30 agosto 2015

O BONECO E OS BONECOS

Acorde-se que a imagem supra bem poderia ser aproveitada para um cartaz da coligação ou então tornar-se um trecho subliminar para os seus tempos de antena da próxima campanha eleitoral. Mas não. Trata-se apenas uma passagem do telejornal da RTP2 de anteontem, 28 de Agosto de 2015. Dizer que a imagem de Pedro Passos Coelho recebe ali um tratamento favorecido é um understatement. Imagine-se, por momentos e para comparação, se seria possível que Jerónimo de Sousa fosse apresentado antes de uma qualquer notícia expectável por uma fotografia igualmente sorridente e simpática enquadrada por detrás também pelo escudo nacional e, já agora, pela foice e pelo martelo... O mais interessante será porém que a notícia que serve de pretexto para tal boneco tem muito pouco a ver com o investir no interior e se revela afinal uma não notícia porque, nas palavras do próprio apresentador João Fernando Ramos, o primeiro-ministro recusa fazer cenários do governo até às eleições ou, como surgiu em rodapé (cerca dos 21 minutos de telejornal), Passos não fala dos “compromissos” de Cavaco. O microfone surgiu diante de Passos Coelho para que ele dissesse que não dizia nada...
Mas tudo o que acima se descreve faz parte de uma paisagem infelizmente tradicional da assimetria entre a cobertura noticiosa do governo e da oposição na televisão. A surpresa, a inocência e/ou a ignorância surgem quando descubro no facebook o apresentador João Fernando Ramos naturalmente brioso do seu trabalho, a usar precisamente a mesma imagem que acima destacámos para ilustrar e publicitar o seu trabalho durante a emissão que protagonizou e aí surge-me a pergunta, que creio pertinentíssima: independentemente de terem que o fazer, já que se trata de profissionais de televisão, será que esses profissionais se aperceberão dos jogos de que por vezes fazem parte?...
Adenda: Porque a abstracção é um exercício complicado, alguém me sugeriu que montasse o fundo da notícia como se ela fosse a respeito de Jerónimo de Sousa tal qual sugiro no texto, para realçar porque certos políticos são retratados de forma favorável e outros nunca o são. Eis Jerónimo (com Heloísa) numa montagem pouco sofisticada mas à qual, existindo realmente e passando durante o telejornal, tenho a certeza que os comunistas nunca poriam objecções...

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