30 agosto 2015

O TEMPO EM QUE OS ALEMÃES FIAVAM

Não costuma ser valorizado que, quando da eclosão da Guerra Civil de Espanha (1936-1939), foi o governo republicano legítimo que conseguiu ficar com as reservas de ouro que o país havia acumulado. E que reservas! Recorde-se que a Espanha se mantivera neutra durante a Primeira Guerra Mundial e que, por causa disso, robustecera o seu tesouro até às 700 toneladas de ouro – as quartas maiores mundiais de então, depois das norte-americanas, britânicas e francesas. O destino de ¾ desse ouro, transferido para a União Soviética durante a Guerra Civil é, ainda hoje, assunto de controvérsia, mas, para o que nos importa, é que os insurrectos, que mais tarde vieram a ser conhecidos por nacionalistas e a vencer o conflito, o começaram sem grandes meios financeiros para alimentar e sustentar a máquina de guerra necessária para vencer.
Os italianos e os alemães (e também os portugueses) que os apoiaram desde a primeira hora – Julho de 1936 – fizeram-no por razões ideológicas e, surpresa para quem tem ouvido falar da falta de confiança alemã para com os seus parceiros meridionais nestes tempos que correm, fizeram-no a crédito. Hitler fiou a Franco e mais, se Franco pedira originariamente 10 aparelhos de transporte Junkers Ju-52 (acima), Hitler entregou-lhe 20 para que se acelerasse o transporte aéreo do contingente rebelde destacado em Marrocos para regressar à Espanha propriamente dita. Mesmo não havendo ouro nos cofres os alemães não se mostraram esquisitos e aceitaram ser pagos posteriormente em géneros, em matérias-primas como minério de ferro, de cobre, volfrâmio ou mercúrio. Mas isso já não é propriamente novidade, o anormal foi a demonstração de confiança.

2 comentários:

  1. E ja nao fiam? Essa seria uma muito ma noticia... Sera que se estao a inspirar na actuacao da Russia durante o conflito espanhol?
    Eh que nos, mesmo sem guerra, conseguimos dar rapidamente sumico a 500 toneladas de ouro e, mesmo assim, nao escapamos a 3 bancarrotas. Eles vao considerar as trezentas e tal que ainda nos restam peanuts...

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  2. As toneladas eram mais de 800, algumas centenas foram vendidas desde aí e as que ficaram (380, ou seja 45%) serviram e servem de colaterais a empréstimos. O papel de referência do ouro na finança internacional é que se alterou substancialmente desde esses tempos. Neste momento é uma commodity como outra qualquer.

    Mas voltando ao verdadeiro tema em causa haja quem aposte que a confiança alemã na Grécia renascerá no dia em que a Aurora Dourada ganhar as eleições gregas. Talvez seja por instinto...

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