10 janeiro 2012

OS FAMOSOS DEDOS DOS NÃO TÃO FAMOSOS

Percebe-se quanto a qualidade do jornalismo tem evoluído em prol das verdadeiras preocupações e gostos dos leitores quando encontramos ⅛ da primeira página do Correio da Manhã de hoje ocupado pela fotografia do dedo que Alexandre Lencastre resolvera dedicar aos repórteres daquele jornal no dia anterior, durante (mais) uma mundanidade qualquer que a actriz abrilhantara com a sua presença. Se bem me lembro, destaque equivalente dado a um dedo e àquele dedo em particular, apenas o de Ali Alatas quando era Ministro dos Negócios Estrangeiros da Indonésia e foi surpreendido a saudar efusivamente um grupo de manifestantes pró-timorense que o esperava. Mas aí a promoção justificava-se, porque havia um contraste enorme entre a espontaneidade daquele gesto e a atitude constantemente cordata e preocupada que o ministro indonésio procurava transmitir para a comunicação social.
Porém, o dedo mais dramaticamente fotografado pertencerá aos tripulantes do navio espião norte-americano USS Pueblo, quando estiveram em cativeiro na Coreia do Norte em 1968. A captura do navio em Janeiro de 1968 foi mais um daqueles episódios hoje esquecidos da Guerra-Fria. E a sua tripulação de 83 homens tornou-se um joguete das manobras diplomáticas que se seguiram. Sujeitos a todo o tipo de coacção física e psíquica, os marinheiros norte-americanos confessaram tudo o que lhes era exigido: que eram espiões (o que até era verdade!), que tinham desertado voluntariamente (o que já é mais duvidoso…), que estavam a adorar aquele período de cativeiro socialista (numa atitude que se veio depois a designar por bernardismo), etc. Foi por acaso que repararam que os seus captores não percebiam o significado do dedo. E foi por isso que o adoptaram como sinal dos seus verdadeiros sentimentos durante o cativeiro:
A história não tem final feliz porque os norte-coreanos aperceberam-se do real siginificado do dedo espetado ainda com os prisioneiros em cativeiro, o que não foi nada agradável para eles. Depois de muitas negociações e da satisfação das várias exigências norte coreanas, incluindo declarações e compromissos por parte dos Estados Unidos, os prisioneiros (menos um, entretanto falecido) vieram a ser libertados onze meses depois da captura, em Dezembro de 1968. Os Estados Unidos renegaram todos os seus compromissos, alegando que os fizera sob coacção e apenas tendo como fito a libertação dos prisioneiros.

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