21 novembro 2017

MIREILLE MATHIEU, QUANDO FOI A NOVA ÉDITH PIAF


21 de Novembro de 1965. Dá-se a estreia televisiva na ORTF da cantora francesa Mireille Mathieu, num daqueles programas de Domingo à tarde, em que se buscavam novos talentos. Se o talento de Mireille Mathieu pareceu promissor, a ascensão fulgurante da carreira da jovem de 19 anos deveu-se mais - pelo menos nesta fase inicial - a uma espécie de sentimento de orfandade que a morte de Édith Piaf (ocorrida dois anos antes) deixara na canção francesa. Mais do que pelos seus próprios méritos, Mireille Mathieu apareceu subitamente catapultada para a fama porque, quem a promovia se dirigiu a uma fracção da audiência que queria uma reedição de Piaf. Nesta outra aparição televisiva acima, que teve lugar pouco mais de um mês depois da tal estreia (a 26 de Dezembro), repare-se como, para além da voz, que é indiscutivelmente parecida, há todo um conjunto de pormenores, desde a roupa (simbólica em Piaf mas imprópria para uma miúda de 19 anos), ao acentuar deliberado da sua pequenez (é que Mireille é franzina - 1,53 - mas não tanto quanto Édith o era - 1,47), ao estilo de interpretação ou até ao próprio teor da canção, a sugerirem que a actuação se destina a ser uma reencarnação nostálgica - ou perto disso - das de Édith Piaf. Até a letra do tema que é interpretado - que tem por título O Natal da Rua - alude subtilmente às ascendências modestas de uma e outra, que a máquina promocional manipulada pelo empresário de Mireille não se cansava de enfatizar. Porém, o que a beneficiou inicialmente, veio a voltar-se depois contra a artista, dificultando-lhe a tarefa de criar um estilo próprio que a afirmasse individualmente, como é o caso deste Paris em Cólera do filme Paris Já Está a Arder?.

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