De entre todas as
modalidades olímpicas, o pentatlo moderno é a única propositadamente criada
para se disputar nuns Jogos Olímpicos. A sua admissão, que teve lugar nos jogos
olímpicos de Estocolmo de 1912, há precisamente cem anos atrás, foi patrocinada poraquele que é considerado o fundador do olimpismo moderno, o próprio barão
Pierre de Coubertin. E desmentindo em parte o perfil pacífico como ele costuma ser
descrito, esta modalidade está evidentemente associada às artes militares pelas
cinco disciplinas que envolve: o tiro, a esgrima, a equitação, a natação e
corrida. Em conjunto, constituiriam a demonstração ideal do apuro físico de um
jovem oficial subalterno. Aliás, durante as suas primeiras décadas, eles constituíram
a esmagadora maioria dos atletas da modalidade. O norte-americano George Patton,
futuro comandante de exército na Segunda Guerra Mundial, foi um deles em Estocolmo
em 1912. Outro foi o britânico Brian Horrocks, comandante de um corpo de exército
durante o mesmo conflito, doze anos depois em Paris 1924.
Porém, apesar de a vermos como o fio condutor da intriga dum livro de BD
de Ric Hochet como Os 5 Fantasmas (1970), a modalidade nunca gozou de grande
popularidade. Os pentatletas têm que cumprir um percurso de obstáculos montando
um cavalo sorteado, disputar uma competição de esgrima em que todos se
enfrentam entre si, disputar uma prova de tiro, nadar e correr uma distância
contra o cronómetro. Mas, como acontece nas provas combinadas, para cada evento,
existe um outro nas modalidades de origem que é disputado por especialistas,
com melhores resultados e um interesse superior. Essa falta de popularidade – menos assistências
equivalem a menos interesse comercial – tem feito com que o comité olímpico internacional
tenha sofrido ultimamente uma pressão fortíssima para que a modalidade venha a
ser retirada do programa dos jogos. Mas o património histórico acumulado das
competições olímpicas já disputadas contém histórias de uma riqueza humana que
valerá a pena preservar, como a da equipa tunisina em Roma em 1960.
Quando da realização
dos jogos olímpicos de Roma em 1960, a Tunísia era uma jovem nação que acabara
de alcançar a independência (1956). Como representante de um continente africano
ainda com poucos países independentes, o comité olímpico tunisino foi convidado
a seleccionar uma equipa de pentatlo moderno, honra a que não se quis furtar,
nomeando os jovens pentatletas Laktar Bouzhid, Habib ibn Azzabi e Ahmed
Ennachi. A sua estreia na prova de equitação não terá sido auspiciosa: todos
os três caíram dos seus cavalos e foram desqualificados com zero pontos. Quando da
prova de esgrima – desporto que só um deles já praticara – correu a história
que o especialista da equipa fora interceptado de máscara de esgrima posta quando se
preparava para disputar o combate por um dos colegas... Por essa altura, já a equipa
tunisina concentrara as atenções gerais… Quando a prova de tiro de um deles foi
interrompida por receio dos jurados de serem alvejados ou quando um outro
esteve em vias de se afogar na prova de natação já se tratava apenas da
confirmação de uma reputação…
Não surpreenderá
saber que, no cômputo global e entre 58 concorrentes, Bouzhid, Azzabi e Ennachi
vieram a terminar a prova nos 56º, 57º e 58º lugares…