07 novembro 2019

A MINHA DIVERGÊNCIA QUANTO À RAZÃO PRINCIPAL PARA A NOSSA NÃO CONVERGÊNCIA

A pretexto de assinalar os trinta anos da queda do Muro de Berlim, o Le Monde publicou um artigo muito interessante onde se evidenciam as diferenças que continuam a substituir entre as duas antigas Alemanhas. Um encadeado de mapas, que cobrem indicadores sociais e económicos que vão da crença em Deus ao número de automóveis em circulação mostram uma discrepância nítida e ainda actual entre wessies e ossies. Mas o gráfico e mapa que mais me interessaram naquele artigo foi este que exibo acima e que mostra a diferença de rendimentos entre as duas Alemanhas. Mais do que a sua subsistência, o facto de que essa diferença (média) se tem vindo a ampliar: era um pouco superior a 2.000 € em 1997 e é de 3.600 €, de acordo com os últimos dados disponíveis (2016). Nitidamente, nestes últimos 30 anos, as antigas regiões da RDA não têm convergido com as do resto da Alemanha. E esta é uma conclusão pertinente para justapor a um estudo do Banco de Portugal que foi apresentado há menos de um mês por Carlos Costa (abaixo) em que se apresentavam uma data de causas - ineficiência do sistema judicial, reduzida dimensão das empresas, fraca qualidade da gestão empresarial, baixo investimento em inovação - para que a economia portuguesa não convergisse «com a Europa».
Pois bem, tão disparatado me parece ser o excesso de auto-indulgência quanto, neste caso de Carlos Costa, será o excesso de auto-martirização. As razões apontadas por Costa parecem-me importantes, mas serão as primordiais? É que, neste caso da Alemanha, o sistema judicial é até o mesmo, e com o desaparecimento da fronteira interna, a questão da dimensão das empresas, da sua gestão e da sua política de investimentos tornaram-se comuns aos dois lados: praticamente todas as antigas empresas estatais da RDA foram compradas por congéneres da Alemanha Federal. As explicações de Carlos Costa não podem explicar o que justifica o facto de a antiga RDA permanecer substancialmente mais pobre do que a antiga RFA. E será que essas explicações serão o factor principal para aquilo que acontece em Portugal? Tenho muitas dúvidas. Talvez porque a Alemanha unificada e, por maioria de razão, a União Europeia, sejam estruturas que não têm quaisquer preocupações em assegurar a tal de convergência entre quem a compõe. Não será bonito de reconhecer, mas é verdadeiro: se os alemães de Oeste não se preocupam com a convergência de rendimentos dos seus compatriotas do Leste porque o hão-de fazer com estrangeiros como nós? Que tal Carlos Costa encabeçar as suas análises com essa sã evidência? Por ser politicamente incorrecta? É que assumir isso não interferiria com a atitude que devemos adoptar para tentar ultrapassar o nosso atraso mas, ao menos, deixamos de andar a dizer asneiras... Recorde-se que o muro de Berlim caiu há trinta anos e que Portugal aderiu à CEE há trinta e três.

2 comentários:

  1. Mais reveladora é a não-convergência do Sul italiano, apesar do muito dinheiro que a União Europeia para lá despejou ao longo de decénios.

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  2. "Mais reveladora é a não-convergência do Sul italiano..."

    Mais reveladora de quê? Chegou a perceber o texto, Luís Lavoura?

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