(Porque hoje se completam 120 anos da data, republica-se este texto, narrando a erupção do Monte Pelée na Martinica, que destruiu completamente a cidade de Saint Pierre)
Tal como Pompeia, a cidade romana que em 79 foi destruída durante uma erupção do Monte Vesúvio, também a cidade francesa de Saint Pierre, na Martinica, uma das Antilhas, fora construída à sombra de um vulcão – baptizado de Monte Pelée. Muito do que então aconteceu a Pompeia – acima, vemos uma reconstituição feita por computador da erupção – sabe-se não só pela discrição de uma testemunha presente no local (Plínio-o-Jovem) e cujo relato sobreviveu até aos nossos tempos, como também pelo resultado dos trabalhos de arqueologia, que desenterraram cerca de 2.000 vítimas. A erupção do Monte Pelée que destruiu Saint Pierre ocorreu em 1902, foi narrada por várias testemunhas, foi fotografada por outras e causou quase 30.000 mortos…
Já por duas vezes, em 1792 e 1851, o vulcão já dera sinal de si, em pequenas erupções. Apesar disso, Saint Pierre continuava a ser a capital económica de Martinica. A sua rival política, Fort-de-France além de ser insalubre, estava sujeita a terramotos (o de 1839 quase a destruíra totalmente) e a furacões (o de 1891 causara mais de 400 vítimas). Saint Pierre, com 26.000 habitantes superava em importância a sua rival com 17.000 – mas onde residia o governador! Louis Mouttet era um francês metropolitano de origens modestas, experiência colonial prévia mas sobretudo possuidor de umas boas conexões políticas que lhe haviam conseguido aquele cobiçado lugar onde chegara apenas em Dezembro de 1901, cinco meses antes dos primeiros sinais de mais uma erupção…
Todas as narrativas posteriores aos acontecimentos são unânimes na presciência de que os sinais dados pelo vulcão mostravam que aquela erupção iria ser diferente das outras mas a realidade deve ter sido bastante diferente. Os primeiros sinais significativos de que algo podia vir a acontecer datam de finais de Abril e, recorde-se, está-se em 1902, muito antes da vulcanologia se ter tornado uma ciência(*). O que se pedia ao governador – a evacuação parcial ou mesmo total de Saint Pierre – era uma medida que teria tido um impacto tremendo nos equilíbrios económicos e políticos da Martinica, estabelecidos pela rivalidade entre as duas cidades principais. A fazê-lo, ainda para mais para um governador recém-chegado, Louis Mouttet só o faria mesmo em caso de força maior.
Alguns minutos antes das 8 da manhã do dia 8 de Maio de 1902, aquilo que um observador descreveu como uma coluna de fogo que calculei que tivesse uns 350 metros de altura precipitou-se sobre a cidade. Estendeu-se até ao porto, alcançando os navios ali ancorados. Em três minutos Saint Pierre foi completamente devastada. Mas não só. A explosão devastou uma área de 58 km² em redor do Pelée. Na cidade propriamente dita houve apenas dois sobreviventes e o número total de vítimas foi mais tarde calculado em 29.933. 1 em cada 7 habitantes de Martinica morreu naqueles escassos minutos daquela manhã. Saint Pierre tem hoje a aparência paradisíaca desta última fotografia mas a sua população (4.500) é apenas uma pequena fracção da que foi outrora…
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