04 abril 2016

A NECESSIDADE DE UMA REFORMA NA SEMÂNTICA POR CAUSA DA SEMÂNTICA DA REFORMA

(...) Vai haver corte significativo de despesa? Corte significativo de funcionários públicos? Redução do peso do Estado? Se isso... Porque é a isso a que normalmente se chamam reformas. Reformas não são apenas medidas políticas... Medidas políticas, o PC(P) tem muitas e certamente que algumas úteis e benéficas. Mas reformas neste sentido não, não faz parte do ADN do partido. (...)

Pedro Mexia (Governo Sombra de 3 de Abril de 2016 aos 51:30)
No mesmo fim de semana em que o PSD realizava mais um Congresso (o 36º) escarrapachando em fundo a palavra REFORMISTA, qualquer que fosse a sua função e significado (que o Congresso não serviu para o esclarecer), podia-se ouvir uma das vozes mais moderadas, cultas e válidas da direita conservadora a cair na armadilha semântica da palavra reforma. Porque, segundo Mexia e conforme se lê acima, a palavra não pode ter outro significado senão o da redução do âmbito de intervenção do Estado e das suas funções. O contrário disso designar-se-á por medidas políticas e, em retrospectiva e usando um exemplo que creio que o próprio acolheria com interesse, acaba por não se perceber lá muito bem por aquela lógica o que o Partido Trabalhista britânico esteve a fazer entre 1945 e 1951, quando ocupou o poder e criou o Welfare State na Grã-Bretanha. Imagine-se que há dissidentes que lhe chamam reformas...

2 comentários:

  1. Caro A. Teixeira: Eu não digo que a palavra «reforma» seja um sinónimo de «cortes na despesa pública», é claro que não é; apenas disse que as «reformas» tantas vezes mencionadas no debate europeu vão nesse sentido, uma vez que são essas as exigências (boas ou más, é outra questão) da União Europeia. E que as reformas-cortes não têm o apoio da esquerda à esquerda do PS. Isto parece-me factual.

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  2. Caro Pedro Mexia: Eu acredito que aquilo que agora me diz traduza melhor o que pensa do que aquilo que originalmente disse.

    Mas tenho a ideia que a transcrição que inclui reproduz com fidelidade quais foram as suas palavras. E aí mantenho que não passa de forma alguma essa ideia de distanciamento entre o que é a sua opinião e o que é a opinião que atribui à União Europeia sobre o significado da palavra Reforma - e que é, de resto, a opinião - distorcida - predominante nos comentários.

    A acrescer, nas suas palavras há a ainda distinção que o Pedro marca entre as "reformas" e as "medidas políticas", as tais que envolverão - supõe-se - a expansão das competências do Estado e aí o possível patrocínio do PCP.

    Em rigor, e apesar do peso avassalador do pensamento dominante, o PCP ainda pode ser um partido reformador no sentido de uma sociedade como as que colapsaram em 1989.

    Não deixa de ser irónico que já se tenha visto isto ao contrário, quando há 40 anos foram os comunistas a apropriarem-se do significado da expressão "Reforma Agrária" e a deturparam do sentido original da redistribuição da propriedade das terras para a obrigatória colectivização da exploração das mesmas.

    Foi simpático ter respondido.

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