20 agosto 2015

QUANDO O «PREC» CHEGOU ÀS CAPAS DA COLECÇÃO VAMPIRO...

A literatura policial é hoje um género praticamente desaparecido. Ao perguntar-se hoje, numa conversa, se alguém conhece Hercule Poirot ou Sherlock Holmes fica subentendido se alguém os conhece das séries de televisão. Teremos um intelectual quando alguém leu um dos livros de Agatha Christie ou de Conan Doyle e estaremos numa tertúlia deles quando alguém mostra conhecer outros autores do género (por exemplo Erle Stanley Gardner e Perry Mason ou Rex Stout e Nero Wolfe). Mesmo assim convém ser-se precavido no que se ouve: já me deparei com alguém que pretensiosamente pretendia ter lido todos os Maigrets, embora ignorasse por completo que Georges Simenon havia escrito 75 romances (além de 28 contos) com o famoso comissário. Todo este preâmbulo serve para realçar a dificuldade em explicar pelos padrões de hoje o que era a importância intelectual de uma colecção como a Colecção Vampiro (acima). Começada em 1947, todos os meses saía um exemplar da colecção da autoria de um grande mestre da literatura policial em livros de bolso cuja qualidade das capas são hoje reconhecidamente elogiadas.
Qualquer pessoa daqueles tempos comprara e/ou lera um punhado deles por causa de uma férias, de uma convalescença ou de um qualquer outro período de lazer. Até que em 1975 me deparei com o nº 340 da colecção (acima) naquilo que se poderia considerar uma ruptura verdadeiramente revolucionária com a tradição de 28 anos. O autor S.S. Van Dine (1888-1939) até era um dos tais mestres da literatura policial e o herói Philo Vance um dos consagrados do género, embora a obra (The Gracie Allen Murder Case – 1938) já fosse uma das tardias, consideradas menores, do autor, mas o que impressionava no exemplar daquele mês era o título, Perfume e Morte, e sobretudo a capa, enfeitada com um exuberante par de mamas nuns lençóis como se se tratasse de uma novela porno, cuja razão para a exibição em destaque não se percebia, mesmo depois da leitura do livro. Recorde-se que por esses anos se vivia não só em Portugal mas também na Europa o apogeu do estilo de apresentação bardasco-progressista de que um exemplo inolvidável é o filme A Mãe e a Puta (abaixo), três horas e meia inesquecíveis realizadas por Jean Eustache.

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