10 maio 2016

O NOVO MILAGRE DAS ROSAS

Há precisamente 35 anos, François Mitterrand vencia finalmente as eleições presidenciais francesas. Era Domingo e havia na RTP um programa desportivo de fim de tarde (Grande Encontro) que era apresentado por Mário Zambujal. Foi ele que, quebrando um protocolo estrito que compartimentava as áreas da produção, anunciou a novidade com ar visivelmente satisfeito, abandonando as peripécias da jornada. Hoje é precisamente ao contrário: é o comentário político que é interrompido por se saber que José Mourinho acabou de chegar. Mas a data é pretexto para contar uma cena bem mais engraçada que se veio a desenrolar menos de duas semanas depois, quando da tomada de posse do novo presidente. A cerimónia, que decorreu no Palácio do Eliseu, foi complementada por uma visita ao Panteão, onde um recém-empossado François Mitterrand compareceu exultante, de rosa na mão (acima), uma flor que ele tanto fizera para que se tornasse o símbolo dos socialistas. Durante essa visita, que foi televisionada mas que ele realizou aparentemente sozinho, Mitterrand conseguiu o milagre de depositar uma rosa consecutivamente nos túmulos de Jean Jaurès (1859-1914), de Jean Moulin (1899-1943) e de Victor Schœlcher (1804-1893), conseguindo simultaneamente guardá-la na mão para a próxima ocasião. Foi um milagre oposto ao do nossa rainha Santa Isabel, que, não as tendo originalmente, acabou por as ter e logo um braçado delas no regaço.

Dez anos passados, ainda com François Mitterrand como inquilino do Eliseu, a edição de 11 de Maio de 1991 (comemorar-se-ão agora as bodas de prata) de um famoso programa intelectual-chic denominado Bouillon de Culture (Caldo de Cultura, da autoria de Bernard Pivot) exibia a reportagem acima onde, sob o pretexto do tema O Poder e a Televisão e como se a transmissão televisiva da posse do presidente não passasse de um espectáculo de Luís de Matos em mais sério, se explicava como tudo acontecera. Lembrei-me deste episódio mais recentemente quando das cerimónias do 25 de Abril e por causa do drama do cravo do presidente Marcelo Rebelo de Sousa. À sua chegada à Assembleia da República Marcelo saía do carro despojado e isso angustiava os jornalistas de TV que cobriam o momento. Um bom caldo de cultura podia tê-los elucidado do quanto pode ser fácil fazer desabrochar uma, duas, três, e até mesmo cem flores, quando as mãos são presidenciais. Ei-lo abaixo a sentar-se para presidir às cerimónias.

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