08 fevereiro 2018

O FOGUETÃO MAIS PODEROSO DO MUNDO: «- É MENTIRA!»


Depois do lançamento de ontem (analise-se o vídeo acima com o lançamento do foguetão da SpaceX) o que terá mudado radicalmente na exploração espacial é a coreografia que passou a acompanhar os momentos mais dramáticos. À sobriedade dramática e contida para quem ainda se lembra de ocasiões equivalentes de há quase 50 anos com o programa Apollo, a ascensão do foguetão é agora transmitida com uma banda sonora de fundo de aplausos e assobios encorajadores a fazer lembrar um estádio de futebol ou a assistência de um festival de música. Mas isso é o menos: outra vítima colateral da privatização da exploração do espaço foi a Verdade. São quase todos os órgãos de informação que propagandeiam, sem contraditório, que o Falcon Heavy é o foguetão mais poderoso do mundo. Ora vai-se ver a ficha do foguetão na wikipedia e dão-no com uma capacidade para colocar objectos em órbita terrestre baixa (LEO) até um peso de 63.800 kg. O Saturno V, que levou os astronautas das expedições Apollo até à Lua e que permanece desde aí como a referência dos colossos da astronáutica tinha uma capacidade para colocar objectos naquela mesma órbita de até 140.000 kg, ou seja, mais do dobro do que é anunciado pelo foguetão mais poderoso do mundo... Houve também o N1 soviético (95.000 kg + 50%), mas admitamos que esse não conte, porque não chegou a ser considerado operacional. De todas as formas e como diria o major Valentim Loureiro com aquele seu enfâse único: É Mentira!

Também mentira ou, pelo menos, um terço de mentira, foi o processo de recuperação dos três lançadores que constituíam o foguetão original. O processo de recuperação dos dois laterais, menores, correu como planeado e foi, como quase todo o resto da operação, filmado e difundido em vídeo com a banda sonora dos aplausos entusiásticos em som ambiente.

Mas não há imagens e poucas referências ao terceiro lançador central, o maior, cuja recuperação se saldou por um fracasso (falhou por 100 metros a plataforma do navio onde era suposto aterrar e desintegrou-se ao embater com a água a uma velocidade próxima dos 500 km/h), embora para ir encontrar essa informação tenha sido preciso ir buscá-la aos cabeçalhos de outros jornais que não os portugueses. Imagens espectaculares dessa desintegração? Até agora: nada. Só os sucessos! Qual terá sido mesmo o papel de escrutínio dos nossos jornalistas, em tudo isto?... Nenhum.
Adenda:
Ficou ainda por dizer que, quando as ideias promocionais se revelam bem sucedidas (como esta de colocar um automóvel «tripulado» em órbita), isso também desperta logo a imaginação alheia...

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