30 novembro 2017

COMO EVITAR CUIDADOSAMENTE UM ASSUNTO


30 de Novembro de 1967. Há precisamente cinquenta anos, o Reino Unido concedia a independência ao Iémen do Sul. O documentário acima, mostrando as últimas horas da presença britânica na colónia, capricha na espampanância precisamente para esconder o quanto o processo de descolonização fora uma humilhação para as autoridades coloniais britânicas. A marcialidade da fanfarra da banda sonora acaba por destoar do conteúdo das imagens. Nelas, vêem-se as últimas malas dos soldados expedicionários a serem transportadas de helicóptero para os navios, mas sem se explicar que os britânicos já não controlavam as próprias instalações portuárias em Áden e não queriam correr os riscos de as carregar para bordo da forma tradicional; também por incapacidade em assegurar um perímetro seguro em terra, a última guarda de honra ao Alto-Comissário Humphrey Trevelyan, com o simbólico arriar da bandeira, teve lugar ao largo, a bordo de um navio, o HMS Intrepid. Um conjunto de pormenores verdadeiramente inconvenientes, que a frota de 25 navios deslocados para o resgate e a parada de aviões não consegue escamotear, apesar dos ângulos como as imagens são captadas. No mar, a Royal Navy podia-se prestar a tais cenas mas, se tivesse sido em terra, não haveria um único soldado britânico a almejar a duvidosa honra de ser o último a morrer no conflito para defender a presença britânica em terras iemenitas.
O tema é tanto mais pertinente quanto se constata o esquecimento que é dado a este cinquentenário por toda a comunicação social do Reino Unido. E essa omissão é tanto mais difícil de compreender quanto, precisamente hoje, a primeira-ministra Theresa May se encontra naquelas mesmas paragens do Médio Oriente, mais concretamente na Arábia Saudita, para discutir com o rei Salman a concessão de ajuda humanitária aos - adivinhem? - iemenitas (abaixo). Pois bem, em todo o Reino Unido não consegui encontrar um jornalista que fosse que tivesse feito essa aparentemente simples sinapse entre os dois acontecimentos. Parece-me que, pior do que se ter um passado colonial, será ter um passado colonial mal concluído...

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