07 novembro 2017

7 DE NOVEMBRO: O INÍCIO MAS TAMBÉM O FIM DE UMA QUIMERA

Hoje 7 de Novembro de 2017, cumpre-se o centenário da Revolução Russa de 1917. Não vou referir-me a ela porque acontecerá com dezenas de outras evocações. O que valerá a pena, em complemento a elas, é lembrar um outro 7 de Novembro, esse de 1989, que como que encerrará o ciclo criado pela Revolução. Foi neste dia de há 28 anos que os poderes da antiga República Democrática Alemã ensaiaram uma última tentativa para se tentarem reformar e sobreviver ao colapso eminente. Egon Krenz, que se tornara no novo líder da RDA no mês anterior, demitiu o governo e anunciou a reforma da composição dos órgãos de cúpula do partido comunista este-alemão, como o politburo e o comité central. Hoje, sabe-se que tudo aquilo era muito pouco e muito tarde: o comunismo não se reforma. À falta de melhor, esta reportagem televisiva francesa daqueles dias mostra-nos os acontecimentos. Não deixa de ser uma ironia (fortíssima!) ver o camarada leste-alemão a queixar-se em 1989 do "terror das ruas", esquecendo-se provavelmente que fora através desse mesmo "terror das ruas", ainda mais violento se possível, que a ideologia que ele abraçara chegara ao poder em 1917...

«Os acontecimentos desenrolam-se cada vez mais depressa na Alemanha de Leste. Esta manhã o Politburo do Partido Comunista demitiu-se a pedido de Egon Krenz que ontem já havia demitido o Governo. Mas trata-se de concessões mínimas a uma população que duvida destes novos dirigentes. Como prova: desde ontem, mais 11.000 alemães orientais refugiaram-se na República Federal. Reportagem do nosso enviado especial a Berlim Leste, Philippe Rochot:

A Voz Única do Socialismo. É por detrás deste emblema que o Comité Central do Partido Comunista alemão oriental se irá metamorfosear, depois das demissões do Politburo sob a palavra de ordem: a renovação é a única hipótese para que o SED possa conservar a escassa confiança que lhe resta junto da população. Essa população aguardava esta manhã com impaciência a abertura dos quiosques. Só a velha guarda parece inquieta com as demissões:
- Espero que o comité central vá encontrar soluções em todos os domínios e que nós saiamos de tudo isto.
- Você é do partido?
- Desde há 60 anos que sou camarada, membro do partido.
- E o que é que pensa destas manifestações?
- Eu por mim considero que é o terror das ruas.
Malgrado a grande subversão, a renovação já começou, por exemplo, na televisão alemã-oriental que não teve dúvidas em transmitir as manifestações em volta do edifício da sede do Comité Central pedindo eleições livres, depois dos jornalistas se terem desculpado perante o público por o haverem enganado durante 40 anos. É o elemento novo na vida do país. Aqui, ainda, o novo porta-voz do Governo apela em directo aos cidadãos para que não cedam à tentação do êxodo para a Alemanha Federal e a permanecerem. «Precisamos de vós», diz ele, «precisamos da vossa força». Tudo isso ao mesmo tempo que, enquanto uma das figuras da oposição, Bärbel Bohley, intervinha para dizer que se mostrava céptica quanto ao futuro, a televisão anunciava as demissões do governo e, esta manhã, do politburo do partido comunista este-alemão. Com esta cascata de demissões no momento em que se inicia a reunião do comité central do partido comunista é toda «a rua» que fica com a impressão de ter alcançado uma vitória já que era «a rua» que pedia ontem nas ruas de Leipzig e de Berlim Leste a demissão dos dirigentes e que queriam homens novos.»

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