22 julho 2012

HISTORIADORES DE IDEOLOGIAS TOTALITÁRIAS

 É uma coincidência irónica este falecimento de Pedro Ramos de Almeida que surge praticamente encadeado no de José Hermano Saraiva. Mesmo não tendo a absoluta certeza da autoria, tenho fundadas suspeitas que o recém-falecido seja mesmo o autor de uma extensa História do Colonialismo Português em África de que exibo acima a capa do segundo volume. Sendo-me muito útil à época em que foi publicada (finais dos anos 70), a História não chega a ser bem uma história porque se limita a ser uma compilação cronológica dos factos e elementos estatísticos seleccionados pelo autor para corroborar a sua tese e descrever um colonialismo que qualifica tão medíocre em resultados quanto miserável em meios - o que se revela uma tese interessante.
Mas, o que recordo como mais marcante (mas também mais caricato) daquela esquecida obra é a adição crescente de elementos que nada têm a ver substantivamente com aspectos do colonialismo português, apenas e só com as cores ideológicas (assumidas) do autor. Para dar um só exemplo, na entrada referente a Portugal continental para o ano de 1950 (3º vol. p. 286) e naquilo que respeitaria às relações da metrópole com as colónias, um facto considerado relevante pelo autor é a morte na prisão do militante comunista Militão Ribeiro. A redacção dada por Ramos de Almeida, que se pode ler acima, mais a mensagem escrita com a tinta do seu próprio sangue, nada perderá em comparação com as conhecidas sagas televisivas contadas por José Hermano Saraiva...   
Como de costume, vê-se aqui o fascismo e o comunismo a irmanarem-se simétricos, como se estivessem nos dois lados de um mesmo espelho, num estilo igual de distorção da História. Próximas no estilo, as mortes encadeadas de José Hermano Saraiva e Pedro Ramos de Almeida só se distinguirão pela abissal diferença de notoriedade entre si. De uma certa forma, ocorre-me dizer que parece repetir-se aquilo que aconteceu no concurso Os Grandes Portugueses há uns anos atrás, quando Salazar ganhou o concurso a Cunhal com uma ampla margem graças (também) às vantagens comunicativas da apresentação de Jaime Nogueira Pinto sobre a de Odete Santos. Parece ser sina que os fascistas se revelem melhores comunicadores do que os comunistas...

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