07 novembro 2017

OS COMUNISTAS E AS ELEIÇÕES PORTUGUESAS

Em dia de centenário vale a pena evocar, através desta fotografia simbólica, a participação dos nossos comunistas nos primeiros actos eleitorais depois do 25 de Abril. A fotografia mostra Álvaro Cunhal o secretário-geral do PCP a receber o boletim de voto para as primeiras eleições presidenciais que tiveram lugar em 27 de Junho de 1976 (reconhece-se facilmente que o boletim tem apenas quatro concorrentes). Para essas eleições, Cunhal e o PCP haviam feito uma opção que se virá a revelar completamente errada. Depois de terem recolhido 789.000 votos (e 40 deputados) nas primeiras legislativas eleições de Abril, progredindo cerca de 2% (+10 deputados) em relação ao resultado que o partido tivera nas constituintes do ano anterior, o colectivo que o dirigia decidiu-se a apostar numa candidatura demonstrativa da consolidação da sua força eleitoral e apresentou uma candidatura isolada de um militante seu, Octávio Pato, submetida ao lema "Assim se vê a força do PC!". Apanharam uma tareia monumental: o candidato comunista ficou no último lugar, foi o que recebeu menos votos dos quatro (365.000), menos 423.000 para ser mais preciso, quando feita a comparação com os votos que o PCP recebera nas eleições legislativas apenas dois meses antes. Pela análise da transferência desses votos concluía-se que mais de metade dos votantes do PCP havia preferido outras candidaturas, a começar pela de Otelo Saraiva de Carvalho que alcançara um surpreendente 2º lugar. Nessa noite de 27 de Junho caiu um mito em que os próprios dirigentes comunistas mostraram ter acreditado: a de que o eleitorado comunista era muito disciplinado. Talvez fosse verdade nos países comunistas do Leste da Europa, mas nos da Europa Ocidental, onde as eleições eram verdadeiramente livres, até os eleitores comunistas exerciam as prerrogativas dessa liberdade.

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