLOVÁQUIA 1988: UMA DEMOCRACIA POPULAR QUE NÃO ERA NEM DEMOCRÁTICA NEM POPULAR

Há precisamente cem anos, um Conselho Nacional Checoslovaco proclamou, em Praga, a independência de um novo país a que chamou Checoslováquia. Esse país hoje já não existe, mas esta evocação destina-se sobretudo a uma outra data, a de 28 de Outubro de 1988, há trinta anos, quando a Checoslováquia existia ainda, mas era proibido celebrar a data da sua proclamação. Como se pode ler no artigo acima (publicado no insuspeito Diário de Lisboa, já em rota de dissociação do comunismo mais ortodoxo), os comunistas checoslovacos, que haviam ocupavam o poder desde 1945, haviam tentado substituir a data do dia nacional pelo 9 de Maio, que fora o dia da libertação do país pelos soviéticos e a fonte de legitimidade do seu regime. Como acontece em todas as ditaduras, isso deu às comemorações do 28 de Outubro um carácter subversivo, que a oposição se apressou a explorar. Para as comemorações dos setenta anos do país, e como se pode ler também acima, as autoridades comunistas haviam detido preventivamente as figuras de maior relevo da oposição, incluindo Vaclav Havel (que se irá notabilizar tornando-se o primeiro presidente da Checoslováquia pós-comunista). Claro que isso não impediu que uma manifestação se realizasse no centro de Praga e que a mesma fosse dispersada à bastonada, seguida de uma data de detenções. Enfim, um clássico das ditaduras, de todas as ditaduras, que, não fosse a cegueira ideológica dos comunistas domésticos, mimetizava aquilo que por cá se passara até ao 25 de Abril de 1974, em datas como o 5 de Outubro ou o 1º de Maio. Mas, para esses quadrantes da esquerda totalitária e à semelhança do que hoje acontece com os simpatizantes de Trump, havia para eles uma verdade alternativa, que designava, por exemplo, aquelas ditaduras do Leste da Europa por democracias populares, que se notabilizavam pelo facto de não serem democráticas nem gozarem de qualquer popularidade junto do povo.

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