15 maio 2016

O MEU PAI TAMBÉM ACHAVA QUE A ACÇÃO DE SALAZAR FORA ÚTIL AO PAÍS ATÉ AO FINAL DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

Fossem as condições outras e este texto não estaria aqui publicado. Não tenho Octávio Ribeiro em consideração suficiente para lhe dar o destaque como aqui acabo por fazer. Mas esta sua crónica de hoje faz-me lembrar o meu pai e a opinião que costumava elaborar sobre Salazar, as virtudes que atribuía ao primeiro terço da sua permanência no poder (até 1945), seguido do progressivo descalabro que haviam sido os dois terços finais (até 1968). O que sei hoje é que o que a História pode dizer do que foi Salazar para o país não pode ser fatiado a gosto pessoal. Há que avaliá-lo pelo que fez durante os 36 anos de poder e é isso que a História faz. A evocação do meu pai era uma espécie de exercício de especulação histórica de um Portugal que, segundo ele e não duvido, teria sido bem melhor do que o existia. Mas a verdade incontornável é que o apego ao poder é afinal um dos elementos mais relevantes para a formação da opinião sobre o carácter dos grandes actores políticos. Sair a tempo é também um predicado cheio de consequências históricas.
Agora a respeito do que a História dirá por sua vez, de Pedro Passos Coelho (como Octávio Ribeiro escreveu), a vantagem da nossa Democracia sobre a Ditadura do Estado Novo, é que existem nela mecanismos abertos à renovação política. No caso concreto sobre o qual Octávio Ribeiro se pronuncia (não sei se a título pessoal, se institucional), e no encadeamento da sugestão que se lê que o presidente do PSD devia sair pelo seu passo, muito antes das autárquicas, vale a pena relembrar que Pedro Passos Coelho foi reeleito há dois escassos meses por 95% dos militantes do seu partido. A notícia saiu no próprio Correio da Manhã e não me lembro de ter visto o jornal institucionalmente ou o seu próprio director a título pessoal a apoiar uma alternativa durante as eleições internas do PSD. Quiçá assistente do processo... eleitoral. Por isso, e a atentar ao conteúdo depreciativo do título, ao desgaste insidioso e não frontal da expressão caruncho, a existi-lo, o caruncho será representado pelo próprio Octávio Ribeiro e/ou pelo seu jornal, e aí será obviamente caruncho de direita.

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