12 maio 2016

O VERDADEIRO «FACT CHECKING»

Mais recentemente, foi o Observador a reinstalar a moda, e agora os outros órgãos de comunicação social (re)copiam-no, como ontem aconteceu com a SIC, hoje reaproveitado no Expresso - o Fact Check a que foram submetidas as declarações da entrevista de António Costa. É interessante? É, mas o que a adopção desta prática preventiva não checa, são as idiossincrasias do processo em si. Aquele que se apropriou da tarefa da checagem não se põe a si próprio em causa: terá sido o formato da entrevista o mais apropriado? Terá José Gomes Ferreira estado à altura da situação? Na sua essência, quer-se que eu não confie no Costa - e não confio... - mas quer-se simultaneamente que eu confie em algumas pessoas do Expresso o suficiente para que estas me digam se posso ou não confiar no Costa... Não faz muito sentido, pois não? Porque é que eu hei de confiar nelas? Só por serem jornalistas? A observação destas manigâncias já me ensinou que, mesmo quando uma intervenção de um político é sólida e os factos mencionados são (quase) todos confirmáveis, os órgãos de comunicação social têm que arranjar sempre um que não o seja; e, inversamente, mesmo quando uma intervenção é uma aldrabice, recheada de respostas que só não são mentira porque estão cuidadosamente redigidas para não o serem do ponto de vista formal, é sempre possível desencantarem uma resposta cuja verificação seja verdadeira. É indispensável para a comunicação social aparentar esse falso tipo de imagem de equidistância. Ora, pelo contrario, a nossa própria opinião não precisa desses senãos. A verdadeira actividade de fact-checker não pode ser como nos querem fazer impingir porque há que verificar simultaneamente as declarações dos políticos protagonistas mas também as intenções da comunicação social que as publicitam, que são cada vez mais protagonistas por moto próprio. Ou descrito de uma forma mais ligeira: o fact-checking devia ser como esta cena abaixo de Crocodile Dundee, deixar o próprio descobrir por si mesmo, presumindo que o próprio está mesmo interessado em saber os factos.

2 comentários:

  1. Bem lembrado. A cena é hilariante mas mais tarde há uma outra cena em que o "Cross checking" é feito da mesma maneira mas com resultados opostos. Lembra-se da cena na galeria de arte?

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  2. Lembro-me. Sempre tive curiosidade em imaginar como terá decorrido o casting para aquele papel - o da senhora que levanta as suspeitas de Mick Dundee. Devia ser uma galeria de actrizes memorável...

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