Segunda-Feira, 31 de Maio de 1982. O concurso que elegera a Miss Portugal 82 fora já na antevéspera à noite, mas o Diário de Lisboa não deixava de dispensar uma parcela substancial da sua página 24 ao tópico, embora não propriamente ao que acontecera no Casino Estoril. O artigo, a quatro colunas, e da autoria do jornalista de Abril (de Abril era o código da época para comunista) Eduardo Miragaia, tinha o título de: Já não nos falta tudo - Portugal tem miss 82. Estava muito longe de ser um primor de informação: o jornalista discorria sobre imensos assuntos e pessoas - a jornalista Vera Lagoa, o ministro Ângelo Correia - mas acabava o texto sem ao menos informar os leitores como se chamava a nova Miss Portugal 82 (Ana Wilson). Uma lástima! Faltou-lhes espaço para isso, mas sobrou-lhes espaço para dedicar ao aditamento que se pode ler abaixo, uma entrevista a Maria Teresa Horta, que fora «uma das camaradas da informação presentes no Casino» e que «tivera (...) uma recepção hostil». O feminismo exuberante de Maria Teresa Horta era conhecido... e é a própria a reconhecer que terão sido até algumas das concorrentes a tomarem a iniciativa de protestarem pela sua presença em trabalho nos bastidores do certame. A visada é que não «concebia» porque é que «protestavam contra a presença dela» se ela «não tinha nada contra elas», mas contra «um sistema social (...) que explora a mulher...». Não tendo concorrido, há ali involuntariamente um fenómeno de consagração irónica de Maria Teresa Horta como uma chatarrona, eleita espontaneamente e por aclamação a Miss Antipatia 82!
Para quem desconheça, é tradicional nestes concursos de misses, as concorrentes elegeram entre si por votação, aquela que consideram mais simpática e que recebe o título de Miss Simpatia.