18 maio 2016

AS CARTAS DESENCANTADAS DA PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL (2)

Nestes pequenos apontamentos pessoais sobre a Primeira Guerra Mundial divido-me sempre entre o rigor de os publicar cumprindo escrupulosamente o seu centenário e a satisfação da curiosidade do desfecho das suas vidas por parte de quem lê estes apontamentos. Sobre os namorados Paul Hub e Maria Thumm do poste anterior cumpre-me acrescentar, sem esperar por 2018, que eles sempre acabaram por casar, a 11 de Junho de 1918, quando de uma licença de Paul, conforme se vê na fotografia acima. Paul está fardado, com espada de oficial, ostentando as condecorações (a famosa Cruz de Ferro) e envergando o tradicional pickelhaube com que partira para a guerra, mas que as realidades da mesma haviam tornado num adereço de cerimónia (substituído pelo stalhelm). Na sua carta de 18 de Agosto, quando a sua unidade estava posicionada perto de Amiens, lia-se:

Minha querida Maria:
Quase me esquecia de te escrever hoje. Nunca me acontecera antes. Normalmente arranjo um período mais calmo para ti. Fico sempre desconfortável quando não posso, porque não quero que qualquer coisa se intrometa entre nós. Esta tarde apercebi-me que consigo redigir-te uma pequena nota quando da chegada da comida, por forma a não te deixar sem notícias. Fomos flagelados hoje, e infelizmente um dos meus homens foi morto, atingido directamente por um tiro que o desfez. As flagelações são realmente horríveis, por vezes tornam-se num bombardeamento contínuo. Tudo treme e eu penso no quão pacificamente vocês dormem aí.
Tenho que te mandar a carta esta noite. A noite anterior foi muito agitada. Houve explosões constantes à volta das nossas posições e novo tiroteio esta manhã quando um dos nossos homens se aproximou dos Tommies (alcunha dos britânicos). Vocês parecem estar bastante ocupados a julgar pelas vossas cartas (as colheitas, muito provavelmente). Os meus país devem estar muito contentes por terem o teu auxílio. Por favor, lembra-te do que te disse na minha última carta.

Foi a última de uma longa série de cartas ao longo de quatro anos de Paul para Maria, a noiva que ele sempre receou tornar viúva. Contas feitas, eles só estiveram juntos alguns dias dos pouco mais de dois meses em que estiveram casados. Paul morreu algures num dos últimos dias de Agosto de 1918 perto de Maricourt. Com ele morreu o terceiro (abaixo) dos quatro filhos (mais uma filha) de Friederike e Konrad Hub, o mestre-escola de Stetten-im-Remstal.

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