11 fevereiro 2018

O EMBARQUE

11 de Fevereiro de 1965. Quatro anos depois dos acontecimentos de Luanda, já os embarques para o Ultramar haviam passado à condição de rotina. Já se perdera a premência do lema «para Angola, rapidamente e em força», tanto mais que as guerras se haviam estendido entretanto à Guiné e a Moçambique, e a notícia de mais um embarque de tropas era remetida para uma página discreta e interior do jornal desse dia. Para aferição, na notícia do lado, noticiava-se que o «Beatle» Ringo Starr casara com Maureen Cox. Os cuidados que eram postos na redacção da notícia podem agora, cinquenta e três anos depois, ser esclarecidos. O «barco da nossa Marinha Mercante» era um dos navios da frota da Sociedade Geral requisitado para o transporte de tropas, mas que não me é hoje possível precisar qual fosse (o Manuel Alfredo? o Alfredo da Silva?).
O «contingente militar» era composto por três Companhias de Caçadores - a CCaç. 762, 763 e 764 (abaixo) - e deve-se precisar o seu destino em vez do vago «Ultramar» que lá consta: Guiné. Deve-se sobretudo prescindir do eufemismo da expressão de que o contingente partia «em missão de soberania»: ia para uma guerra. Não para uma guerra daquelas tradicionais, como havia então ainda a memória da das trincheiras, mas ainda assim uma guerra que se evitava designar por esse nome. O desfile a preceder o embarque era agora presidido por um obscuro coronel, que passara a representar todas aquelas altas patentes que haviam deixado de comparecer às cerimónias, agora politicamente desvalorizadas pela repetição e regularidade. E era também ele que dirigia algumas palavras á oficialidade. E o comandante do contingente, agradecia. Há cinquenta e três anos era assim...

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