04 outubro 2018

AS «OUTRAS VISITADORAS»

Uma das notícias deste dia é a ruptura de relações entre as cidades de Osaka e São Francisco. A causa, explicam-nos, foi a inauguração na cidade americana de um monumento dedicado às "mulheres de conforto", uma expressão eufemística que se emprega para designar as mulheres que foram forçadas à prostituição nos bordéis militares japoneses durante a Segunda Guerra Mundial. O monumento é constituído por três estátuas, enfatizando o carácter internacional das mulheres que foram sujeitas a esse tratamento indigno, que eram, na sua esmagadora maioria, oriundas dos países que estiveram sob ocupação japonesa. As ancestralidades de cada uma das estátuas é reconhecível: há uma chinesa, uma coreana e uma filipina, nacionalidades que formam comunidades importantes naquela cidade americana da costa do Pacífico (assim como a japonesa...). Uma investigação mais aprofundada na internet permite-nos saber ainda, não apenas que a história já tem um ano de que a ruptura ora acontecida será apenas uma conclusão, como também ler quais as razões de queixa do presidente da câmara de Osaka. As razões são veementes, compreensíveis na sua intenção de proteger a reputação da comunidade nipónica versus as outras comunidades asiáticas, mas a sua argumentação é paupérrima e imagino difícil que se pudesse fazer melhor, porque o Japão bateu tudo e todos na crueldade do sistema. O que ali se expõe não é apenas "um dos lados da verdade", como argumenta Hirofumi Yoshimura: é a Verdade, porque o que está em causa já não são as alegações das partes de um julgamento, é a sentença da História. Com os métodos adoptados pelos japoneses assumiu-se escancaradamente que a prostituição se tornara apenas mais uma das componentes da logística dos exércitos. Nada que os outros exércitos não fizessem, mas de forma encapotada, como se constata em Pantaleão e as "visitadoras", um romance sarcástico escrito em 1973 pelo escritor peruano Mario Vargas Llosa a respeito precisamente desse aspecto da logística militar. Mas o que faz a grande diferença para esses outros casos é o facto de os japoneses povoarem os seus bordéis militares quase exclusivamente com mulheres estrangeiras recrutadas sistematicamente à força - incluindo até europeias(!), algo que as potências vencedoras da Segunda Guerra Mundial (e as suas opiniões públicas, correcções políticas à parte) jamais poderão perdoar aos japoneses...

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