24 abril 2016

PELO CENTENÁRIO DA REVOLTA DA PÁSCOA EM DUBLIN, NA IRLANDA

Em 1916 a Páscoa calhou a 23 de Abril. Estava-se em plena Grande Guerra. A relação da Irlanda com o resto do Reino Unido continuava a ser um assunto delicadíssimo. Depois de décadas de confrontação política e de um processo moroso e complicadíssimo (1911-14), viera a ser concedida finalmente autonomia à Irlanda (conhecida por Home Rule) mas apenas para a ver suspensa por causa da eclosão da Guerra em Setembro de 1914. A frustração acabou por se revelar um estopim para que o nacionalismo irlandês se expressasse de formas cada vez mais radicais. A Revolta armada veio a ter lugar ao meio-dia de 24 de Abril de 1916, a Segunda-Feira que se seguiu à Páscoa. Participaram nela cerca de 2.000 homens e o principal objectivo dos revoltosos era controlarem militarmente Dublin, a capital irlandesa. Contavam com a fraqueza do dispositivo militar e policial dos britânicos, sugado por vinte meses de desgaste nas várias frentes de combate da Grande Guerra.
Conseguiram o seu objectivo, pelo menos numa grande maioria da cidade. O Quartel-General dos Revoltosos passou a ser o edifício central dos Correios de Dublin. A esmagadora maioria da população dublinesa manteve-se indiferente. De uma certa forma, tratava-se de uma revolução no mesmo género daquela que havia ocorrido em Lisboa a 5 de Outubro de 1910 - fora o telégrafo a anunciar ao país a mudança de regime. Só que na Irlanda havia uma grande diferença: os derrotados britânicos possuíam não apenas tropas fieis no resto da ilha, sobretudo no Ulster, mas também possuíam infindáveis reservas à distância de 100 km, do outro lado do Mar da Irlanda. Por isso, ou se contava com a desistência dos britânicos perante o facto consumado ou, sem ela e perante um confronto simétrico com o exército britânico, a Revolta dos civis armados irlandeses tornar-se-ia numa estupidez sangrenta, o que veio realmente a acontecer.
O resto da sua história é previsível, que a bravura pessoal dos conjurados é irrelevante nestas circunstâncias - o que conta é o poder de fogo. Cinco dias depois, a 29 de Abril, os revoltosos estavam confinados ao edifício central dos Correios, submetido a um intenso bombardeamento de artilharia. As forças lealistas montavam a 16.000 homens. Os líderes da Revolta renderam-se sem condições. Uma apreciável maioria das baixas foram civis e a maioria delas foram causadas pela artilharia dos britânicos, que foi empregue destrutivamente na cidade para desalojar os rebeldes. Isso, conjugado com as sanções severíssimas aplicadas aos rebeldes - 3.500 detenções, 190 julgamentos em tribunal marcial, 90 condenações à morte, 15 efectivamente executadas - criaram a alienação completa da esmagadora maioria da opinião pública irlandesa. No último momento e nesse aspecto, a Revolta acabou por se vir a revelar uma vitória irlandesa.

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