31 maio 2011

O DIA EM QUE A AUTORIDADE POLICIAL VACILOU NA AMÉRICA

Logo pela manhãzinha de 28 de Fevereiro de 1997, uma das sucursais do Bank of America que se situa em Hollywood North (Los Angeles) foi assaltada. A dupla de assaltantes, composta por Larry Phillips, Jr. (abaixo, à esquerda) e Emil Mătăsăreanu (à direita), caracterizava-se por uma devoção comum por armamento de combate, com os assaltos a bancos e a viaturas de transporte de valores que haviam realizado a constituir a actividade acessória indispensável para financiar essa sua devoção. Ao abandonarem o banco, mais impressionante que o saque¹, era o arsenal que carregavam consigo…
Entre os dois carregavam três armas automáticas derivadas da AK-47, uma derivada da G-3 e outra da AR-15 (todas consideradas armas de guerra) além de uma pistola, tudo acompanhado de um total de 3.300 munições. Para além disso, estavam protegidos por coletes à prova de balas. E tinham uma comissão de recepção à sua espera no exterior, composta por várias dúzias de polícias e carros de polícia no solo e mais uma meia dúzia de jornalistas e helicópteros no ar – os assaltantes haviam sido detectados ainda antes do assalto ter ocorrido. O tiroteio que se seguiu teve uma ampla cobertura televisiva…

Só que, ao contrário do que acontece nos Westerns, as imagens mostravam os maus a ganhar aos bons. Os dois assaltantes possuíam um poder de fogo muito superior ao da polícia apesar de estes estarem em evidente superioridade numérica. Na televisão, eles pareciam ser invulneráveis por dentro dos coletes, enquanto na rádio se sucediam os pedidos de ajuda daqueles que eram atingidos – no final houve 11 polícias e 7 civis feridos. A imagem mediática da força bruta intimidatória da acção policial norte-americana esteve em cheque até à chegada dos reforços paramilitares da unidade SWAT.
Entre as 9H17 e as 10H01 – precisamente 44 minutos – dessa manhã de 28 de Janeiro de 1997, aqueles dois assaltantes desafiaram (e chegaram a humilhar…) as autoridades policiais norte-americanas num campo que elas muito prezam: o do poder de fogo do seu armamento. Não é por isso surpresa saber que, como desfecho, os dois assaltantes morreram. Um deles ter-se-á suicidado e o outro por causa dos múltiplos ferimentos em zonas do corpo não protegidas pelo colete – nas pernas e pés. A banda de heavy metal Megadeth tem uma canção dedicada ao acontecimento intitulada precisamente 44 minutos

¹ Cerca de 300 mil dólares.

30 maio 2011

CINCO NUS FEMININOS NUMA PRAIA

Confesso-vos que me escapa a beleza estética de que se revestem os desfiles de moda da actualidade. Seja qual for o tipo de roupa que se quer mostrar, as coreografias copiam-se umas às outras com as meninas (e/ou meninos) elegantes a sucederem-se nas suas vindas e idas numa passadeira, sempre de cara inexpressiva (quando não amarrada…), numa forma de andar padronizada (perna à frente de perna) a fazer-nos lembrar os exercícios dos cavalos num dos concursos hípicos de dressage
Encontrei recentemente uma daquelas fotografias – não por acaso da autoria de um fotógrafo de moda chamado Jean-François Jonvelle… – onde se consegue perceber ao primeiro olhar a artificialidade desta coreografia da moda. Dei à fotografia o título de Cinco Nus Femininos Numa Praia e, onde seria de se esperar ao menos uma insinuação de erotismo, o andar padronizado e a graciosidade automática das cinco modelos, faz-nos pensar mais em amazonas extra-terrestres de um daqueles (maus) filmes de ficção…

29 maio 2011

VERDADEIRAS TORTURAS…

Em Take the Money and Run (1969) há uma cena em que o prisioneiro (Woody Allen), depois de uma tentativa de fuga gorada, é sancionado com um período de estadia na solitária. Só que, para agravar a pena, em vez de o deixarem na solitária, fecham-no lá dentro com um agente de seguros que não se cala (veja-se aqui – aos 8:30).

Lembrei-me da cena, ao ver o vídeo desta senhora, de seu nome Joana Manuel, que me parece, pela assertividade abrasiva, uma torturadora inata, igualmente letal como o agente, só que em vez de nos vender seguros fala da esquerda… A considerar a realização de um match histórico direita vs. esquerda entre ela e a Isilda Pegado pela vida.

28 maio 2011

OS JAVALIS DO LADO

O que podemos apreciar nestas duas tiras de BD é um processo clássico de promoção, colocando ênfase no produto que se vende e procurando incrementar a notoriedade das acções publicitárias para se diferenciar da concorrência. Em teoria, o exemplo de Astérix poderia servir de metáfora a uma qualquer campanha eleitoral… Porém, a actual parece ser excepção: em vez dos concorrentes gritarem BELOS, BELOS, BELOS JAVALIIIIS! a ideia parece ser a de gritarem OS JAVALIS DO LADO SÃO UMA GANDA MERDA!

Adenda: Costuma ser tradicional (assim como sintoma de maturidade democrática) que os partidos governamentais defendam a acção governativa e que os partidos oposicionistas a critiquem. Esta lista ajuda a explicar porque a actual campanha eleitoral está a ser excepcional.

O «BOCHECHAS»

Se tivesse vivido nos tempos da república romana estou convencido que Mário Soares seria, como Júlio César, indiscutivelmente um membro do partido popular, embora também não abdicasse, como ele, da sua pose de membro da aristocracia senatorial, pairando acima do povo. Num caso e noutro, houve ao longo das respectivas carreiras políticas uma gestão inteligente da imagens públicas, para dar aos eleitorados uma aparência de intimidade entre o político e o povo que nunca existiu realmente. As pequenas fraquezas do político podiam ser conhecidas, como o espalhanço de César quando ele tropeçou na prancha à saída do barco que o desembarcava em África¹ ou outros epísodios menores das suas campanhas militares. Ou também as fotografias caricatas de Soares em cima de um elefante ou às costas de uma tartaruga, que eram tratadas como se fossem sinais da sua bonomia. Porém, em Roma, muito poucos saberiam que César era epiléptico. Ou então as fotografias de Soares que fossem mais do que caricatas, consideradas prejudiciais para a sua imagem (como a de cima em que eram realçadas as suas famosas bochechas – afinal, a alcunha genuinamente popular por que ele era então conhecido) eram discretamente abafadas, a ponto de hoje estarem completamente esquecidas.

¹ O episódio serviu para mostrar o sangue-frio de César que, perante um episódio de mau augúrio, reagiu fingindo que se atirara para o chão de propósito para o beijar, anunciando-o em voz alta enquanto ainda estava caído.

AINDA OS MILITANTES «SIKHS» DO PARTIDO SOCIALISTA

Ainda para rematar o episódio dos turbantes coloridos que vieram alegrar as acções de rua da campanha socialista nestas eleições (entretanto retirados das mesmas), uma pesquisa aos arquivos leva-nos a supor que, afinal e ao contrário do que eu supunha, a referida secção sikh do PS não só é já antiga, como terá sido apadrinhada por Mário Soares e esposa, conforme se pode constatar pela fotografia acima de Janeiro de 1992 em que eles já aparecem ornados dos famosos turbantes…

Por outro lado e para tornar o incidente ainda mais caricato, verifica-se que, quando à forma como entre algumas hostes socialistas da blogosfera ele é apreciado, e face ao que pode ler por esses blogues, apenas se pode comentar sem que valha a pena argumentar. Da forma ligeira que o assunto original merece e parodiando um ditado de uma outra quadra festiva, quando se está em campanha eleitoral, ninguém leva a mal… Ou ainda, exprimindo-nos musicalmente: You're Unbelievable!

27 maio 2011

«Happy Birthday Mister President...»


O episódio teve lugar a 19 de Maio de 1962 que, por acaso, até nem era o verdadeiro dia do aniversário de John F. Kennedy (29 de Maio). Mas a versão arfante, arrastada e rouca como Marilyn Monroe lhe cantou aqueles parabéns a você antecipados tornou-se icónica. Contudo, preservando o som, as versões filmadas, com as imagens algo granuladas (acima), não fazem uma verdadeira justiça à imagem da actriz naquele momento. Para isso há que contar com as fotografias (abaixo) onde Marilyn nos aparece como um anjo elegante irradiando da escuridão.

26 maio 2011

O LAR DA TERCEIRA IDADE

Ao longo de décadas, terá havido milhões de fotografias a ser tiradas para ser enviadas para longe, para casa, mostrando os seus protagonistas, que são normalmente jovens, com uma satisfação posada de quem quer mostrar aos destinatários que estava tudo bem e como eles ainda virão a ser alguém na vida. As modificações sociais destas últimas décadas deram origem a fotografias algo semelhantes, mas onde os jovens vieram a ser substituídos por velhos, que mostram as mesmas expressões forçadas de que está tudo bem e de como haviam sido alguém na vida… A fotografia é da canadiana Claire Beaugrand.

O PRINCIPE DA ARISTOCRACIA DA MÚSICA AFRO-AMERICANA

Cornell Woolrich (1903-1968), assim como os seus outros dois pseudónimos, William Irish e George Hopley, são hoje nomes esquecidos daquele estilo de ficção policial norte-americana que ficou conhecido por pulp fiction. A maneira de o tornar familiar ao leitor será mencionar que foi uma das suas novelas (It had to be murder – 1942) a servir de matriz ao argumento do filme Janela Indiscreta de Alfred Hitchcock (acima).

Foi numa das suas novelas (Passos… aproximam-se – 1960) que tive oportunidade de ler uma imaginativa aristocracia dos intérpretes da música afro-americana que incluía um conde (Count Basie), um duque (Duke Ellington), um rei (Nat King Cole – acima) e um imperador que, como Napoleão, dispensava o título pois o seu nome era sinónimo dele (Louis Armstrong – abaixo). Ficava a faltar um príncipe em tal aristocracia…

O príncipe de Woolrich naquela novela era obviamente de ficção e ele dera-lhe o nome de Matt Prince Malloy. Quando a li pela primeira vez ainda essa categoria da aristocracia musical afro-americana permanecia vaga e a ficção possível. Mal adivinhava que 25 anos depois da sua publicação apareceria um verdadeiro príncipe, de seu nome Prince Rogers Nelson (abaixo), para colmatar o vazio que ficara até então por preencher…

25 maio 2011

PRETEXTOS PARA FALAR DE SÓCRATES – 2


Em 1979, a Grécia decidiu concorrer ao Festival da Eurovisão desse ano apresentando uma canção intitulada Sócrates e dedicada ao próprio – o filósofo. Sinal dos tempos, ele é comparado a uma superstar mas o júri internacional não se terá impressionado com esta erudição modernizada e, pior do que condená-lo, ignorou-o: a canção ficou enterrada num discreto 8º lugar entre 19 concorrentes.

PRETEXTOS PARA FALAR DE SÓCRATES – 1

Em 1971 Roberto Rosellini realizou um filme para televisão sobre Sócrates – o filósofo. A acção cobre apenas a fase final da sua vida nomeadamente os episódios do julgamento e execução, quando Sócrates teve de beber a famosa beberagem com cicuta. O filme é uma das obras menores e esquecidas do realizador italiano mas tem o título e tema adequado aos dias políticos que correm.

LA VALISE EN... LOUIS VUITTON

Tão prudente parece a atitude quanto excelente a metáfora usada pelo embaixador português em paris para anunciá-la no seu blogue. Há um travo nostálgico indelével a anos 70 quando ele evoca a conduta impassível do engenheiro Sousa Veloso no seu tv rural em paralelo com o prec e as convulsões da reforma agrária e a compara à atitude que o próprio pretende adoptar nos próximos tempos de turbulência política. Para manter o ambiente de época impõe-se até recuperar Linda de Suza e o seu imorredouro sucesso musical (La valise en carton), embora a mala seja de outra qualidade, atendendo ao perfil de quem escreve…

24 maio 2011

«PROFISSÃO» de ISAAC ASIMOV

Agora que nos aproximamos da época de exames escolares torna-se oportuno lembrar o cartoon premiado acima que foi publicado num jornal canadiano o ano passado e que, por sua vez, ainda a propósito das grandes tendências do sistema educativo da sociedade moderna, me faz lembrar uma interessantíssima novela de ficção científica de Isaac Asimov, que foi publicada originalmente em 1957, e que se intitula Profissão.

O tempo é o Século XLV e o processo educativo tinha-se tornado finalmente num assunto pacificado – embora à custa dos empregos de Mário Nogueira e de Santana Castilho. Ao longo da infância e juventude as crianças tinham apenas dois momentos de aprendizagem, rápidos porque os mesmos se faziam através de conexões entre o cérebro e computadores. O primeiro era aos oito anos, quando as crianças eram ensinadas a ler.

O segundo era a 1 de Novembro do ano em que completavam dezoito anos, um evento em que todos recebiam (através de um processo idêntico de conexões cérebro-computador) a formação profissional na área que a análise computacional julgasse apropriada depois de se ter analisado o cérebro do aluno. O herói chama-se George Platen e a história dele é que chumbou nesta última fase, ficando sem profissão e sentindo-se um pária…

George é transferido para uma Instituição que ele julga destinada a pessoas deficientes mentais até se aperceber progressivamente que ele e os seus colegas de desdita são o resultado de um apurado processo de selecção e fazem parte de uma elite exclusiva que domina os processos de aprendizagem através da leitura. Com isso, eles são os criadores da investigação e do progresso científico e a verdadeira fonte de poder da sociedade.

A novela pode ser lida aqui (no original). Quanto às crianças do cartoon, elas parecem encontrar-se numa fase de transição entre o modelo convencional de aprendizagem que conhecemos e aquele que foi idealizado por Asimov para o futuro...

23 maio 2011

OS SIKHS

Os Sikhs constituem um dos grandes grupos religiosos indianos. A religião apareceu no início do Século XVI no Punjabe (Norte da Índia) e foi-se consolidando doutrinalmente nos 200 anos seguintes com a sucessão dos ensinamentos dos 10 Gurus da religião (acima). De uma forma sintética e simplificada, trata-se de uma religião sincrética, associando alguns elementos da tradição do Hinduísmo nativo com outros do Islão. Porém, como o segundo, trata-se de uma religião monoteísta em que a designação de Deus é Vahiguru.
Sendo quase 20 milhões em 2001, data do último censo, representavam apenas 1,9% de toda a população indiana. Mas há vários factores se conjugam para que os sikhs tenham uma visibilidade desproporcionada em relação ao seu número. Mais de ¾ daqueles que vivem na Índia concentram-se no Estado indiano do Punjabe, onde eles são a maioria (60%) e onde fica o seu principal santuário (acima – o Templo Dourado de Amritsar). Depois, eles têm uma representação na administração indiana desproporcional ao seu número.
A começar pelo Primeiro-Ministro indiano Manmohan Singh (acima) que é sikh. Mas, mesmo no exotismo característico da paisagem indiana, qualquer sikh, por modesto que seja, será alguém que tende sempre a destacar-se, a começar pelo turbante, normalmente em cor garrida, pela barba e pelo bigode, que são obrigatórios. O turbante esconde uma longa cabeleira. Não se corta o cabelo mas penteia-se com um pente ritual que se usa sempre debaixo do turbante chamado Kanga. Mas há outros adereços obrigatórios mais complicados…
Há a bracelete em metal (Kara), que faz a alegria de qualquer detector de metais, mas isso é o menos se o episódio se desenrolar num aeroporto… porque outro dos objectos obrigatórios de um sikh praticante é o Kirpan, um pequeno punhal classificável entre o que de mais interdito há em termos de segurança aérea. Então se o dono do Kirpan for fervoroso a viagem aérea arrisca-se a começar atribulada… Esta questão da interdição do uso do Kirpan em viagens aéreas é aliás um assunto recorrente da aviação civil indiana
Porque paradoxalmente, os sikhs parecem gostar de viajar e de emigrar. Sendo menos de 2% da população indiana eles representam, por exemplo, 14% da comunidade indo-paquistanesa no Reino Unido (2001). Haveria muitas outras coisas interessantes a dizer sobre eles: que a esmagadora maioria deles se chama Singh (Leão). Agora o que eu não sabia é que já havia uma secção de militantes socialistas sikhs (acima - entre outras...) conforme se descobriu com a reportagem do comício de José Sócrates em Évora. Gosto sempre de aprender…

AS REGRAS DA ATRACÇÃO DAS MAJAS

Francisco de Goya, o pintor espanhol (1746-1828), pintou dois quadros essencialmente idênticos em que a grande diferença consiste no modelo (conhecida por Maja), que num deles aparece vestida e noutro completamente despida. A intuição dir-nos-ia que Goya pintara prudentemente em primeiro lugar a Maja com roupa para mais tarde ousadamente a vir a despir. Na verdade, aconteceu o contrário. A primeira Maja é a da versão tal qual ela veio ao Mundo (antes de 1800) e só alguns anos depois Goya a pintou como ela apareceria socialmente.

Ainda hoje não se tem a certeza da identidade de Maja. Quanto aos quadros, desde há cerca de 100 anos que as duas Majas fazem companhia uma à outra, lado a lado, no Museu do Prado em Madrid, onde permanecem em exposição. É uma das salas daquele Museu que merece uma visita demorada, não apenas pelos quadros, mais pelos visitantes e pelo seu comportamento, como se pode deduzir pela fotografia abaixo, que bem poderia receber como legenda o título que dei ao poste, título descaradamente copiado do livro de Bret Easton Ellis.

22 maio 2011

O COSMONAUTA QUE NUNCA SAIU DA TERRA

Há muito que se abandonou a fase heróica em que os programas espaciais precisavam de heróis como o russo Yuri Gagarine ou o norte-americano Neil Armstrong. Hoje ser-se cosmonauta será uma profissão como outra, que se caracteriza sobretudo pelas elevadas exigências de admissão. Os voos espaciais tripulados caíram naquela rotina noticiosa de onde saem apenas em situações excepcionais – a pior das quais serão os grandes acidentes, que infeliz e normalmente se tornam fatais. Mas deve realçar-se que continuam a existir heróis no mundo da exploração espacial apesar dessa sua desnecessidade mediática.
O senhor da fotografia acima tem 72 anos, o nome improvável de Stamatios Krimigis e a nacionalidade norte-americana apesar da indisfarçável origem grega. Desconhecido do grande público, Stamatios Krimigis tem participado nas mais diversas funções (desde o desenho da instrumentação até ao cargo de investigador principal) em quase todas as missões espaciais planetárias não tripuladas da NASA a ponto de se poder dizer que, com o seu CV, será o único a ter explorado todos os planetas do sistema solar. Krimigis poderá ser o que de mais parecido há com o primeiro cosmonauta grego¹

¹ Outro candidato ao título, mas mais convencional, será o russo Fyodor Yurchikhin cujos antepassados são gregos da diáspora.

A NOTORIEDADE É UM VALOR ABSOLUTO?


O vídeo-clip acima terá custado 4 mil dólares à mãe da vedeta que nele aparece a cantar: Rebecca Black, uma miúda californiana de 13 anos. Caridosamente, o melhor aproveitamento que concebo para a canção (título: Friday) seria servir de lengalenga para ensinar o nome dos dias da semana àqueles que estejam a aprender inglês... Terá sido essa falta de qualidade que as transformaram (canção e intérprete) num fenómeno mundial de popularidade no You Tube, com o vídeo a caminho dos 150 milhões de visionamentos mesmo que o sejam para as criticar: 88% dos 3,3 milhões de apreciações são negativas… E Rebecca Black acabou mesmo sendo convidada para o popular programa de TV de Jay Leno.
Entre nós foram mesmo os Jays Lenos cá de casa que contribuíram para ampliar ainda mais a popularidade de alguns vídeos virais, como aconteceu com o Eu na praia, que foi patrocinado pelos Gato Fedorento ou então a Katyzinha, que se tornou uma protegida de Herman José. Ao contrário destes dois, que suponho ainda se mantêm discretamente anónimos, Jay Leno entrevistou Rebecca, mas não lhe chegou a colocar directamente a questão que me intriga e que poderia também ser posta ao Tiago da praia e à Katyzinha dos pães. Se pudessem voltar atrás e se soubessem como iriam ganhar notoriedade sacrificando a sua reputação, será que eles tornariam a publicar os vídeos que publicaram?...

21 maio 2011

A VISITA DA CORNÉLIA REVISITADA

Ao assistir ontem à preparação do Grande Debate e à promoção que as televisões dele davam lembrei-me subitamente do ambiente que acabou rodeando a saudosa A Visita da Cornéllia. Que me perdoe quem não sabe a que me refiro mas pode-se informar aqui. O que na Wikipedia não se explica é o ambiente de sucesso crescendo que foi rodeando o concurso ao longo das sessões acabando por o fazer desmoronar vítima desse mesmo sucesso – entre os que se lembram do concurso, quase todos ainda identificam concorrentes famosos, mas serão muito poucos os que se lembram quem foi o concorrente vencedor da Final…

No seu auge de popularidade (que se esvaneceu depressa), à volta do concurso desencadearam-se fenómenos de vedetismo de concorrentes, de ex-concorrentes, de jurados, mesmo os primeiros casos de merchandising de programas de TV, como se vê abaixo. Às vezes era facílimo esquecer a importância do concurso propriamente dito… Também ontem, tão excessiva era a publicidade antecipada nas televisões aos painéis que iriam analisar posteriormente o Grande Debate em detrimento do próprio, que teria sido mais fácil esquecê-lo e passar directamente para a fase das análises objectivas de quem o ganhara

20 maio 2011

ASNEIRA SEM BARRA

Já aqui havia escrito um poste sobre asneiras & barras, explicando que uma barra numa condecoração militar era o equivalente à repetição da atribuição do mesmo galardão ao mesmo distinguido. Nem de propósito, quando andava à procura pela internet de imagens de quem já tivesse reconstituído as condecorações recebidas por John Kerry por causa do meu poste anterior, deparei-me com um blogue de um norte-americano que já tentara fazer essa reconstituição.
Seria um desses disparates a que não se daria publicidade não se desse o caso do autor da reconstituição (acima) não se ufanasse da sua condição de veterano militar (Airborne Combat Engineer) enquanto mostra ignorar a regra elementar da não repetição da mesma condecoração, que neste caso é substituída por uma pequena folha de carvalho (veja-se no poste abaixo). É sempre bom constatar que as asneiras tipo Ricardo Costa não são um exclusivo nacional, no caso presente uma delas sem barras

AS CONDECORAÇÕES DE JOHN KERRY ou QUEM É O KARL ROVE DA CAMPANHA DE JOSÉ SÓCRATES?

Por ocasião das eleições presidenciais norte-americanas de 2004, ocorreu um episódio memorável que me recorda incessantemente a actual campanha eleitoral em curso entre nós. Para contrariar as acusações de falta de estamina, que os republicanos (naquela eleição representados pelo presidente George W. Bush) tradicionalmente lançavam aos seus opositores democratas (representados pelo senador John Kerry), estes últimos foram recuperar as cadernetas militares dos dois candidatos, cujo período de serviço militar coincidira com a Guerra do Vietname. Fizeram-no porque Kerry o cumprira no Vietname enquanto Bush se desenfiara, deixando-se ficar pelos Estados Unidos, um handicap para quem pretendia passar por um agressivo Comandante em Chefe
A resposta da campanha de Bush, mesmo que não faça qualquer sentido do ponto de vista racional, tornou-se numa manobra de génio com o dedo da sua eminência parda, Karl Rove: em vez de se defender das acusações que lhe faziam, contra atacou em força, dispersando a atenção dos media para a legitimidade das condecorações que John Kerry recebera no Vietname… O desenfianço de Bush ao Vietname passara a estar em pé de igualdade mediática com a conduta de Kerry no Vietname, o que é Genial! Certamente deve haver um Karl Rove lusitano por aí quando esta campanha eleitoral tende a centrar-se nos sucessivos disparates proferidos por Pedro Passos Coelho como se eles se pudessem equivaler às tremendas asneiras cometidas pela acção governativa de José Sócrates...

O DIAGNÓSTICO DE CHIANG KAI-SHEK

O Generalíssimo Chiang Kai-shek (1887-1975) foi o dirigente supremo da República da China – pelo menos das regiões que eram controladas por essa entidade política – entre 1928 e 1949. Considerado uma pessoa extremamente inteligente e de uma habilidade política impar acabou porém por vir a perder a fase decisiva da Guerra Civil (1945-1949) em que se opuseram as suas forças nacionalistas do Kuomintang às comunistas do Partido dirigido por Mao Zedong (1893-1976). É um período da História da China interessantíssimo que irá merecer uns postes futuros aqui no Herdeiro de Aécio, mas o que nos interessa agora destacar é um documento de Chiang Kai-shek de 1948-49 – portanto já no final da Guerra – em que ele analisa a situação e antecipa o seu desfecho.
É um documento extremamente lúcido a identificar as causas do que estava a conduzir o seu partido para a derrota. Havia quatro razões principais que a provocavam, escreveu. Em primeiro lugar, a falta de qualidade dos generais do exército nacionalista. Em segundo lugar, não só a preparação técnica deficiente como o mau tratamento que os soldados recebiam dos seus oficiais. Em terceiro lugar, Chiang reconhecia que o moral entre os nacionalistas em geral era muito inferior ao dos seus oponentes. E finalmente, que isso também se reflectia nas estruturas administrativas e políticas, às quais faltava a organização e disciplina da parte contrária. Excelente na análise, Chiang estava numa posição privilegiada para corrigir os erros, mas não o conseguiu e perdeu a guerra…
A excelência dos diagnósticos é (e sempre foi) historicamente irrelevante… O que é fundamental é saber o que se pode fazer com eles e aí Mao e os restantes dirigentes comunistas mostraram-se superiores aos adversários e hoje todos sabem quem foi Mao e poucos sabem quem foi Chiang. Ora pela enésima vez em Portugal e em 2011 aparece mais um diagnóstico da situação com o aval da SEDES preconizando …há que desenvolver a sociedade civil e a intervenção cívica dos portugueses… contra os …constrangimentos provocados pela concentração de todo o poder político nos partidos existentes… Ora esta minha intervenção cívica é para manifestar a minha saturação com tanta intervenção cívica sem que esta produza resultados tangíveis…

19 maio 2011

FOTOGRAFIA RECENTE... E INTERESSANTE

Quando Norman Davies teve de escolher o título para o seu volumoso (1200 páginas!) livro de História preferiu referir-se ao conjunto geográfico apenas como As Ilhas (acima), despojado de qualquer referência àqueles qualificativos distintos cujo significado os estrangeiros normalmente não compreendem, como seja o caso do que distingue a Inglaterra da Grã-Bretanha e estas do Reino Unido. Esta semana, algo terá evoluído nas relações domésticas entre os povos das ilhas quando Isabel II realizou a primeira visita de um monarca britânico às antigas possessões irlandesas dos seus antepassados, depois de 90 anos de independência irlandesa.
A foto da cerimónia da deposição de uma coroa de flores no Memorial dedicado aos que tombaram na luta pela independência da Irlanda, não tendo o significado universal do gesto do chanceler alemão Willy Brandt quando este se ajoelhou junto ao monumento dedicado às vítimas do Gueto de Varsóvia (1970), tornou-se à escala regional num reconhecimento público dos erros como o processo que conduziu à independência irlandesa foi conduzido. Com a diferença maior que, se em Brandt nada o confundia com o passado nazi do seu país, Isabel II corporiza em si o poder da Coroa contra o qual os evocados no monumento se levantaram e tombaram.

18 maio 2011

OS ECOLOGISTAS VERDES DA BLOGOSFERA POLÍTICA

Depois de apanhados numa gaffe em que o mesmo Miguel Abrantes aborda por duas vezes o mesmo assunto com estilos nitidamente distintos até os homens de boa vontade (no sentido bíblico) darão a mão à palmatória quanto à questão da identidade múltipla dos Miguéis Abrantes. Houvesse elegância na «brincadeira» e, depois de exposta, pôr-se-ia fim a ela.


Porém, não haverá nada de menos elegante que a campanha política em curso. E assim, se não estiver já lá, o brand name Miguel Abrantes vai para o anedotário da blogosfera política portuguesa assim como o Partido Ecologista os Verdes o é há muito no nosso sistema político partidário. Só os incondicionais se forçam a fingir que aquilo que se impinge é verdade…

FRANCOFILIAS


Ainda no rescaldo das considerações que pela blogosfera e fora dela se fizeram quanto ao escândalo em que Dominique Strauss-Kahn se envolveu, a atitude de quem assumiu as penas francófilas e aristocráticas do acusado, fizeram-me lembrar a Ballade pour Adeline interpretada por Richard Clayderman (aliás Philippe Pagès). É que aquilo que é kitsch, quando é nacional e cantado por exemplo por Marco Paulo (aliás João Simão) é pimba, mas quando vem de França e tocado ao piano até tem categoria...

FABIENNE – ATÉ ONDE UMA HISTÓRIA INTERESSA…

No Mundo da informação é fundamental traçar a diferença entre as histórias que geram as fotografias e as fotografias que geram as histórias. Estas fotografias pertencem ao segundo grupo; a de cima, da autoria do fotógrafo Paul Hansen, foi premiada na Suécia e a de baixo, de Lucas Oleniuk, foi premiada no Canadá, ambas no meio de uma igual controvérsia por causa das circunstâncias (idênticas) em que foram obtidas.
A 12 de Janeiro de 2010, Port au Prince, a capital do Haiti, foi quase toda destruída por um violento terramoto. Estima-se que ele tenha provocado umas 200 mil mortes. Mas a morte mais gráfica daquele enorme acidente (se atendermos à difusão do circo informativo mundial) não foi provocada directamente pelo terramoto, mas antes pelas medidas de excepção que se costumam decretar nessas situações de grandes catástrofes…
Numa acção para dissuasão dos saqueadores, a polícia haitiana abateu a tiro uma adolescente de 15 anos chamada Fabienne Cherisma quando esta transportava duas cadeiras de plástico e três quadros emoldurados. O enquadramento das fotografias acima, onde se podem ver os outros saqueadores em actividade, totalmente indiferentes à acção de dissuasão da polícia haitiana são uma cruel acusação à posteriori da gratuitidade do gesto.
Mas rode-se agora um pouco o enquadramento das fotografias (acima) e perceba-se como (como é costume) todas estas fotografias que geram histórias, tendo vítimas, não têm heróis, com os fotógrafos agachando-se como se fossem um bando de abutres junto ao cadáver de Fabienne… Mesmo a história da dor de um pai que vem recolher o cadáver da filha (abaixo) terá parecido complexa demais para a sofisticação do fotojornalismo moderno…

17 maio 2011

A PROPÓSITO DE ALGUMAS COISAS QUE LI A PROPÓSITO DE DOMINIQUE STRAUSS-KAHN

Costuma considerar-se que o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional são as duas organizações basilares onde assenta o sistema financeiro mundial nascido depois do fim da Segunda Guerra Mundial que ainda permanece em vigor. Tradicionalmente quem preside ao primeiro é um norte-americano (10 dos 11 presidentes do Banco Mundial deste 1946 – e a excepção foi um australiano) e a direcção do segundo está reservada para um europeu e dos da velha Europa continental: também desde 1946, foram 4 franceses, 2 suecos, 1 belga, 1 holandês, 1 alemão e 1 espanhol.
Se fiz aquela referência à velha Europa foi porque aquela cumplicidade tácita de décadas foi perturbada há uns anos (2005) pela escolha da Administração Bush de um dos seus neocons de estimação, Paul Wolfowitz, para dirigir o Banco Mundial. Como se fosse por coincidência, aconteceu-lhe tudo, desde operações negativas de relações públicas em que o fotografaram de peúgas rotas à saída de uma mesquita (acima), até acusações muito mais sérias de favorecimento à sua namorada que também trabalhava para o Banco Mundial. Paul Wolfowitz veio a demitir-se contrariado e em desgraça em Junho de 2007…
As coincidências são para se repetir e Dominique Strauss-Kahn, que assumiu a Direcção do irmão Fundo Monetário Internacional (FMI) em Novembro desse mesmo ano de 2007, logo se devia ter apercebido como a retaliação de um clã pode ser uma motivação muito forte e como ele pisava terrenos perigosos e deveria ter levado muito mais a sério as advertências que recebera dos membros do próprio Conselho do FMI menos de um ano depois de tomar posse, quando da conclusão a uma investigação a respeito do seu envolvimento com uma namorada que arranjara entre os quadros da organização.

Assim não foi e suspeito que o próprio Strauss-Kahn será agora quem mais o lamenta. Porém, outro aspecto da questão será as críticas que para aí se lêem quanto à cobertura mediática da sua prisão. Eu não gosto nada da cultura da prepotência e violência associada à actuação policial nos Estados Unidos (como se vê no episódio acima), mas tenho de reconhecer o carácter democrático como esse (mau) tratamento é aplicado: no caso, vemo-lo a contas com a justiça (abaixo) não por ser Strauss-Kahn mas porque todos os que se encontram naquela situação são assim tratados e Strauss-Kahn não é excepção.
Mas é preciso chegar à blogosfera portuguesa para constatar o aspecto de farsa que o assunto pode ainda vir a alcançar, ao descobrir autores de blogues que parecem apartados por uma intransponível distância e hostilidade quando em termos dos clubes políticos que defendem, se reencontram neste caso de Strauss-Kahn irmanados na questão, essa sim verdadeiramente ideológica, que, se a justiça é cega e devia ser teoricamente igual para todos, em concreto, quando aparecem casos destes, ela deve afinal ser mais igual para os nossos do que para as outros...

16 maio 2011

WE THE PEOPLE

Este poste merece que o título seja em inglês porque aquelas três palavras (Nós o povo) são precisamente as do início do preâmbulo da Constituição dos Estados Unidos. Esta fotografia foi tirada na segunda metade dos anos 60 numa qualquer cerimónia de gala em Washington D.C. presidida pelo presidente Lyndon Johnson (levantado, ao centro da fotografia), que aparece acompanhado pelo vice-presidente Hubert Humphrey sentado ao seu lado esquerdo. O título irónico justifica-se porque, até onde a vista alcança, de smoking e vestidos de noite, os figurantes da fotografia são os descendentes da classe social dos redactores que escreveram originalmente a expressão Nós o povo e não o povo propriamente dito por eles evocado nesse preâmbulo. Esses só aparecem noutras cerimónias, quando os votos se tornam necessários…

ASSUNÇÃO CRISTAS

Ela apresenta-se com aquele género de cortesia delicada que Paula Teixeira da Cruz não tem paciência de mostrar, distancia-se o suficiente dos assuntos que comenta para que não seja vista com a condescendência que merecem os envolvimentos apaixonados de Ana Gomes e a comparação com o opinativismo posado (mas não sustentado) de Joana Amaral Dias seria insultuoso, tudo considerado há que reconhecer que a deputada Assunção Cristas, a estrela em ascensão do universo político que rodeia Paulo Portas, está a criar um novo estilo de ferocidade no feminino na política portuguesa – escutemo-la com atenção e há sempre uma espécie de rosnar virtual associado às suas palavras. Em ela querendo, arrisca-se a ir longe.