26 maio 2016

FLEUMA BRITÂNICA

As elites britânicas e o Reino Unido institucional têm uma capacidade de dissimulação e encaixe como não deve haver muitos outros no resto do Mundo. Ainda há pouco a divagação de pensamentos me levou até à baronesa Jay (1939- ). Nascida Margaret Callaghan, casou em 1961 com Peter Jay (1937- ), um jornalista (editor económico do The Times) que causou um certo furor no Foreign Office quando em 1977 foi nomeado, aos 40 anos, embaixador britânico em Washington. Houve quem acusasse David Owen, o ministro, de nepotismo, mas não deve ter causado dano à nomeação que Margaret fosse filha do primeiro-ministro James Callaghan. Se a nomeação foi um pouco controversa de um dos lados do Atlântico, a estadia foi-o ainda mais do outro lado: Margaret, a embaixatriz, envolveu-se num affair com Carl Bernstein, o jornalista do Washington Post, tornado famoso por causa do Caso Watergate. Como é que o caso podia piorar? Com o facto de Bernstein ser casado com Nora Ephron, argumentista de cinema de sucesso. Para quem lhe tivesse escapado toda a história - sórdida, o marido encornado desforrou-se e teve uma filha da babá das crianças - nos jornais pôde apreciá-la no cinema. Em circunstâncias normais de pressão e temperatura este episódio de um casal que foi dar bandeira para a capital de um país próximo seria o fim de duas carreiras. Não foi o caso: em 1992 Margaret foi mais do que reabilitada, foi nobilitada, tornou-se baronesa. Isto no mesmo país onde algumas outras aventuras extra-conjugais têm aspecto de serem assuntos de Estado.

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