O fluir do tempo pode pregar partidas. Já lá vão mais de trinta anos e, em vez da memória dar importância aos que mais se destacaram durante o PREC, hierarquizando-os por ordem de importância conforme o grau de envolvimento no processo, empurra-nos para faces e vozes daqueles que o atravessaram dando mostras de não estarem nada imbuídos do espírito da época, com um grau de distanciamento e uma espécie de olhar trocista sobre a loucura colectiva que envolveu Portugal naquela altura, a que o tempo encarregou de lhes darmos razão.
Joaquim Magalhães Mota foi um dos fundadores do PPD (Partido Popular Democrático, hoje PSD) em Maio de 1974 e foi em representação do partido que fez parte do II, III e IV governos provisórios de Vasco Gonçalves, nas funções de ministro sem pasta (com Mário Soares e Álvaro Cunhal), e onde se criou o trocadilho que o tornou conhecido: de Magalhães Mota, Ministro sem Pasta, para Magalhães Pasta, Ministro sem Mota… Não devem ter sido tempos fáceis para o PPD e seus representantes, apesar do partido se reclamar também do caminho para o socialismo…
Como exemplo de pormenor mas significativo, lembro-me da ordem por que eram apresentados os ministros sem pasta (representantes dos partidos) pertencentes ao IV governo provisório que estiveram presentes nas cerimónias da independência de Moçambique, que se realizou a 25 de Junho de 1975: Álvaro Cunhal, Mário Soares, Pereira de Moura (do MDP/CDE) e Magalhães Mota… Ora os resultados da vontade popular das eleições de 25 de Abril de 1975 (precisamente dois meses antes) tinha ordenado os partidos políticos de uma maneira muito distinta daquela que era enunciada pela comunicação social*…
Mas a imagem de marca que recordo de Magalhães Mota é a televisiva, num daqueles programas de política pura e dura (Responder ao País), onde foi entrevistado por jornalistas claramente engajados** (como então era costume), que lhe faziam perguntas onde a preocupação predominante era a de demonstrar como o PPD era um partido desenquadrado do PREC, e do seu olhar, onde se misturava uma certa bonomia com a ironia com que ouvia a arenga, enquanto atacava, acendia e puxava grossas fumaças de um enorme cachimbo*** para depois responder de uma forma arrastada e exasperadamente calma. Outros tempos, outro partido, apesar de também ter problemas de liderança naquela altura…
* O PS (Mário Soares) tinha tido 37,9% dos votos, o PPD (Magalhães Mota) 26,4%, o PCP (Álvaro Cunhal) 12,5% e o MDP/CDE (Pereira de Moura) apenas 4,1%. Não sendo pelo socialismo, o CDS (de Freitas do Amaral), com 7,6%, não fazia parte do governo.
** Adelino Gomes, José Carlos Megre e José Manuel Galvão Teles.
*** Nos tempos em que se podia fumar na televisão...
Como exemplo de pormenor mas significativo, lembro-me da ordem por que eram apresentados os ministros sem pasta (representantes dos partidos) pertencentes ao IV governo provisório que estiveram presentes nas cerimónias da independência de Moçambique, que se realizou a 25 de Junho de 1975: Álvaro Cunhal, Mário Soares, Pereira de Moura (do MDP/CDE) e Magalhães Mota… Ora os resultados da vontade popular das eleições de 25 de Abril de 1975 (precisamente dois meses antes) tinha ordenado os partidos políticos de uma maneira muito distinta daquela que era enunciada pela comunicação social*…
Mas a imagem de marca que recordo de Magalhães Mota é a televisiva, num daqueles programas de política pura e dura (Responder ao País), onde foi entrevistado por jornalistas claramente engajados** (como então era costume), que lhe faziam perguntas onde a preocupação predominante era a de demonstrar como o PPD era um partido desenquadrado do PREC, e do seu olhar, onde se misturava uma certa bonomia com a ironia com que ouvia a arenga, enquanto atacava, acendia e puxava grossas fumaças de um enorme cachimbo*** para depois responder de uma forma arrastada e exasperadamente calma. Outros tempos, outro partido, apesar de também ter problemas de liderança naquela altura…
* O PS (Mário Soares) tinha tido 37,9% dos votos, o PPD (Magalhães Mota) 26,4%, o PCP (Álvaro Cunhal) 12,5% e o MDP/CDE (Pereira de Moura) apenas 4,1%. Não sendo pelo socialismo, o CDS (de Freitas do Amaral), com 7,6%, não fazia parte do governo.
** Adelino Gomes, José Carlos Megre e José Manuel Galvão Teles.
*** Nos tempos em que se podia fumar na televisão...
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